PRESENÇA CATÓLICA NO LUXEMBURGO

PRESENÇA CATÓLICA NO LUXEMBURGO

A Igreja ao lado do Castelo de Colmar-Berg

Nesta que é a primeira crónica a partir do Luxemburgo, faço questão de começar por vos trazer um pequeno templo que pela sua simplicidade está entre os meus preferidos do País e que já visitei noutras ocasiões de passagem pelo Grão-Ducado.

Muitos leitores esperariam que o mais natural fosse começarmos pelas igrejas e templos da capital (a Cidade do Luxemburgo) mas como em quase tudo sobre o que vos escrevo vamos antes por um caminho diferente.

Existe uma comuna (o mesmo que as nossas freguesias), pertencente ao cantão (distrito) de Mersch, de nome “Colmar-Berg”. É bastante conhecida por ter uma das maiores fábricas de pneus da Europa e também porque é ali que os Grão-duques têm a sua residência oficial.

A unidade fabril pertence à multinacional Goodyear e emprega milhares de trabalhadores, entre eles, grande parte da população de Colmar-Berg.

Sob a jurisdição da arquidiocese do Luxemburgo e da igreja (pressupomos que se trata de uma paróquia) de São Sebastião de Ettelbruck, a igreja de São Miguel é um edifício simples, perfeitamente integrado na arquitectura local e na planta habitacional da localidade. Guarda ainda um extenso cemitério católico que testemunha o legado da tradição religiosa deste povo e a sua devoção aos Santos da Igreja Católica.

A igreja de São Miguel é um edifício religioso de pouca ostentação, apesar de nos oferecer um lindíssimo órgão de tubos. As linhas simples da sua arquitectura, que não atraem à partida, são compensadas pelo facto da igreja ficar a poucos metros da residência oficial dos Grão-duques do Luxemburgo. Os monarcas deste pequeno país escolheram o Castelo de Colmar-Berg para residência oficial da “família real”, uma tradição que já vem desde o período em que o Luxemburgo era parte integrante do Reino dos Países Baixos. Mais tarde, com a independência do Grão-Ducado, a rainha Wihelminan vendeu o castelo ao seu primo, o Grão-duque Adolfo do Luxemburgo.

Durante o decorrer dos anos o castelo foi alvo de várias intervenções, à medida das necessidades de cada época.

Quanto à igreja de São Miguel, que está paredes-meias com o castelo, foi também alvo de muitas alterações ao traçado original – umas vezes foi destruída, e outras reconstruída pelas autoridades eclesiásticas e civis locais, por forma a satisfazer a vontade da população que sempre guardou o pequeno templo num local muito especial das suas devoções católicas.

O que podemos apreciar actualmente pouco ou nada tem a ver com a planta original porque a cada reconstrução foram sendo acrescentados outros detalhes. A maioria foram extensões e alterações efectuadas à ideia original, que resultaram no singelo templo que hoje é possível apreciar por quem visita Colmar-Berg. Foi sempre apadrinhado pelos monarcas reinantes, sendo por eles visitado frequentemente.

Colmar-Berg fica a uns escassos trinta quilómetros da capital, na confluência dos rios Alzette e Attert, e é uma vila cheia de história. Ali podemos ver vestígios do período em que o Luxemburgo fazia parte do Reino dos Países Baixos e também marcas do período em que o País esteve sob o domínio nazi. Aliás, a igreja de São Miguel foi usada pelos militares para variadas funções que nada tinham a ver com a sua vocação. Desse período poucos registos existem e nada em concreto se conhece, pois infelizmente nesta zona a limpeza de vestígios, levada a cabo pelo poder nazi, foi bastante eficiente. No entanto, numa pesquisa mais aprofundada a relatos de sobreviventes que viviam no local, ficámos a saber que o edifício, assim como o Castelo de Colmar-Berg, foram ambos ocupados pelas forças invasoras.

Da comuna e das suas origens ancestrais pouco se sabe e a informação oficial quase nada ajuda. Sabe-se que fôra um local com uma diminuta presença humana até aos Séculos XVI/XVII, altura em que ali foram criadas algumas fundições rudimentares que ajudaram a fixar alguma mão-de-obra. Ainda assim, nunca passou de umas quinze famílias. O primeiro aumento exponencial deu-se quando o monarca dos Países Baixos comprou o castelo, a um nobre fundidor local, e decidiu demoli-lo para construir um completamente novo. As obras, apesar de terem contribuído para a dinamização do crescimento da população local, não foram suficientes para manter um aumento demográfico sustentável e, em 1917, com o encerramento das fundições, a população diminuiu.

Só mais tarde, com a instalação da fábrica da Goodyear, em 1951, é que a população local voltou a registar um forte crescimento. A fábrica emprega actualmente mais de três mil trabalhadores, sendo que na comuna vivem, segundo números oficiais, dois mil e seiscentos.

Uma parte considerável da população, apesar de não haver números oficiais, é de origem portuguesa. Tal pode ser constatado na rua com a frequência com que se houve a língua de Camões e com a quantidade de estabelecimentos de comida e de bebida que são propriedade de emigrantes portugueses.

Para quem se interessar por esta região e queira ficar a conhecer um templo católico fora dos centros turísticos, a viagem de trinta minutos de comboio (é gratuita, uma vez que todos os transportes públicos no Grão-Ducado são gratuitos…) entre a Cidade do Luxemburgo e Colmar-Berg vale bem a pena. A igreja de São Miguel, juntamente com o Castelo de Colmar-Berg, que fica a escassos metros das traseiras do templo, são razões mais do que suficientes para um dia em cheio e completamente diferente do habitual.

João Santos Gomes

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