Descobrindo o coração do Papa

A oração à maneira de Francisco

«Deixem-me dizer-vos algo de muito pessoal…». Em mais do que uma vez o Papa Francisco sentiu-se deslocado de si próprio. Através destas observações espontâneas pudemos dar uma vista de olhos ao coração do Papa. Deixem-me fazer uma lista de algumas coisas que ali vimos.

No alto da lista está a grande percepção de ser um filho de um Pai extremosamente amante e misericordioso. Uma vez mais, numa das suas últimas homilias, há poucos dias atrás, ele disse: «Não há pecado que (Deus) não perdoe. Ele perdoa tudo… Se te arrependeres (confessares) Ele perdoará tudo». E então repetiu pela enésima vez que «Deus nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir perdão».

Ainda temos a sua profunda devoção ao Santíssimo Sacramento. O Santo Padre uma vez disse: «Penso – disse isto humildemente – que os cristãos perderam um pouco do sentido de adoração, e nós pensamos: vamos à Igreja, vamos todos juntos, como irmãos – o que é bom, é óptimo! – mas esse é o lugar em que Deus está. E adoramos Deus». De facto, ele nunca perde o seu encontro de uma hora com Jesus antes da missa matinal e da Adoração da Eucaristia das 7 às 8 da noite.

O Espírito Santo nunca está muito atrás nas suas prioridades. Quando o Sumo Pontífice chegou a Manila e viu as imensas multidões que se tinham juntado para lhe dar as boas vindas (as estimativas variam entre 1 a 3 milhões de pessoas), ele confidenciou ao cardeal D. Tagle: «O Espírito Santo vai ter que trabalhar bastante para tocar os corações de todas estas pessoas que aqui vemos».

A seguir à Santíssima Trindade vem a sua devoção à Santíssima Virgem Maria. S. João Paulo II inspirou-o a rezar todos os mistérios do Terço, todos os dias. Sempre que sai de Roma ele passa pela igreja de Santa Maria Maior onde reza durante cerca de meia hora, fazendo o mesmo quando regressa de viagem.

Na área de Leyte, devastada pelo tufão, ele recomendou aos fiéis: «Deixem-nos olhar para a nossa Mãe e, como pequenas crianças, deixemo-nos envolver no seu manto e de coração sincero digamos: “Mãe”. Em silêncio, digamos à nossa Mãe o que sentimos nos nossos corações».

  1. José também faz parte da lista das suas devoções. Quando falou com as famílias em Manila ele admitiu: «Gosto muito de S. José. Ele é um homem forte no seu silêncio. Na minha secretária tenho uma imagem de S. José adormecido. Enquanto S. José dorme cuida da Igreja. Sim, ele pode fazer isso. Nós sabemos disso. Quando tenho um problema ou uma dificuldade escrevo o facto num pedaço de papel e coloco-o debaixo da estatueta, de forma de que ele possa dormir sobre o problema».

Durante o voo do Sri Lanka para as Filipinas tivemos a possibilidade de ver o interior da alma do Papa Francisco. Uma jornalista de uma publicação francesa, Caroline Pigozzi, surpreendeu-o ao oferecer um baixo relevo de S. Teresa ao Santo Padre. Muitas das pessoas a bordo puderam ver a reacção deleitada do Pontífice. Ele explicou: «Tenho o hábito de, quando não sei como as “coisas” se vão passar, pedir a S. Teresa do Menino Jesus, dizendo-lhe que se tomar conta do problema, ou algo do género, que me envie uma rosa. Também fiz esse pedido para que nesta viagem, se ela tomasse conta dos acontecimentos, me enviasse uma rosa. Mas em vez de enviar uma rosa, Ela veio em pessoa ter comigo para me cumprimentar».

E o que isto nos diz do Papa Francisco? Muitas pessoas vêem-no como um reformador hiperactivo, mas esse não é o Francisco real. Na realidade, muitos dos seus comentários espontâneos mostram-nos uma devoção profunda de uma inocência infantil.

Ainda há mais: o reconhecimento de ser um pecador (muito pouco usual para um Papa, mas tão instrutiva para nós). No voo de regresso a Roma ele reconheceu: «Ver todo aquele povo de Deus, ali de pé, rezando, depois da catástrofe que se abateu sobre eles, pensando nos meus pecados e nos destas pessoas, senti-me comovido, foi um momento muito comovente. Durante a missa senti-me esmagado, quase não conseguia falar». Ele estava a pensar nos seus pecados! Durante a missa o padre reza: «Não olheis aos meus pecados, mas à Fé da vossa Igreja…».

Confiança infantil e o conhecimento de si próprio como sendo um pecador são condições essenciais para umas orações efectivas. Este facto leva-nos não apenas a solicitar, nem dizer apenas: «Dê-me isto, dê-me aquilo. Assim seja!». Isto leva-nos a adorar, a ser grato, a pedir perdão, mas também a ouvir. Sim, a ouvir! Este é um aspecto das orações que muitas vezes nos esquecemos.

Esta foi mais uma lição que aprendemos com o Papa Francisco. Ele disse às vítimas da catástrofe de Leyte: «Não sei o que dizer, mas de certeza que Ele saberá o que vos dizer! A cada um de vós o Senhor vos responderá do fundo do Seu coração, na Sua Cruz». Neste momento de oração deixem-nos aprender a dizer-Lhe: Diz-me o que me queres dizer. Diz-me o que eu preciso de ouvir. E deixemo-nos de pressas em acabar a conversa com Ele. Dêmos-Lhe tempo para que nos possa responder.

Se oramos dessa forma Ele revelar-nos-á os seus planos. Durante a conversa com as famílias o Sumo Pontífice ressaltou a importância deste tipo de oração: «Se não rezarmos», disse ele, «nunca saberemos a coisa mais importante de todas: O que Deus deseja para nós. E em todas as nossas actividades, nos nossos negócios, sem fé e orações teremos muito poucos resultados».

No dia 27 de Janeiro ele fez esta pergunta, numa homilia na Casa de Santa Marta: «Eu rezo a pedir que Deus me dê o desejo de seguir os seus desejos, ou rezo a solicitar compromissos, porque tenho medo dos desígnios de Deus? Outra coisa: rezar para conhecer os desígnios de Deus para a mim e a minha vida é uma decisão pertinente que deve ser tomada agora… há tantas coisas… A forma como lidamos com as coisas… Rezar pelo desejo de cumprir os desígnios de Deus e rezar para que conheçamos esses desígnios. E quando eu souber os desígnios de Deus, rezar de novo pela terceira vez para o confirmar-mos o que sentimos. Para podermos cumprir os Seus desígnios, que não são os meus, mas os Dele… e isso não é fácil».

Os Evangelhos dizem-nos que Jesus sempre falou por meio de parábolas: «Ele nunca lhes disse nada sem uma parábola (Mateus 13:34)». Nem sempre os apóstolos compreenderam as parábolas. Quando se encontravam a sós com Jesus pediam-Lhe «que nos explicasse as parábolas (Mateus 15:15)».

Deus fala connosco através das parábolas da vida diária. Mas nós temos de arranjar um pouco de tempo e sentarmo-nos com Ele e deixar que Ele nos explique as suas parábolas.

Pe. José Mario O. Mandía

(Tradução: António R. Martins)

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *