D. Arquimínio Rodrigues da Costa

O ÚLTIMO BISPO PORTUGUÊS DE MACAU NASCEU HÁ CEM ANOS

D. Arquimínio Rodrigues da Costa volta a ser homenageado nos Açores

O Santuário do Bom Jesus Milagroso, na paróquia de São Mateus, na ilha açoriana do Pico, acolhe na próxima segunda-feira, 8 de Julho, uma homenagem a D. Arquimínio Rodrigues da Costa, o último bispo português a governar a diocese de Macau. O tributo, que ficará marcado por Eucaristia presidida pelo bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, e pelo descerramento de uma lápide, materializa-se no dia em que se cumpre o centésimo aniversário do nascimento do antigo prelado, falecido na ilha do Pico a 12 de Setembro de 2016.

Após a Eucaristia de 8 de Julho, o Santuário irá acolher uma conferência de Manuel Goulart Serpa sobre a vida e a obra de D. Arquimínio. O legado do último bispo português de Macau está quase que por inteiro ligado ao território, onde chegou com apenas catorze anos de idade e ao qual dedicou mais de cinquenta anos, primeiro como seminarista, depois como sacerdote e reitor do Seminário de São José. Por último, como governador da diocese de Macau. «Era um adolescente quando veio para Macau. Veio ainda jovenzinho, no grupo daqueles sacerdotes com raízes na Beira Alta, em Trás-os-Montes ou nos Açores, que durante várias décadas serviram a diocese de Macau», recorda o padre Luís Sequeira, SJ, em declarações a’O CLARIM.

No caso de D. Arquimínio, as portas do Oriente e do Sacerdócio abriram-se por intercessão de monsenhor José Machado Lourenço. Natural de Cinco Ribeiras, em Angra do Heroísmo, o sacerdote, historiador e etnógrafo foi instrumental na vinda para o território de nomes incontornáveis da Igreja local, como o padre José Barcelos Mendes, o padre Áureo de Castro ou José Silveira Machado. De entre eles, apenas D. Arquimínio atingiu a dignidade episcopal, cargo que exerceu com grande humildade e grande sentido de responsabilidade. «Era um homem inteligente e culto. Alguém que se apercebia muito bem das circunstâncias que o rodeavam. Não era propriamente dinâmico e transformador. Essas não eram características que lhe pudessem ser assacadas. Era um homem muito discreto, com uma relação muito correcta, muito afável e com um sentido de Deus muito grande. A forma como agia era sempre guiada por um sentido muito sacerdotal», refere o padre Sequeira.

Ordenado sacerdote a 6 de Outubro de 1949, depois de ter concluído os estudos de Teologia três meses antes, D. Arquimínio Rodrigues da Costa assumiu funções variadas nas décadas que se seguiram ao serviço da diocese macaense e do Seminário de São José, onde leccionou Filosofia, antes de assumir a liderança da instituição. Aluno do antigo prelado açoriano, o padre João Lau lembra um homem inteligente, humilde e sempre pronto a ajudar. «Pessoalmente tenho muitas saudades dele. Foi meu professor de Filosofia no primeiro ou no segundo ano, se bem me recordo. De qualquer maneira, foi meu professor de Filosofia. Naquela altura, aprendíamos Filosofia em Latim. Era extremamente difícil», nota o hoje pároco da igreja de São Lázaro. «Foi também reitor do Seminário, depois do padre Juvenal Garcia. Era uma pessoa muito boa, muito humilde. Alguém que estava sempre disponível para ajudar os alunos e os outros», acrescenta.

O Cabido da Sé de Macau elegeu-o como vigário capitular da Diocese, a 14 de Junho de 1973, e três anos depois, o Papa Paulo VI nomeou-o bispo de Macau, sucedendo ao também açoriano D. Paulo José Tavares. D. Arquimínio foi ordenado epíscopo a 25 de Março de 1976 na igreja da Sé Catedral, ainda que estivesse convicto de que não estaria à altura da dignidade do cargo. «Como bispo, era uma pessoa muito humilde. No princípio, pelo que sei, ele não queria aceitar a nomeação. Mas alguém lhe terá dito que não era mais do que a vontade de Deus e ele acabou por se conformar. Mas fez chegar por várias vezes ao Santo Padre a intenção de renunciar ao cargo. Fê-lo por várias vezes logo nos primeiros anos. Deixou o cargo sem que tivesse atingido a idade prevista para tal no Direito Canónico, os 75 anos. E sabe porquê? Há uns anos li uma homilia que proferiu numa igreja do Pico; dizia que sempre que ia a conferências episcopais, havia sempre alguém que lhe perguntava: “Porque é que o Bispo de Macau ainda é português?”», conta o padre João Lau.

UM LUGAR NA HISTÓRIA

A 6 de Outubro de 1988, o Papa João Paulo II aceitou finalmente o pedido de resignação de D. Arquimínio, não sem que antes este se tornasse protagonista de um momento histórico. Em 1985, D. Arquimínio tornou-se o primeiro bispo estrangeiro a visitar a República Popular da China, a convite das autoridades do Continente. «O nosso D. Arquimínio foi o primeiro bispo estrangeiro a ser convidado oficialmente a visitar a República Popular da China e a inteirar-se da vida da Igreja no País», começa por sublinhar o padre Sequeira, que integrava a comitiva que se deslocou a Pequim, Xangai e Nanquim. «Foi uma visita bastante discreta, sem cerimónias e celebrações religiosas. Estivemos na Basílica da Imaculada Conceição, em Pequim, mas não houve concelebração eucarística. Houve, isso sim, em Xangai, um momento muito importante. Na altura, o bispo de Xangai, D. Ignatius Kung Pin-Mei, estava sob forte monitorização e com os movimentos limitados. Então o nosso bispo disse: “Eu quero vê-lo!”», recorda o Antigo Superior da Companhia de Jesus em Macau.

Depois de mais de meio século ao serviço da Igreja em Macau, D. Arquimínio fixou residência em São Mateus do Pico, em Janeiro de 1989, onde o padre João Lau fez questão de o ir visitar. «Há alguns anos fui aos Açores com a Academia de Música São Pio X e aproveitei para visitar D. Arquimínio. Na altura, ele ainda estava com boa saúde. Ainda se lembrava de como falar Chinês. Falou comigo em Cantonense. Era uma pessoa muito boa e era alguém muito inteligente», remata o sacerdote.

A 7 de Novembro de 1988, antes ainda de regressar a Portugal, D. Arquimínio Rodrigues da Costa foi condecorado por Mário Soares, então Presidente da República Portuguesa, com o grau da Grã-Cruz da Ordem de Mérito.

Marco Carvalho

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