CARITAS BANGLADESH E A THE JUTE WORKS NO COMBATE À POBREZA

CARITAS BANGLADESH E A THE JUTE WORKS NO COMBATE À POBREZA

A fibra vegetal que salva vidas

A Caritas Bangladesh comemorou recentemente meio século de existência, tendo assinalado a efeméride com um congresso em Daca, no qual participaram cerca de mil pessoas, incluindo membros do Governo e vários bispos católicos, como noticia o periódico Daily Star.

Na verdade, a Caritas Bangladesh foi fundada em 1967 como ramo oriental da Cáritas paquistanesa; porém, na sequência do devastador ciclone de 1970, seria reorganizada e daria origem, em 1973, à Organização Cristã para a Ajuda e Reabilitação(CORR), actualmente conhecida como CORR Jute Works (CJW), entidade pioneira na rede de comércio justo no Bangladesh e que praticamente se confunde com a própria Cáritas do País, daí a efeméride.

Desde o início, este projecto de inspiração católica pretendeu contribuir para a emancipação das mulheres e melhorar o seu estatuto social e económico através da formação e do trabalho manual. E essa continua a ser a filosofia. Ou seja, nos seus estatutos, a CJW defende “o desenvolvimento e a dignidade dos desfavorecidos e excluídos, especialmente as mulheres das comunidades indígenas”. E a verdade é que até hoje mais de seis mil mulheres bangladeshianas, das mais diversas etnias e credos, beneficiaram das iniciativas dessa organização. Foi o caso da hindu Antu Rani Sarkar, de 58 anos de idade, originária de uma família muito pobre. Graças à formação profissional fornecida pela CWJ pôde dar educação aos dois filhos e comprar o terreno onde construiu casa. «Se assim não fosse, ainda hoje estaria a lutar, única e exclusivamente, pelo meu sustento diário», diz.

A católica Jenevy Mondol e a muçulmana Alya Akter relatam similares experiências. A primeira, cujo marido trabalha na construção civil, admite a incapacidade de ter podido sustentar adequadamente a família apenas com o magro rendimento do companheiro. «Hoje sou respeitada», declara, «porque, como mulher, através do meu trabalho, dou uma contribuição à minha família e à sociedade». Quanto a Alya, que com a sua mãe – ela colaborou com a CJW durante três décadas – aprendeu a fazer produtos de juta, vai recordando que o seu salário não só lhe assegura os gastos do dia-a-dia como também o apoio ao marido, inválido devido a um acidente vascular cerebral. «Bendito o dia em que aprendi a profissão com a minha mãe! Agora também posso trabalhar na CJW», afirma, com gratidão.

No discurso de boas-vindas ao referido congresso, Sebastian Rosario, presidente da CJW, lembrou o fito inicial da organização: proporcionar «uma fonte permanente de rendimento às mulheres e viúvas no país devastado pela guerra». Presente na cerimónia, o arcebispo de Daca, D. Bejoy Nicephorus D’Cruz, evocando o espírito de Jesus Cristo, «que nos ensinou a alimentar os famintos, abrigar os desabrigados e a vestir os despidos», explica ao jornalista do Daily Star: «a CJW dá dignidade às mulheres, desenvolve as suas competências e elas, assim, munidas dessa ferramenta, dão um contributo decisivo às suas famílias». E conclui: «muitas famílias pobres conseguiram alcançar a auto-suficiência familiar através desta instituição. A CJW não alimenta os pobres, antes possibilita-lhes os meios para que eles próprios comprem os alimentos que necessitam». Também o ministro dos Têxteis e Juta, Golam Dastagir Gazi, ex-aluno do estabelecimento católico Notre Dame College, não poupou elogios às actividades da CJW. Disse ele: «a CJW inspirou as mulheres de Bangladesh a ingressar no mercado de trabalho. Hoje, milhões de mulheres trabalham em fábricas ou indústrias têxteis, contribuindo assim para a economia do País. A CJW apoiou milhares de mulheres nos últimos cinquenta anos. Expresso a minha total gratidão à Caritas Bangladesh por esta iniciativa».

A organização, que ao longo dos anos ganhou prémios nacionais e internacionais graças à qualidade do seu artesanato, emprega hoje milhares de artesãos, quase exclusivamente mulheres das zonas rurais. Fruto das actividades da CJW, existem mais de duzentas cooperativas de artesãos no Bangladesh, espalhadas por trinta províncias, envolvendo um total de quase seis mil pessoas. As cooperativas de artesãos são autónomas na gestão das suas actividades, mas podem contar com apoio central do Estado. A CJW fornece apoio socioeconómico e complementa a produção e venda de artesanato com programas para melhorar vários aspectos da vida nas aldeias, onde as artesãs recebem formação em gestão cooperativa (organização, administração e contabilidade).

O principal elemento utilizado no trabalho artesanal é a juta, uma fibra ecológica, económica, dúctil e muito versátil. Embora a sua utilização tenha diminuído significativamente ao longo dos anos em favor dos produtos sintéticos, os artesãos da CJW têm conseguido valorizar o seu papel graças à produção de objectos originais e ecológicos, que ainda despertam bastante interesse no mercado internacional. Graças à rede de Comércio Justo, os produtos de juta são exportados para quarenta países, sobretudo países europeus. Além de artigos em juta, a CJW produz também estatuetas de terracota, cestos de tecido, velas, anéis, brincos, bolsas e tapetes pintados à mão, tabuleiros de madeira e roupas tradicionais.

O Bangladesh continua a ser um dos países mais densamente povoados do mundo, com elevadas taxas de pobreza, onde as mulheres vivem à margem da sociedade.

Joaquim Magalhães de Castro

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