“Crime e castigo”

“Crime e castigo”

FÉ CRISTÃ ORTODOXA É TEMA RECORRENTE NAS OBRAS DE DOSTOIÉVSKI

“Crime e Castigo”, ontem, hoje e sempre. Um romance/ensaio de forte cariz introspectivo, onde a angústia se situa entre um nihilismo sufocante e uma ânsia de redenção existencial e espiritual.

A fé cristã ortodoxa é um tema recorrente nas obras de Dostoiévski, porque ele acreditava na missão da Rússia como redentora do ocidente laicizado, responsável por espalhar novamente a mensagem do Evangelho, o que vai acontecer nesta obra com a presença da personagem Sónia.

Assim, não obstante o castigo pelo crime praticado, há lugar a uma ressurreição espiritual e moral em Raskólnikov, personagem principal do livro, a partir das leituras sagradas e do amor por Sónia, uma pobre mulher que não tinha erudição histórica, era uma pecadora, mas possuía muita fé em Cristo redentor e tinha um coração cheio de amor. Na perspectiva de Dostoiévski tudo tem um significado religioso e o povo russo, apesar dos seus pecados, é para ele o santo povo de Deus.

Um misto de romance e ensaio sobre a moral e a relação do indivíduo com a sociedade que o cerca, neste caso uma Rússia extremamente moral e católica, czarista e aristocrática.

Um cunho muito pessoal, um escritor que sofreu as vicissitudes duma vida ausente de amor materno e paterno, da enfermidade da epilepsia que o acompanhou até à morte, da prisão na Sibéria por questões políticas, acompanhado por grandes criminosos e em condições deploráveis material e espiritualmente. Os contornos políticos eram agitados, a sua vida foi violentamente atormentada, mas a sua alma russa de homem com fé nunca vacilou e a certeza da imortalidade sempre foi o seu maior conforto. “O homem seu Deus destrói-se a si próprio e destrói a humanidade”, conclui o nosso autor.

A vida de Dostoiévski foi tão trágica como as suas obras, mas foi também um terreno fértil para uma imaginação que aliada aos seus dotes literários permitiram-lhe chegar ao fundo do abismo e dele se erguer ancorado na existência de Deus. Para ele, esta certeza é a garantia de que o Bem, a Liberdade e a Verdade existem e são um apanágio do Ser Humano, que é portador da imagem e semelhança divina. “Se Deus não existe, tudo é permitido, e o homem não se agiganta mas avilta-se, corrompe-se e apequena-se”.

SUSANA MEXIA 

Professora

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