Santa Teresa de Ávila: “determinação determinada”

EM RESPOSTA A UM LEITOR

Santa Teresa de Ávila: “determinação determinada”

Um amável leitor, que leu a minha coluna intitulada “Santa Teresa de Ávila, mestra da oração” (O CLARIM, 11 de Outubro de 2024), pediu-me: «– Por favor, poderia explicar o significado da expressão popular de Santa Teresa “determinação determinada?”». Pois tentarei, com todo o gosto.

A expressão “determinação determinada” encontra-se com frequência nos escritos de Santa Teresa de Jesus: na sua “Vida”, em “Mansões” ou “Castelo Interior”, nas “Fundações” e, sobretudo, no “Caminho de Perfeição”.

Reflitamos sobre o significado da expressão e a sua aplicação ao caminho da oração.

DETERMINAÇÃO RADICAL

O contexto do caminho da oração são as reflexões de Teresa sobre a oração. Três circunstâncias importam em qualquer oração: quem fala, com quem e o que se diz (cf. “Caminho de Perfeição”, 25, 3). Diz-nos que a oração consiste mais em amar muito do que em pensar muito, que é um encontro de amizade com Deus, que é um verdadeiro amigo. A oração é humildade e amor. A oração fundamental é a experiência contínua da presença de Deus na nossa alma. A verdadeira oração, diz-nos o místico, manifesta-se nas boas acções.

Encontramos a expressão “determinação determinada” nos factos mais importantes de Teresa: quando entra no convento (“Vida”, 4, 1-2), quando faz a profissão religiosa (idem., 4, 3), quando funda o primeiro convento reformado (idem., 36, 1-9), e através do caminho da oração. (cf. Jesús Castellano Cervera, “Guiones de doctrina teresiana”).

A determinação determinada é uma boa atitude (virtude) de vida e é muito importante, particularmente no contexto da oração. Encontramo-la junto de outras virtudes importantes para a nossa Santa, como a humildade, o amor, o desapego, a magnanimidade e a fortaleza. Um especialista define a determinação determinada como “um acto de fortaleza cristã” (Castellano Cervera). A grande determinação é – podemos dizer – uma manifestação radical e vital de coragem, uma fortaleza paciente e perseverante. A determinação de Teresa abrange toda a vida, especialmente o caminho da oração através da vida.

A determinação determinada é uma resolução/decisão, contínua e firme, de lutar contra o pecado e de adquirir a virtude. É uma entrega total a Deus em todas as situações da vida, e sem qualquer reserva, apesar da nossa fragilidade confessada. É uma exigência da vida cristã ascética, necessária a todos os cristãos. A determinação determinada combate a mediocridade espiritual, ou a intenção piedosa, ou o desejo de ser santo. É uma decisão firme de entrega total a Deus, um movimento constante de conversão contínua e profunda.

A determinação fundamental: Conformidade total com a vontade de Deus. Teresa sublinha a importância essencial da virtude da obediência, sobretudo a obediência a Deus; também aos superiores (cf. “Caminho de Perfeição”, 18, 8). Convida as suas monjas – e nós – “a entregarmo-nos ao Senhor com a determinação com que Ele se entrega a nós” (“Caminho de Perfeição”, 16, 9). As monjas – todos os cristãos – levarão a cabo as suas decisões “se tiverem verdadeira ‘determinação’ de as cumprir” (“Caminho de Perfeição”, 32, 8). Exemplo que ela dá muitas vezes: Jesus no Jardim do Getsémani, disse a seu Pai: “Faça-se a tua vontade”, e cumpriu-a perfeitamente até morrer na cruz por nós (idem., 32, 6).

Quatro passos necessários para alcançar a “determinação determinada” e outras virtudes conexas. (1) Tomar uma resolução forte (explico sempre aqui e aos meus alunos a “determinação determinada” de Santa Teresa); (2) não abrir excepções; (3) actualizar a resolução com frequência, e (4) fazer diariamente – e generosamente – o exercício da resolução (William James).

DETERMINAÇÃO FIRME DE REZAR

É muito importante começar o caminho da oração com uma “grande determinação”, com “uma grande determinação de perseverar”, com “uma firme intenção”: Porquê? Porque é “muito importante” (“Caminho de Perfeição”, 23, 1). Importa porque, com esta determinação, o demónio não pode fazer muito para tentar, e porque estaremos sempre prontos para lutar e nunca olhar para trás. Além disso, e o que é mais, radicalmente, essencial: o Senhor ajuda sempre mais do que aquilo de que precisamos, e nunca nos abandonará (idem., 23, 4-5; cf. “Mansões”, II, 1, 6); “Deus nunca deixa de ajudar aquele que abandonou tudo por Ele” (“Caminho de Perfeição”, 1, 2). A água da fonte viva [Jesus] não nos faltará, embora nós possamos faltar-lhe.

No caminho da oração, “é preciso ir sempre com determinação, a ponto de morrer antes de abandonar o caminho”. “A alma que caminha com determinação percorreu uma grande parte do caminho” (“Vida”, 11, 13). É sempre necessária uma grande (e muita) determinação determinada para percorrer o caminho da oração até ao fim (“Caminho de Perfeição”, 20, n.os 2 e 5). Teresa encoraja as suas monjas a irem sempre em frente, sem desânimo, sem medo e sem os perigos e as dificuldades a enfrentar. E acrescenta: Avançar “mesmo que o mundo se afunde” (idem., 21, 2).

É difícil fazer isto? Parece difícil, talvez mesmo espantoso, mas não é! Tentamos rezar com a consciência limpa, a paz e a calma da alma (“Caminho de Perfeição”, 20, 5). Depois, mesmo a oração vocal recolhida (por exemplo, o Paternoster, exemplo de Teresa) pode conduzir, pela graça de Deus, à contemplação e à união com Deus: da primeira à sétima Mansão.

Teresa queria que as suas irmãs seguissem os passos das diferentes orações como um processo dinâmico e ascendente de interiorização da presença de Deus em cada uma. Este processo é profundamente apresentado no seu escrito mais sublime, o “Castelo Interior”: não ao pecado; sim, a Jesus; oração vocal e mental; oração pagadora de silêncio, contemplativa, de união e de matrimónio espiritual com o Amado.

As monjas da Madre Teresa estão isoladas no seu respectivo mosteiro, mas todas rezam e sacrificam-se pela conversão e salvação do mundo. “Por salvar uma alma no purgatório, eu ficaria no purgatório até ao juízo final” (“Caminho de Perfeição”, 3, 6). (Antes de morrer, Teresa pediu humildemente às suas monjas que a ajudassem a sair do purgatório!)

Palavras finais. Neste mundo, o Senhor só nos pede duas coisas: amor a Sua Majestade e ao próximo. “Que eu saiba, o sinal mais claro para mostrar que guardamos as duas coisas é cumprir bem o amor ao próximo: não podemos saber com certeza se amamos a Deus, embora haja grandes sinais para entender que O amamos; porém, podemos ter certeza do amor ao próximo” (“Mansões” V, 3 e 7-8).

Pe. Fausto Gomez, OP

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