Bonifácio: o “Apóstolo dos Germanos”
Hoje vamos retomar a vida e obra de São Bonifácio, missionário inglês que foi pioneiro na evangelização sistemática da Europa Central, incluindo a Alemanha, durante o Século VIII (menos de um século antes, os próprios ingleses haviam sido evangelizados por Santo Agostinho de Cantuária, o “Apóstolo dos Ingleses”). “Trinta e seis anos de trabalho missionário, sob condições difíceis e perigosas, terminando finalmente no martírio, dão a este homem bom e corajoso o direito à designação de ‘Apóstolo da Alemanha’” (Joseph Vann, “Lives of Saints”, John J. Crawley & Co, Inc).
O Papa Bento XVI conta-nos que Bonifácio “nasceu de uma família anglo-saxónica no Wessex, por volta de 675 e foi baptizado com o nome de Winfrid. Atraído pelo ideal monástico, entrou muito jovem no mosteiro. Possuindo notáveis capacidades intelectuais, parecia iniciado numa tranquila e brilhante carreira de estudioso: tornou-se professor de gramática latina, escreveu alguns tratados e compôs também várias poesias em latim. Ordenado sacerdote com cerca de trinta anos de idade, sentiu-se chamado ao apostolado no meio dos pagãos do continente” (Audiência Geral de 11 de Março de 2009).
Winfrid tentou primeiro, com alguns companheiros, difundir a fé na Frísia (actual Holanda), mas não conseguiu. Regressou a casa e, dois anos mais tarde, foi falar com o Papa Gregório II, que lhe deu um novo nome – Bonifácio. O Santo Padre enviou-o para a Alemanha e acabou por nomeá-lo Bispo de toda a Alemanha.
Embora a fé tivesse sido pregada ali, o povo ou tinha caído no paganismo ou tinha caído em doutrinas erróneas. Muitos dos clérigos eram pouco instruídos e frouxos. Chegou-se mesmo a duvidar da validade das suas ordenações.
Encorajado pelo apoio do Papa, Bonifácio conseguiu lutar contra o culto pagão e reforçar a moralidade. Era incansável no seu zelo, tinha um dom para a organização, era adaptável e amigável, mas firme. Isto deu-lhe grandes resultados.
Depois de ter sido consagrado Bispo, Bonifácio “estendeu a sua acção também à Igreja da Gália: com grande prudência restaurou a disciplina eclesiástica, proclamou vários sínodos para garantir a autoridade dos cânones sagrados, reforçou a comunhão necessária com o Pontífice Romano: um ponto que ele apreciava de modo particular” (Audiência Geral de 11 de Março de 2009).
Os Papas que sucederam depois de Gregório II (Gregório III, Zacarias, Estêvão III) também o apoiaram muito. Bonifácio trabalhou com dois objectivos: restaurar a unidade do clero com o Bispo e com o Papa; e estabelecer mosteiros beneditinos para servirem de casas de oração e centros de encontro entre a cultura cristã-romana e a cultura germânica. As monjas e os monges anglo-saxónicos seguiram-no até à Alemanha e aí conseguiu que as monjas beneditinas se dedicassem ao apostolado da educação.
Com quase oitenta anos, regressou à Frísia, onde havia falhado inicialmente, acompanhado por cerca de cinquenta monges. “Enquanto estava a começar a celebração da Missa em Dokkum (na hodierna Holanda setentrional), no dia 5 de Junho de 754, foi assaltado por um bando de pagãos. Avançando com fronte serena, ele proibiu que os seus combatessem, dizendo: ‘Filhinhos, deixai os combates, abandonai a guerra, porque o testemunho da Escritura nos admoesta a não pagar o mal com o mal, mas o mal com o bem. Eis o dia há muito almejado, eis que chegou o tempo do nosso fim; coragem no Senhor!’ (Ibid., págs. 49-50). Foram as suas últimas palavras, antes de cair sob os golpes dos agressores” (Audiência Geral de 11 de Março de 2009).
O Papa Bento XVI conclui: “Impressiona-me sempre este seu zelo ardente pelo Evangelho: com quarenta anos sai de uma vida monástica bonita e fecunda, de uma vida de monge e de professor, para anunciar o Evangelho aos simples, aos bárbaros; com oitenta anos, mais uma vez, vai a uma região onde prevê o seu martírio. Comparando esta sua fé ardente, este zelo pelo Evangelho com a nossa fé tão frequentemente tíbia e burocratizada, vemos o que temos que fazer e como renovar a nossa fé, para oferecer ao nosso tempo a pérola preciosa do Evangelho”.
Pe. José Mario Mandía