BEATIFICAÇÃO DO PATRIARCA ESTÊVÃO EL DOUAIHY

BEATIFICAÇÃO DO PATRIARCA ESTÊVÃO EL DOUAIHY

«Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o cedro do Líbano»

Inspiradora, a frase que deu início à homilia proferida pelo cardeal D. Marcello Semeraro, no decorrer da solene celebração litúrgica da beatificação de Estêvão El Douaihy (1630-1704), Patriarca de Antioquia da Igreja Maronita.

Na cerimónia, que teve lugar a 2 de Agosto e contou com a presença do actual Patriarca maronita, Bechara Boutros Al-Ra’i, marcaram presença mais de dez mil pessoas que encheram as instalações da sede patriarcal de Bkerki, incluindo centenas de padres, religiosos e religiosas de todas as dioceses maronitas do mundo. Ao traçar o perfil do novo Beato, D. Marcello Semeraro, actual Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, expressou também o desejo de que «o Líbano continue a ser um lugar onde homens e mulheres possam viver em harmonia e paz uns com os outros». Um desejo que, infelizmente, tendo em conta o momento que atravessa o Médio Oriente, parece de muito difícil concretização. Mas subsiste a esperança, à semelhança da que tinha o novo Beato Estêvão, a figura mais grada da Igreja Maronita durante mais de três décadas; e isto, em tempos difíceis de perseguição externa e várias dissensões internas. Durante esses longos anos, pode-se dizer que Estêvão não conheceu um único dia de paz. A tão desejada Paz que hoje, uma vez mais, parece ser um objectivo inalcançável. No entanto, não havia amargura no coração de Estêvão. Pelo contrário, ele costumava dizer àqueles que o maltratavam e perseguiam: “Perdoo-vos tudo aquilo que vocês me fizeram. E pronto estou para sofrer ainda mais, em nome do amor a Deus Nosso Senhor, que sofreu e morreu por mim”.

A memória de Estêvão Douaihy é celebrada há séculos pelos seguidores da Igreja Maronita e a sua história entrelaçar-se-ia com todas as tribulações vividas pelos cristãos maronitas ao longo dos tempos.

Nascido a 2 de Agosto de 1630, em Ehden (Norte do Líbano), no seio de uma família nobre, Estêvão estudou Árabe e Siríaco com onze anos apenas, tendo ingressado depois no Seminário Maronita de Roma, onde obteve o Doutoramento em Filosofia e continuou as suas pesquisas em torno de manuscritos que versavam a história e a liturgia maronita. A 25 de Março de 1656 – regressado à sua terra natal – foi ordenado padre. Estêvão exerceria o seu apostolado em diversas paróquias no Líbano e na Síria, sobretudo em Aleppo, empenhando-se na ajuda aos pobres e “numa contribuição activa em prol do diálogo entre as Igrejas Orientais e a Igreja Católica”. Seria nessa época nomeado missionário da Propaganda Fide.

No seguimento de uma visita à Terra Santa, em 1668, foi ordenado bispo e destacado para a ilha de Chipre. Dois anos depois, a 20 de Maio, é eleito Patriarca dos Maronitas. Tinha apenas quarenta anos de idade. Na sua qualidade de Patriarca, Estêvão El Douaihy (Istifan al-Duwayhi, em Árabe) apoiou o renascimento das ordens religiosas maronitas, que doravante passaram a adoptar as regras monásticas (alinhadas com os regulamentos em vigor no mundo latino), em consonância com os ensinamentos de Santo Antão, o precursor do Monaquismo e padroeiro dos animais. Devido à perseguição e assédio da parte dos poderes públicos, Estêvão foi frequentemente forçado a refugiar-se em mosteiros nas montanhas ou nas cavernas de Wadi Qannoubine. Morreria em Qannoubine, vale de Kadisha, a 3 de Maio de 1704, tendo sido enterrado na caverna de Santa Marina.

O Beato Estêvão também manteve intensa actividade intelectual, publicando importantes escritos sobre a liturgia e história maronita, os mistérios da fé católica, sermões e outras obras filosóficas e teológicas.

Considerado um dos maiores historiadores libaneses do Século XVII, era conhecido como “O Pai da História Maronita”, “Pilar da Igreja Maronita”, “O Segundo Crisóstomo”, “Esplendor da Nação Maronita” e “A Glória do Líbano e dos Maronitas”.

Abriu caminho para a sua beatificação a cura milagrosa de Rosette Karam, mãe de três filhos, que sofria de poliartrite reumática soronegativa que a deixara incapacitada e desmoralizada, a ponto de levá-la a interromper todo o tratamento. A sua cura “instantânea, completa e duradoura” ocorreu após uma oração familiar diante da estátua do Patriarca situado em frente à igreja de Ehden, a terra natal de Estêvão, como já referido. “O principal protagonista da invocação” – relata a documentação divulgada pelo Dicastério para as Causas dos Santos – “foi o vizinho que, junto com alguns membros da Fraternidade da Imaculada Conceição, conduziu a doente até a estátua do Venerável Servo de Deus que ficava perto de sua casa e de imediato começou a rezar”. Segundo um rito local, o amigo convidou a doente a tomar um café no qual havia sido misturada terra recolhida aos pés da estátua do Patriarca, o que ela fez com grande devoção. Depois de beber o café, Rosette sentiu uma forte sensação de ardume, levantou-se e começou a caminhar sozinha em direcção à estátua para agradecer a Estêvão. Logo depois, Rosette andou mais um quilómetro até chegar à casa da sua irmã, a quem anunciou pessoalmente a notícia da cura.

Joaquim Magalhães de Castro

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