A santidade está nos detalhes
«Simão, Eu tenho algo a dizer-te», disse o Senhor ao fariseu que O tinha convidado (Lucas 7:40).
«O que é, Mestre?», perguntou Simão.
Então Jesus começou descrever os detalhes (as pequenas coisas) que Simão, um homem respeitável, se tinha esquecido: «Tu não me deste água para lavar os meus pés… Tu não me deste um beijo… Tu não me ungiste a cabeça com óleo… (Lucas 7:44,45,46)».
A lavagem dos pé (especialmente dos convidados recém-chegados de uma viagem) e o beijo de saudação, eram costumes de cortesia. A unção da cabeça com óleo era um sinal de grande deferência e cortesia. Simão tinha negligenciado todos.
“Jesus reparou na omissão das expressões de cortesia e requinte humanos que o fariseu deixou de lhe demonstrar”, escreveu São Josemaría Escrivá no seu livro “Amigos de Deus”.
Para se ser Santo precisamos de aprender a ser uma senhora ou um cavalheiro. Ser uma senhora ou um cavalheiro significa prestar atenção às pequenas coisas e aos mínimos detalhes.
“Não desprezes as pequenas coisas, porque com a tua prática de negação contínua de ti próprio e dessas pequenas coisas – que nunca são fúteis ou triviais – com a graça de Deus aumentarás a tua fortaleza e a resiliência do teu caracter. Dessa forma, começarás por conhecer-te a ti próprio, depois serás um guia, um chefe, um líder: para dominares, instares e inspirares outros, com as tuas palavras, o teu exemplo, os teus conhecimentos e o teu poder” (São Josemaría, Caminho, n.º 19).
No livro “O Poder do Pequeno”, Linda Kaplan Thaler e Robin Koval dizem que “se nós não pudermos cuidar dos pequenos detalhes, como é que podemos pensar em corresponder quando for realmente importante?”. Segundo os autores, necessitamos de prestar atenção aos “pequenos detalhes que, se descurados, podem comprometer uma campanha promocional de muitos milhões de dólares, ou desestabilizar os nossos relacionamentos mais importantes”.
Na verdade isto não é nenhuma novidade, não é? Há mais de dois mil anos, Jesus não só elogiou como prometeu o Paraíso ao homem que é fiel nas pequenas coisas. «Fizeste bem, meu bom e fiel servo; tens sido fiel nas pequenas coisas, Eu destinar-te-ei a muito mais: a entrares na felicidade do teu Mestre (Mateus 25:23)».
Se os pequenos detalhes são importantes, os negócios terrenos têm um papel ainda maior na vida espiritual.
“Queres realmente ser santo? Cumpre com o pequeno dever de cada momento, faz o que deves fazer e concentra-te no que fazes” (Caminho, n.º 815).
Onde encontramos esses pequenos detalhes? Por toda a parte. Em casa, no trabalho, na cozinha, quando estamos na rua, no salão de baile, no supermercado, no autocarro, na Igreja.
O Papa Francisco tem-nos muitas vezes encorajado a usar aquelas pequenas frases e palavras que constroem uma casa: “Por Favor”, “Dá Licença?”, “Posso”, “Desculpe”, “Obrigado”. De facto, estas frases simples são muito úteis em todas as ocasiões.
E seja em casa, no trabalho, ou no nosso relacionamento social, todos sabemos que existe uma grande distância no significado entre um pequeno trejeito de desprezo e um pequeno sorriso amável.
É necessário algum esforço para controlar um momento de impaciência, mas a longo termo teremos os benefícios desse esforço. Uma máxima chinesa diz: “Se alguém puder suportar a pressão por um momento, esse alguém não se preocupará por uma centena de dias”.
A tecnologia tornou possível fazermos muitas coisas de forma mais eficiente. Mas isso não é desculpa para não gastarmos algum tempo a compor e a verificar os e-mails que enviamos. Quando estava a trabalhar na minha tese ficava espantado com os e-mails que recebia do meu conselheiro (tem vários livros escritos, em várias línguas). E cada um não era apenas positivo e encorajador: assegurava-se de que não havia erros de redacção e ele próprio emendava os parágrafos.
Quando tomamos uma refeição em casa, ou num restaurante, levamos apenas um momento para rezar uma pequena acção de graças, antes e depois da refeição. Mas isso pode ser a nossa contribuição diária para uma nova evangelização. Até podemos nunca ter a oportunidade de pregar para multidões, mas teremos mostrado o que é a Fé.
Quando existe amor, especialmente amor de Deus, reparamos nos detalhes. “As grandes almas prestam muita atenção às pequenas coisas” (São Josemaría, Caminho, n.º 818).
Mantendo o nosso interesse nos pequenos detalhes da vida, avançamos devagar, mas seguramente, no caminho da santidade. Não importa quão devagar vamos. O que interessa é darmos um pequeno passo da cada vez. Como diz o provérbio chinês, “não tenhas medo de ir devagar, mas teme ficar parado!”.
Pe. José Mario Mandía