D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA COSTA

D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA COSTA

Simplicidade de Vida como expressão da sua vivência da Humildade

Recordo D Arquimínio não tanto pela perspectiva histórica. Outros, reconheço, poderão concretizá-lo de maneira mais exacta, objectiva e interessante… Lanço-me, antes, no arquivo das minhas próprias memórias. Memórias, talvez escondidas e ignoradas aos olhos da sociedade em geral ou menos consideradas mesmo por aqueles que o conheceram mais de perto, mas que poderão trazer à luz realidades que mostram a grandeza da sua pessoa.

A Consagração de D. Arquimínio teve lugar no ano de 1976. Em finais de Setembro do mesmo ano chegava eu, a Macau, como escolástico da Companhia de Jesus, depois de ter terminado os meus estudos de Humanidades e Filosofia, na Faculdade, em Braga. Chamou-me particularmente a atenção a decisão corajosa de D. Arquimínio de deixar o Paço Episcopal, de facto mais parecia um pequeno palacete, no topo da Colina de Nossa Senhora da Penha, para ir viver num quarto muito simples, junto aos seus companheiros Sacerdotes, num edifício, de construção mais recente, anexo ao antigo Seminário de São José.

O facto deixa patente uma característica muito própria da sua personalidade, a Humildade nas suas atitudes e no trato com os outros… Embora possuindo uma inteligência fina, sendo culto e versado em línguas, nunca me apercebi nele modos arrogantes e muito menos de desdenho ou menosprezo para com alguém. Sempre o conheci discreto e afável para com todos, pobres ou ricos, importantes ou desconhecidos, homem ou mulher, jovem ou idoso…

A Simplicidade de Vida, igualmente tão notória no modo de viver de D. Arquimínio, surge, ao fim e ao cabo, como expressão da sua vivência da Humildade.

Ao longo dos anos fui-me apercebendo, mais profundamente, de que ele se tornava um Sacerdote de Deus e Bispo ao Serviço dos Outros, dentro e fora da Igreja.

Chegamos a 1985, em finais de Outubro…

Arquimínio é convidado, oficialmente, a visitar a República Popular da China, particularmente as igrejas da Comunidade Católica. Acompanham-no uma delegação da diocese de Macau, composta de padres, madres e leigos, mulher e homem. Porém, apesar de ser o primeiro bispo estrangeiro a receber tal Convite do Departamento de Assuntos Religiosos, não se deixa cair naquela muito subtil vã glória que facilmente afecta os homens de autoridade nem entra em qualquer jogo político ou manobra diplomática. Assume com inteligência e cordialidade a questão de fundo ainda não resolvida da União entre a Igreja universal, sob a liderança do Santo Padre, e a Igreja local na China. Expressa com coragem e humildade o seu desejo de encontrar o bispo emérito de Xangai, o que lhe é concedido. Juntos rezam e, com todos os presentes, cantam a tão tradicional “Salve Regina”. Momento profundo, cheio de presença de Deus…

Mais uma vez, D. Arquimínio, silencioso e humilde, dá um passo seguro naquilo que, hoje, todos consideram ser a orientação mais certa e própria para chegar à Unidade da Igreja, o “Caminho da Reconciliação”.

Por último, a sua Resignação em 1988 está cheia de significado. Ele deixa a sua Cadeira Episcopal para dar lugar ao primeiro Bispo de Macau, de origem chinesa, D. Domingos Lam. Um gesto de humildade profunda, rico de sentido de Igreja. Na História da Igreja, sempre foi uma constante ver como, tarde ou cedo, as igrejas matrizes ou dioceses-mães dão origem a novas dioceses, como suas Filhas. Sim, é certo que a diocese de Macau acarreta consigo, no Oriente, o título de “Igreja Mãe” de muitas dioceses. Creio, contudo, que a decisão de D. Arquimínio traz consigo algo bem mais radical. A mudança implica deixar mesmo a sua Língua, a sua História e a sua Cultura, e dar preferência e integrar-se mais na Realidade e no Mundo da Cultura Chinesa. A Igreja na China tem de se tornar Chinesa… Não é esta a orientação que o Concílio Vaticano II nos convida a pôr em prática quando nos fala de Inculturação na vivência do ser Igreja?

Não foi D. Arquimínio, na Humildade e na Simplicidade da sua Vida, um Profeta? Aquele que viveu com autenticidade as palavras do Evangelho: “o grão de trigo tem de morrer para dar fruto”….

Pe. Luís Sequeira, SJ

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