CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CXLVIII

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CXLVIII

Os Amish – III

Os grupos mais tradicionalistas ficaram conhecidos como Amish da Velha Ordem. São os que se mantêm integralmente Amish, sem aditamentos nem mitigações no seu estilo de vida, iguais a si próprios desde sempre. Mas como vimos, dois terços do grupo que se cindiu no último terço do século XIX derivaram maioritariamente para a raiz menonita ou, alguns, laicizaram-se, ou seja, integraram-se na sociedade americana.

Uma das cisões mais antigas começou um pouco antes da ruptura de 1865. Os chamados “Egli Amish” já tinham começado a separar-se da igreja Amish em 1858. Era o resultado da vontade de vários grupos em abandonar os velhos costumes. Mais tarde, em 1908, assumiriam a denominação de “Defenseless Menonites” (“menonitas sem protecção, defesa…”).

Algumas outras congregações amish que não se incluíram na divisão após 1865 viriam a formar, em 1910, a Conferência Menonita Conservadora Amish. Em 1957, a palavra “Amish” foi retirada.

A denominação de Egli Amish deriva de Henry Egly (1824-1890), fundador da referida Defenseless Menonite Church (a partir de 1948, Menonitas Evangélicos; depois de 2012, Sociedade, ou Irmandade, das Igrejas Evangélicas). Foi para os Estados Unidos com quinze anos, em 1839, com o seu pai, tendo-se estabelecido no Condado de Butler, Ohio, onde foi baptizado aos dezassete anos e por isso tornado membro da Igreja Menonita Amish. Casou-se em 1849 com Katherine, filha de Joseph Goldsmith, bispo da igreja Amish no Condado de Lee, Iowa. Tiveram oito filhos, duas raparigas e seis rapazes. Após dois anos de residência em Butler, os Eglys transferiram-se para o Condado de Adams, Indiana, onde viveram até morrer. Egly foi ordenado diácono da sua igreja em 1850, e em 1854 tornou-se pregador. Antes desta etapa teve vários problemas de saúde, mas conseguiu recobrá-la e concretizar a aspiração de poder pregar na sua igreja.

Egly defendia a importância do conhecimento que o indivíduo deve ter de si e da necessidade de espiritualidade para a conversão e regeneração, além do cuidado na recepção de novos membros na igreja.

Após a ordenação como bispo da sua congregação em Janeiro de 1858, Egly continuou a enfatizar a necessidade de uma experiência religiosa vital, o que provocou a adesão de cerca de metade da sua congregação aos seus ideais. Mas claro que muitos que o não seguiram, bem como membros de outras congregações, pediram-lhe para renunciar ao seu trabalho pastoral. Egly não desistiu e fundou assim uma congregação separada, autónoma, em 1866. A mensagem de Egly, ou melhor, o seu movimento, chegaria a outras comunidades amish, tendo a sua congregação, os Egli (o nome na forma alemânica) Amish, crescido.

A tradição recorda Egly como um orador dinâmico e com uma personalidade radiosa, que atraía com o seu estilo e mensagem. Como um bom amish, mas com maior ênfase, assentava a sua doutrina numa maior necessidade de estudo da Bíblia e na possibilidade de se obter a segurança da salvação. Morreu em 23 de Junho de 1890, em Genebra, Indiana. A sede da sua congregação, a Irmandade das Igrejas Evangélicas, é em Fort Wayne, no Indiana.

 

QUE LÍNGUA FALAM OS AMISH?

 

Como já vimos, não ocorreu nenhuma divisão nos remanescentes amish na Europa. As congregações amish que permaneceram no Velho Continente seguiram o mesmo caminho que os menonitas amish na América do Norte, fundindo-se lentamente com os menonitas. A última congregação amish na Alemanha a fundir-se foi a congregação Amx Ixheim, que se fundiu com a vizinha igreja menonita em 1937. Pode-se, no entanto, referir que algumas congregações menonitas na Europa, incluindo a maioria na Alsácia, descendem directamente de antigas congregações amish. Na Alsácia e na região norte de Jura, na actualidade, subsistem 31 congregações menonitas de ascendência amish, na maioria, com pouco mais de dois mil membros.

Mas voltemos aos amish tradicionais, americanos, que mantêm a sua velha marcha de vida intocada, a sua “ordnung”, o corpo de regras pelos quais se regem. É importante referir que cada distrito, ou comunidade regional, enquanto conjunto de famílias residindo em quintas isoladas, assumem algumas variações da “ordnung”, mas sem alterar o espírito amish. O grau de severidade na sua interpretação, e logo no seu cumprimento, pode pois variar um pouco.

Os amish falam Inglês e um dialecto do Alemão, designado como “Alemão da Pensilvânia”, ou “Pennsylvania Dutch”. Existem algumas semelhanças com alguns dialectos do Alemão falados na Europa, embora o Alemão da Pensilvânia inclua várias palavras em Inglês. Existem acentos e sotaques, maneiras de falar, que podem variar entre as comunidades. Além disso, temos também os chamados “amish suíços”, encontrados principalmente em Indiana, que falam um dialecto de Alemão suíço que difere do que é falado pela maioria dos amish. Podem existir, de facto, dificuldades de entendimento entre um amish de Indiana, a falar Alemão suíço, e um que fale Alemão da Pensilvânia.

O Pennsylvania Dutch não é por norma uma língua escrita, mas tem havido tentativas para transcrever o idioma para uma forma escrita, e mesmo alguns amish ou linguistas tentaram fazer dicionários, além de alguns livros escritos no dialecto. Mas atenção, os amish falam Inglês também, embora sejam monolingues até começarem a escola. Por exemplo, um amish escreve uma carta normalmente em Inglês, ainda que com muitos termos na sua língua “alemã”. Entre si falam em “Alemão”, os mais novos já usando o Inglês mais vezes do que os anciãos, por exemplo. Mas todos usam o Inglês para falar, comunicar ou negociar com os “ingleses”, isto é, os não-amish. Tal como fazem os menonitas, principalmente os mais tradicionalistas.

Hoje em dia os amish falam em Inglês se alguém que esteja fisicamente próximo deles não falar a sua língua. Muitos chama à sua língua “holandês” (Ducth) da Pensilvânia, uma “corrupção” do Holandês (o Neerlandês, melhor dito, tem também origem no alto-Alemão, Deustch, como a língua dos amish). As crianças amish aprendem Inglês na escola. Em casa, só se fala Alemão da Pensilvânia. A primeira língua que uma criança amish aprende é o “Alemão”. Maior parte das crianças tem uma exposição limitada ao Inglês antes de entrar na escola amish, onde o ensino é em Inglês, juntamente com algumas aulas de “Alemão”. Muitos ficam proficientes em Inglês desde cedo, mantendo-o devido ao crescente contacto com os “ingleses” e também com os negócios. Mas a Bíblia, as orações e cânticos, continuam em “Alemão” amish, como o livro das suas canções (o “Ausbund”).

Vítor Teixeira 

 Universidade Católica Portuguesa

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