Ida às boxes
Não, este artigo de hoje não é sobre o Grande Prémio de Macau. No entanto, todos os que conhecem um pouco do desporto motorizado sabem o que é uma “ida às boxes”. A Wikipédia define uma ida às boxes como sendo o momento em que um veículo de competição pára na sua “box” durante uma corrida para se reabastecer de combustível, trocar de pneus, efectuar pequenas reparações, acertos mecânicos, mudança de piloto ou cumprir uma penalização.
E o que uma ida às boxes tem a ver com a vida espiritual? Muito. Assim como nos carros, necessitamos de ir às boxes. O mês de Novembro é, de facto, uma espécie de ida às boxes no calendário litúrgico da Igreja, onde Ela nos convida a uma pausa e a reflectirmos sobre o que nos espera no fim das nossas vidas e assim podermos fazer as necessárias alterações e mudanças. «Porque aqui nós não temos uma cidade duradoura, almejamos a cidade que está para vir (Hebreus 13:14)». O desafio mais importante da vida necessita de momentos destes.
Nunca vos aconteceu tomarem o autocarro e estarem tão absorvidos com um livro ou o telemóvel que se esqueceram para onde iam? Este tipo de coisas acontece a muitos durante a caminhada da vida. Santo Agostinho dizia: «Bene curris, sed extra viam» (indo a bom ritmo, mas fora de pista). É por essa razão que o salmo assim reza: «Ensina-nos a numerar os nossos dias de forma a podermos conseguir um coração pleno de sabedoria (Salmo 90:12)». Precisamos de um lembrete, diário, para verificarmos a nossa situação.
Muitos santos recomendam a prática do exame – de consciência – diário. Dois ou três minutos devem ser suficientes.
O exame de consciência não é uma forma introspectiva psicológica de cada um. É um tempo de oração, onde entregamos a nossa alma ao Médico Divino. Quando o piloto de corridas faz uma paragem nas boxes entrega o carro à sua equipa. Nós também devemos fazer o mesmo. Devemos permitir que o Espírito Santo examine a nossa alma de forma a que Ele nos possa dizer se temos vivido de acordo com os planos de Deus: «Ninguém compreende os desígnios de Deus senão o Espírito de Deus (Coríntios 2:12)». O Espírito Santo ajuda-nos a examinarmo-nos “à Luz da Palavra de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, 1454). Ele ajuda-nos a olhar para o exemplo de Jesus, que nos convida: «aprendam comigo, porque sou brando e de coração humilde, e vós encontrareis descanso para as vossas almas (Mateus 11:29)».
Além disso, o Espírito Santo dá-nos coragem para enfrentar a realidade e sermos francos para com nós próprios. Provavelmente existem coisas que preferíamos não ter que admitir. «Assim sendo, o Espírito Santo ajuda-nos com as nossas fraquezas (Romanos 8:26)».
Armando-nos com muita ousadia para aceitarmos a verdade podemos dar o primeiro passo em direcção à cura total. E assim estaremos em condições de dizer ao nosso Pai, “LAMENTO”.
Esta contrição faz-nos tomar as nossas decisões para evitarmos ofende-LO, por pensamentos, palavras e/ou actos. O Senhor perscruta os nossos pecados (os vossos e os meus). E depois de nos ter ouvido em confissão, Ele diz-nos: «Ide e não volteis a pecar (João 8:10-11)».
O exame de consciência não revela apenas os locais dolorosos da nossa alma. Também nos mostra o quanto Deus nos abençoa de tantas formas variadas. Aqueles que acreditam que Deus é o melhor pai que existiu desde sempre «sabem que, em tudo, Deus apenas trabalha para o bem (Romanos 8:28)».
As coisas a que chamamos “boas” e as coisas a que chamamos “más” (ou “azar”) são ambas bênçãos no esquema divino das coisas. Sendo propriedade oferecida e santificada ajudam-nos a obter aquela felicidade que todos desejamos do fundo dos nossos corações. O conhecimento dessas bênçãos constantes leva-nos a dizer: «OBRIGADO! Sois um Pai magnífico (Salmo 34:1)».
Por isso, reservemos um tempinho, no final de cada dia, para sintonizarmos as nossas almas.
A corrida para o Paraíso merece ser ganha!
Pe. José Mario Mandía
(Tradução: António R. Martins)