Imagem milagrosa sobrevive a todas as vicissitudes
O monsenhor Eduardo Chávez, cónego da Basílica do Santuário de Santa Maria de Guadalupe, no México, e membro-fundador do Instituto Superior de Estudos Guadalupanos, foi entrevistado, a 6 de Novembro, pela agência católica de notícias ACI PRENSA. A iniciativa deveu-se à proximidade de um evento de oração pela celebração dos cem anos do milagre ocorrido junto da imagem de Nossa Senhora na tilma de Juan Diego, após um atentado a 14 de Novembro de 1921. Já no passado dia 27 de Outubro, o monsenhor Chávez havia falado em directo do Santuário, num evento organizado pelo Museu da Basílica de Guadalupe, no âmbito de um ciclo de conferências intitulado “Controvérsias Guadalupanas – a força unificadora de Santa Maria de Guadalupe”.
O monsenhor Eduardo Chávez é o maior estudioso e conhecedor contemporâneo das aparições de Nossa Senhora de Guadalupe, tendo sido postulador para a causa da canonização de São Juan Diego. O sacerdote passou por Macau em Setembro de 2019 e não deixou indiferente a comunidade religiosa local durante uma palestra que proferiu sobre o “fenómeno Guadalupano” na igreja do Seminário de São José.
O monsenhor é um enamorado da Virgem Santíssima, das suas aparições no México, que datam de 1531, e da imagem milagrosa na tilma de Juan Diego. É um apóstolo fervoroso para o mundo em honra da Santa Mãe de Deus. A tilma, um tipo de tecido pobre feito de fibras de cacto, com uma longevidade média de pouco mais de vinte anos, sobrevive inexplicavelmente, neste caso em particular, há quase quinhentos anos e após ter já sofrido um atentado explosivo.
CEM ANOS APÓS O ATENTADO
Hoje, sexta-feira, no México, o Instituto Superior de Estudos Guadalupanos irá transmitir em directo, pelas 19:00 horas (em Macau será sábado, 9:00 horas da manhã), um encontro de oração sob o tema “Rosário do Amor Guadalupoano”, pelos cem anos do atentado contra a imagem da Virgem de Guadalupe, deixada na tilma de Juan Diego.
Em declarações à ACI PRENSA, o monsenhor Eduardo Chávez afirmou: «Este dia 12 de Novembro celebramos o “Rosário do Amor Guadalupano”. Vamos ter em mente e nos nossos corações aquele momento histórico terrível e assustador, quando tentaram destruir a imagem da Virgem de Guadalupe». E acrescentou: «O Cristo que estava no altar, à sua frente, foi quem recebeu o impacto da bomba que ali foi colocada, no dia 14 de Novembro, exactamente há cem anos, em 1921».
Desde então, o povo mexicano venera com especial devoção o Cristo Crucificado que protegeu a Sua Mãe da explosão, estando este guardado na Basílica de Guadalupe.
O sacerdote mexicano encoraja todos a unirem-se a esta oração: «É um momento forte para aprofundarmos a nossa fé, graças a Santa Maria de Guadalupe».
O atentado foi levado a cabo por Luciano Pérez. Entrou na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, aproximou-se do altar e colocou um buquê de flores junto da imagem milagrosa. Havia dinamite escondido entre as flores que explodiu assim que Luciano saiu da basílica. A explosão foi tão grande que desintegrou a escada de mármore da capela-mor, destruiu os castiçais de metal e dobrou o enorme crucifixo no altar. Inexplicavelmente, a imagem não sofreu nenhum dano, nem um risco no vidro que a protegia, embora as janelas das casas mais próximas se tivessem partido.
CICLO DE CONFERÊNCIAS
No passado dia 27 de Outubro, o monsenhor Eduardo Chávez falou em directo da Basílica do Santuário de Santa Maria de Guadalupe para o mundo, pelo canal oficial do Instituto de Estudos Superiores Guadalupanos no YouTube, no âmbito do ciclo de conferências intitulado “Controvérsias Guadalupanas – a força unificadora de Santa Maria de Guadalupe”.
«Estamos aqui para falar de um dos temas-chave de todo o acontecimento guadalupano: a Mulher que une, que unifica e nos une a Jesus Cristo, Nosso Senhor. Isto é o mais importante, pois existem muitas razões para pensar que mais há para nos dividir», começou por sublinhar o monsenhor Chávez. Para ele, é importante entendermos o que nos comunica a imagem da Virgem na tilma, em que o anjo agarra uma ponta do seu manto esverdeado com estrelas, o que simboliza todo o Universo; e com a outra mão agarra a túnica cor “roxa salmão”, que simboliza a Terra. «A unidade que se dá entre o Céu e a Terra, que se dá com a Santíssima Virgem de Guadalupe, a qual corresponde com o seu rosto “mestiço”, significa a unidade entre todos os povos. Como disse a São Juan Diego: “Sou a Mãe de todos”. Está a falar de todo o continente americano e das mais variadas nações; de todos os que nela confiam, que a amam, que a buscam».
O sacerdote enfatizou que a imagem milagrosa não é somente mais um quadro, uma pintura, mas «uma carta de amor por parte de Deus». Referiu também que o nome com que se auto-intitulou, “Santa Maria de Guadalupe”, une o Judeu e o Árabe – Maria é de origem judia e Guadalupe de origem árabe. Com o seu nome – explicou – ela quer-nos dizer que unifica todas as raças da Terra: «Os judeus e os árabes são as raças religiosas mais importantes que existem no mundo».
O monsenhor salientou que não se pode constituir um povo, uma cidade, uma civilização, sem primeiro edificar um templo. Assim, quando a Virgem de Guadalupe disse a Juan Diego «quero muito uma casinha sagrada», para «manifesta-Lo a Ele», para «oferecer-Lhe a Ele» o «meu amor Pessoa», entendeu perfeitamente Juan Diego que lhe pedia um templo.
Mais: o nome dado com que a Virgem se auto-intitulou “Santa Maria de Guadalupe”, «a quem foi revelado? Com quem se une, com um nome tão significativo? Nada mais que ao tio ancião de Juan Diego, Juan Bernardino», apontou o sacerdote, que acentuou ainda por que razão lhe foi revelado: «O idoso é a raiz, ele é a fortaleza e a sabedoria, o idoso é a autoridade para os indígenas», disse.
«Quero muito uma casinha sagrada». Entendeu-se que se tratava de um templo, de uma igreja, mas também da Família, pois «como sabemos nós católicos… é a igreja doméstica», destacou.
Em suma, no entender do monsenhor Eduardo Chávez, Santa Maria oferece-nos Jesus através da sua imagem na tilma e com flores que são o sinal para o Bispo. As flores – realçou – surgiram milagrosamente no monte Tepeyac, pedregoso e sem vida, que significava “morte”. Neste contexto, o sacerdote recorreu a uma alegoria: «Aí surge a vida de Deus através das flores, que “imprimem” a imagem da Virgem de Guadalupe centrada em Nosso Senhor Jesus Cristo na tilma de Juan Diego, que simboliza a pessoa humana; e nas mãos do bispo porque foi quem pediu o sinal».
A concluir o vídeo, com a emoção que o acompanha sempre que fala da Mãe de Deus, o monsenhor exultou: «Nossa Senhora de Guadalupe é um beijo de Deus aqui na Terra para cada um de nós. A Nossa Mãe une-nos àqu’Ele que tudo pode. E por isso disse: “Não tenhas medo. Não estou eu aqui, que tenho a honra de ser tua mãe?”. A Mãe de Deus é a Nossa Mãe».
Miguel Augusto
LEGENDA:
Monsenhor Eduardo Chávez na igreja da Sé Catedral, em Macau.
FOTO:
Miguel Augusto