Euro(pa), para onde vais?

A selecção portuguesa de futebol no Euro 2016 venceu a Croácia, mas não convenceu!

Os espanhóis votaram, mas pouco adiantaram!

Os britânicos aprovaram sair da União Europeia, mas ainda duvidam dessa panaceia!

Estas foram as três notícias que mais marcaram esta semana europeia e nenhum destes acontecimentos foi francamente conclusivo.

No futebol, mais uma vez assistimos a um jogo morno da nossa equipa, a contrastar com as investidas croatas a provocar o acelerar dos nossos batimentos cardíacos, até que Fernando Santos joga a sua habitual cartada final, com as substituições que se impunham, e o golo aparece. Já sabia que somos um povo de sofredores, mas já chega Fernando!

A sofrer estão igualmente os espanhóis, julgo que não tanto por terem sido eliminados no futebol do Euro 2016, mas porque após seis meses a aguardar uma solução governativa, que os partidos políticos bloqueavam, voltaram a eleições na expectativa que, desta vez, o resultado permitisse finalmente um Governo para Espanha.

Embora com algumas diferenças aritméticas, tudo ficou quase na mesma e, com os políticos espanhóis a manterem o mesmo discurso, ninguém sabe como irá acabar…

Entre muitas coisas que não se sabe como vão acabar está também o processo de desvinculação da Grã-Bretanha, após a vitória do “brexit” no referendo do último sábado. 72 por cento dos britânicos foi às urnas e 51,9 por cento decidiu sair da União Europeia. O resultado, embora não reflicta uma maioria expressiva, é a decisão maioritária do povo e, como tal, teve de ser respeitada pelo Primeiro-Ministro inglês, que já anunciou a sua demissão lá para Outubro deste ano.

Até aqui tudo bem não fora o facto de mais de três milhões de britânicos declararem, num abaixo assinado, não concordar com o resultado e quererem repetir o referendo. Situação que não apaga o facto de 17 milhões deles terem votado para sair, mas que levanta muitas dúvidas sobre o conteúdo dos discursos dos partidários do “brexit”, durante a campanha que antecedeu o referendo.

Além disso, os escoceses votaram maioritariamente pela sua permanência na UE, levando a sua chefe de Governo a considerar vetar o “brexit” agora aprovado no Reino Unido e a sugerir um outro referendo, desta vez para promover a independência da Escócia. Na mesma linha, o Sinn Féin (partido independentista da Irlanda do Norte) aproveitou a oportunidade para apelar à independência daquele território face à Grã-Bretanha, e à unidade com a República da Irlanda que se mantém no espaço da UE.

Enfim, algumas preocupações “acessórias” para a Coroa Britânica, que começa a ver a sua libra a desgastar-se nos mercados e as cotações económicas do País a sofrerem a pressão das agências de “rating”, embora tenha um banco central disponível para suportar este embate inicial.

Curioso ou não parece ser o papel dos governantes ingleses em não quererem acelerar o processo de saída, através da não evocação imediata do artigo 50º do Tratado de Lisboa, que regula a desvinculação de um país da União Europeia, em contraste com o tom mais apressado das declarações dos dirigentes das instituições da União.

Os britânicos querem começar por discutir as condições da secessão, dando-lhes tempo para reorganizarem os seus novos espaços económicos e financeiros, não abandonando o mercado europeu. Talvez uma solução “à inglesa”, um pé nos lucros e um pontapé nas despesas.

Embora os dirigentes europeus se oponham (agora) a discutir as condições de saída do Reino Unido, sem que lhes seja entregue a declaração formal de abandono da UE, não é certo que algumas pressões financeiras, económicas e sociais não os façam mudar de ideias…

Os portugueses, que mantêm um histórico Tratado com os ingleses desde o século XIV, estão bem recordados do atraso da sua revolução industrial, causado pela importação massiva de produtos manufacturados ingleses e pelos enormes privilégios comerciais concedidos à Inglaterra no século XIX, para além do célebre episódio do Mapa Cor-de-Rosa e do Ultimato dos nossos “aliados” ingleses a Portugal. Faz parte do passado, mas não do esquecimento.

Queremos pensar que os factos históricos tiveram o seu momento e que a actualidade se escreve por outras linhas. No entanto, esta mesma actualidade europeia, com nações a agirem ao serviço dos seus próprios interesses, está a reescrever o pior da nossa história colectiva. É preciso cuidado!

LUIS BARREIRA

 

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