Um doente com esperança
Paulatinamente, a Europa, ao longo do século XX, foi perdendo a sua alma, a sua essência, a sua identidade.
Não obstante o seu desenvolvimento económico, os progressos científicos e tecnológicos e a abundância de bens materiais, o seu fundamento inicial foi sendo minado e corroído por uma forte pressão ateia, anti-religiosa até, que a aculturou e fez com que se sentisse envergonhada das suas origens, das suas raízes, do seu património moral e espiritual que a acompanhou ao longo dos séculos.
“A Europa perdeu a sua nobreza. A fealdade invade todas as estruturas das sociedades. A pretensão e o orgulho são males graves. Já não se procura a verdade. O mal e o bem são confundidos. A mentira já não tem vergonha de si própria; de certa forma, exibe-se com orgulho. A palavra é transformada em utensílio de guerra económica e financeira. Vive-se na confusão. Criam-se palavras novas, mas não se lhes quer dar nenhuma definição precisa. Já não se sabe o que é um homem e o que é uma mulher. O sexo já não é uma realidade objectiva. Não se pára de redefinir a família, o casamento e a pessoa.” (…) “Todas as civilizações que ignoram a eminente dignidade da pessoa humana desapareceram. Hoje, como no tempo do Império Romano, a Europa manipula, comercializa, brinca com a vida do homem, criando assim condições para o desaparecimento de si própria”.
“A recusa da vida, o assassínio das crianças que estão para nascer e dos deficientes ou dos idosos, o desmoronamento da família e dos valores morais e espirituais – eis o que constitui o primeiro acto de suicídio de todo um povo”.
No seu recente livro – “A noite vai caindo e o dia já está no ocaso” – o seu autor, cardeal D. Robert Sarah, faz uma pertinente e corajosa reflexão sobre a crise profunda em que nos mergulharam, colocando na sua origem a recusa da presença de Deus na vida pública.
Sem um pilar forte, sem o fundamento social e político do Cristianismo, todos os Estados estão destinados, mais cedo ou mais tarde, a desmoronarem-se. Numa ditadura do relativismo, de liberdades sem fim, de vertiginosa corrida ao hedonismo consumista e alienador, a catástrofe parece inevitável.
Porém, há muitas luzes a surgir ao fundo do túnel, sente-se um movimento vivo de esperança a renascer por toda a Europa, em milhares de jovens e não só, descontentes com a mediocracia e com todas as tentativas politicas de bloquear o Ser Humano, retirando-lhe a capacidade de crescer em humanidade, de amar a vida, o mundo e a Deus sobre todas as coisas.
As utopias morrem, os impérios desmoronam-se, as filosofias esvanecem-se e as fragilidades humanas, mais cedo ou mais tarde, reclamam horizontes de mudança, de alento supremo, de luz e de salvação.
“Mane nobiscum Domine” – “Fica connosco Senhor”, porque se faz tarde, a Europa está a chegar ao fim e só o nosso Deus nos pode salvar, abrindo os caminhos divinos na terra, impregnando-os de sementes de paz, amor e justiça.
Susana Mexia
Professora