Cristãos num só corpo em Macau
O habitual encontro de oração que todos os anos reúne as diferentes denominações cristãs presentes em Macau, por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, vai este ano decorrer apenas em formato virtual. A decisão foi tomada pelos organizadores, na sequência do agravamento da pandemia em várias cidades da vizinha província de Guangdong. A informação foi avançada a’O CLARIMpelo chanceler da diocese de Macau, padre Cyril Law.
A edição de 2022 do Encontro de Oração pela Unidade dos Cristãos estava originalmente agendada para o início da noite de amanhã, nas instalações da Escola Choi Kou, um estabelecimento de Ensino na dependência da Sheng Kung Hui, a província da Comunhão Anglicana em Hong Kong e Macau.
A descoberta de cerca de duas dezenas de casos de infecção pelo SARS-CoV2 em Zhuhai levou os organizadores do certame a optar pela prudência e a substituir o evento presencial por um encontro virtual. «O Encontro de Oração é o resultado de um esforço conjunto das denominações cristãs de Macau, e a Diocese não é mais do que um dos participantes. O vigário-geral da diocese de Macau, o padre Pedro Chong, tem estado muito envolvido na realização desta iniciativa ao longo dos últimos anos, em representação da Diocese. Esta semana foi decidido que o Encontro de Oração vai ser transmitido ao vivo, mas não vai contar com a presença dos fiéis devido ao aumento das preocupações com um eventual agravamento do panorama epidémico», esclareceu o padre Cyril Law.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que é celebrada anualmente no começo do novo Ano Litúrgico, teve início na passada terça-feira e prolonga-se até 25 de Janeiro. O certame tem este ano como mote uma passagem do Evangelho de São Mateus – «Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O» (Mateus, 2, 2) – e, para além do habitual Encontro de Oração, a Diocese convidou as diferentes paróquias a incluir orações especiais pela unidade dos cristãos nas celebrações eucarísticas do 3.º Domingo do Tempo Comum.
No último Domingo, após ter recitado a oração do Ângelus a partir da janela do Palácio Apostólico, o Papa Francisco convidou os católicos a oferecer «dificuldades e sofrimentos» pela causa da unidade dos cristãos, um desígnio secular que continua a iludir as melhores expectativas da Igreja. «Nós, os cristãos, na diversidade das nossas confissões e tradições, também somos peregrinos no nosso caminho para a unidade plena, e aproximámo-nos um pouco mais do nosso objectivo quanto mais fixarmos o nosso olhar em Jesus, o nosso único mestre», defendeu o Sumo Pontífice. «Durante esta semana de oração, oferecemos as nossas dificuldades e o nosso sofrimento pela unidade dos cristãos», acrescentou, dirigindo-se à multidão reunida na Praça de São Pedro.
O Papa vai encerrar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, como é tradição, com a celebração das Vésperas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma. Na cerimónia deverão estar presentes representantes de várias “Igrejas” e comunidades cristãs.
UNIDOS EM CRISTO
Este ano, coube ao Conselho das Igrejas do Médio Oriente, organização com sede em Beirute, no Líbano, preparar os textos para as orações ecuménicas que ao longo dos últimos dias mobilizaram milhares de fiéis de diferentes denominações cristãs. Ao longo da semana, católicos, ortodoxos, luteranos, baptistas, pentecostais e fiéis de outras denominações protestantes foram convidados a rezar com uma ênfase particular no desígnio da unidade entre os cristãos.
As divisões mais relevantes entre as “Igrejas” cristãs ocorreram em três momentos muito distintos. A primeira grande cisão remonta ao Século V, com a afirmação da Igreja Copta, na sequência dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia. Depois, no Século XI, com a cisão entre a Igreja Romana e as Igrejas Ortodoxas do Oriente, o edifício da unidade cristã voltou a tremer. O último grande momento de ruptura ocorreu no Século XVI, com a Reforma Protestante e a separação da Igreja Anglicana.
Os autores da proposta de reflexão que dá corpo à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos lembram que, apesar das diferenças nos ritos e nas liturgias, aquilo que une as diferentes “Igrejas” cristãs é muito mais forte do que aquilo que as separa: “Os cristãos são chamados a ser para o mundo um sinal de Deus, trazendo essa unidade que Ele deseja. Vindo de diferentes culturas, raças e línguas, os cristãos partilham em comum a busca por Cristo e o desejo de adorá-lo”, lê-se no manifesto do Conselho das Igrejas do Médio Oriente.
A Semana da Oração pela Unidade dos Cristão tem as suas raízes no final do Século XIX, quando o Papa Leão XIII encorajou a prática de um “oitavário de oração pela unidade”. Hoje com outra denominação, o oitavário começou a ser celebrado de forma regular em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, um presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao Catolicismo.
O Vaticano e o Conselho Mundial de Igrejas reuniram-se em 1966 para preparar em conjunto os textos para as orações ecuménicas e a Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos tornou-se um evento anual.
O “Ecumenismo” é o conjunto de iniciativas e actividades promovidas com o propósito de favorecer o regresso à unidades dos cristãos, estilhaçada no passado por cismas e rupturas. Em Macau, o diálogo ecuménico e inter-religioso tem vindo a ser reforçado ao longo dos últimos anos. Em Dezembro último, as cinco principais religiões com presença no território juntaram esforços para celebrar o 22.º aniversário da transferência da soberania de Macau, entre Portugal e a República Popular da China. A efeméride foi comemorada com um evento musical que juntou sete coros numa sala de espectáculos do Cotai.
Marco Carvalho