A Igreja Católica no México
Falta cerca de um mês para o Papa Francisco iniciar uma viagem apostólica ao México. Ocorrerá entre 12 e 18 de Fevereiro, repartindo-se entre a capital, Cidade do México, e três Estados daquela república federativa: Michoácan – Oeste, região tumultuosa –, Chihuahua – Norte, na difícil fronteira com os EUA –, e Chiapas – Sul, onde existe a menor densidade de católicos no País, além de guerrilhas zapatistas. Mas é uma viagem de missão, misericórdia e paz, refira-se. Trata-se de uma viagem a uma grande nação católica, mas com uma agenda intensa, em regiões sensíveis, de migração, questões indígenas e relativa erosão da Igreja face a um crescente sincretismo e ao avanço “agressivo” de igrejas evangélicas. Mas também é uma agenda de alegria, de festa e de vivências fortes. Ou não estivesse Sua Santidade numa nação como o México!
Dados sobre a Igreja Católica no México
O México é a segunda maior nação católica do Mundo. Se recordarmos que no mundo existem 1.100.000.000 católicos (15% da população mundial, que é de 7.349.000.000 habitantes, em dados de 2015) e que no México a população do País (2015) é de 126 milhões de habitantes (em 1,972,550 km2 de território), estamos de facto a falar de uma nação verdadeiramente católica e de grande expressão no seio da Igreja. A maior nação é o Brasil com 128 milhões de católicos, ou seja, 65% da população e 12% dos católicos do mundo. O México, segundo as últimas estatísticas, conta 97 milhões de fiéis, 85% da sua população, o que faz com os católicos mexicanos representem 9% da população católica mundial.
É curioso, que do outro lado do pacífico, no outro extremo da rota do histórico Galeão de Manila-Acapulco, aparece a terceira nação católica do Mundo, com uma estreita relação histórica com o México e a Igreja deste grande país Centro-americano: as Filipinas, com 76 milhões de fiéis, 85% da sua população nacional e 7% dos católicos do mundo. E a Norte do México, a quarta nação católica do Mundo: os EUA (76 milhões, 24% da população, 7% dos católicos do mundo).
História da Igreja no México colonial
A Igreja Católica está no México desde os alvores da colonização espanhola das Américas. Ou seja, desde as duas primeiras décadas do séc. XVI. A primeira missa em território mexicano foi celebrada em 1508.
Em 1518 criou-se a primeira diocese, dita de Tlaxcala (ou Carolense, em honra do rei Carlos I), no Yucatán (passou em 1539 para Puebla), pois teve mais tarde a sua sede naquela localidade. O primeiro bispo mexicano foi o dominicano frei Julián Garcés (1452-1547), mas sem efeito algum. A diocese do México, que corresponde à capital federal, foi criada em 1530 e em arquidiocese pouco tempo depois, em 1546, o que atesta o seu crescimento e vigor. O México foi um vice-reino espanhol até 1810, a mais rica das colónias hispânica, porventura. Nesse período, existiam mais nove dioceses no vice-reino.
Chegam os missionários a partir de 1524, franciscanos no caso. Os dominicanos aportam ao México em 1526, sete anos antes dos agostinhos. Estas três ordens mendicantes tiveram de facto grande expressão e labor evangélico na história da Igreja Católica no México e na sua “extensão asiática”, nas Filipinas. Os jesuítas, igualmente importantes, só chegarão em 1572, quando o mapa de dioceses da província eclesiástica de México estava já mais dividido e a cristianização mais implantada. Até 1572 muitos historiadores consideram o período da “conquista espiritual” no México, alavancada no projecto de colonização espanhola designada por época dos “Conquistadores”. Desta época recorde-se a grande figura que foi frei Batolomeu de Las Casas (1474-1566), missionário dominicano espanhol, defensor dos indígenas e denunciador da opressão colonizadora no Sul do País (Chiapas), onde fora designado bispo em 1544.
Até à independência do México (1821), muitas dioceses foram sendo criadas, muitas missões foram estabelecidas (famosas as dos franciscanos no Norte do País, onde despontou a figura de frei Junípero Serra, 1713-84), como também foi erigida a Real e Pontifícia Universidade de Guadalajara.
A Igreja na nação mexicana
Apesar dos problemas gerados pela Constituição de 1857 (até fins do séc. XIX) e das suas leis reformistas, em que a Igreja mexicana sofreu um abalo, esta não deixou de crescer, como se vê no alargar do mapa das dioceses e missões do País. Os conflitos entre o Estado e a Igreja têm sido frequentes, mesmo sendo um Estado laico e com separação entre as instituições. Na década de 20 do século XX assistiu-se porém a conflitos religiosos, a chamada Guerra Cristera, entre os camponeses católicos e o Governo Federal, na sequência das leis constitucionais de 1917, que suprimiram ordens religiosas e cancelaram todas as formas de culto. Tudo terminou num acordo entre a Igreja e o Estado. Em 1993 foi promulgada uma lei de reconhecimento das associações religiosas no Pais, reatando-se as relações diplomáticas com a Santa Sé.
A maior parte dos mexicanos considera-se cristão, na sua maioria católicos. Existem outras vertentes do Cristianismo, protestante, de rito oriental ou ortodoxo, em virtude também dos movimentos de imigração. Apesar de se assistir a um relativo abrandamento do crescimento da Igreja no México, em virtude da proliferação de sincretismos religiosos e de grupos evangélicos ou “New Age”, da laicização ou secularização, o País permanece uma grande nação católica. Podemos afirmar que existe uma forte componente popular e sincrética no Catolicismo mexicano, numa fusão de elementos e formas peculiares por vezes de adoração a Deus. A Paixão de Cristo e a celebração do Dia dos Mortos assumem-se, por exemplo, sob reinterpretações muito próprias e folclóricas até, com elementos pagãos e festivos, mas sempre no marco católico que as define. Apesar de ser basicamente em Espanhol (pontualmente em Latim), língua oficial, cada vez mais a Igreja se abre às línguas ancestrais, ditas “indígenas”. Terminemos com a devoção nacional e patriótica dos católicos mexicanos: a Virgem de Guadalupe, padroeira das Américas e grande fenómeno de culto desde 1531 (aparição em Nahua, a Juan Diego).
Vítor Teixeira
Universidade Católica Portuguesa