Deixe a bondade de Deus brilhar diante dos outros

5º DOMINGO COMUM – Ano A – 5 de Fevereiro

Deixe a bondade de Deus brilhar diante dos outros

«Vós sois a luz do mundo. Uma cidade edificada sobre um monte não pode ser escondida. Igualmente não se acende uma candeia para colocá-la debaixo de um cesto. Ao contrário, coloca-se no velador e, assim, ilumina a todos os que estão na casa. Assim deixai a vossa luz resplandecer diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus» (Mt., 5, 14-16)

Com vinte e poucos anos costumava escalar montanhas. Num Verão, três amigos e eu planeámos uma caminhada de cinco dias até uma montanha bem conhecida, mas distante, que envolvia caminhar vários dias e ser-se totalmente auto-suficiente. Era necessário carregar o máximo indispensável nas mochilas. Estudámos cuidadosamente um mapa da área e assinalámos as poucas cabanas de refúgio (cabanas nas montanhas), existentes ao longo do caminho. Ali iríamos dormir para evitar o frio das noites em altitude.

A caminhada foi linda, mas cansativa. Era preciso caminhar mais de dez horas por dia para se chegar a uma qualquer cabana antes do anoitecer. No final do último dia estávamos famintos e exaustos e a noite fria aproximava-se rapidamente. Ainda nos encontrávamos no meio das montanhas, longe de qualquer vestígio humano e incapazes de localizar a cabana onde havíamos planeado passar a noite. Na realidade, estávamos perdidos! A tensão era palpável ao mesmo tempo que continuávamos a examinar os arredores. Já mal caminhávamos, arrastando pois os pés silenciosamente devido à exaustão. Entretanto, a escuridão caiu sobre nós e nenhuma pista sobre a cabana que procurávamos. Resignámo-nos com a ideia de passar a noite ao frio.

Inesperadamente, no momento em que nos preparávamos para acender as nossas tochas, avistámos uma luz fraca do outro lado do vale. Verificámos os mapas por mais de uma vez e chegámos à conclusão de que estávamos do lado errado da montanha, sendo que a luz vinha da cabana de refúgio que tanto procurávamos. Provavelmente, outro alpinista lá chegou antes de nós e iluminou o local. A cabana ainda estava a uma hora de distância, mas decidimos, mesmo assim, fazer um último esforço para alcançá-la, podermos aquecer uma refeição e desfrutar de uma boa noite de sono.

Aquela luz renovou as nossas energias. Sim, estávamos cansados, mas agora sabíamos para onde ir, sabíamos que não estávamos perdidos. Quando finalmente chegámos à cabana, sentimo-nos muito felizes e compartilhámos comida e o calor do fogo com os nossos companheiros de escalada, antes de cairmos, literalmente, nos sacos-cama, a fim de que um bom descanso nos desse forças para no dia seguinte enfrentarmos o último trecho da caminhada que nos iria levar a casa.

Sempre que leio o Evangelho deste Domingo (Mt., 5, 13-16), em que Jesus usa as metáforas da cidade na colina e da lâmpada no candelabro, para descrever a Igreja, lembro-me da experiência desta caminhada.

Os escândalos que marcaram a história da Igreja no passado e, também infelizmente, no presente, somados à consciência das nossas próprias fragilidades e fraquezas, não dão crédito à ilusão de que a Igreja é sempre uma luz resplandecente na escuridão que cerca o mundo exterior. Nós também temos essa escuridão dentro de nós. Frequentemente, a Igreja é mais parecida com a luz fraca da cabana na montanha que vimos durante a escalada. Pois a luz da Igreja pode ser fraca, mas deve brilhar para as pessoas que dela precisam!

Nós, cristãos, não brilhamos com luz própria. «Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue, não andará em trevas, mas terá a luz da vida» (Jo., 8, 12), disse Jesus. “Fulget Ecclesia non suo sed Christi lumine” – “a Igreja resplandece não com a sua própria luz, mas com a de Cristo Ressuscitado”, afirmava Santo Ambrósio e muitos outros Padres da Igreja.

Todo o acto de fé e caridade que fazemos como membros da Igreja, e todo o bem que oferecemos à família humana, vem de Deus, cuja Graça nos precede e nos inspira, nos sustenta e nos dá forças para continuar as nossas boas obras para maior Glória de Deus. Como diria São Paulo: «Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor» (1 Cor., 1, 31).

Nós não somos a luz. Mas, como no caso dos outros alpinistas que acenderam as lâmpadas que nos conduziram à segurança, é importante deixarmos brilhar a nossa pequena fé nas circunstâncias quotidianas da nossa vida, por mais débil e frágil que seja essa fé. Não temos ideia de como os nossos pequenos esforços, que poderíamos considerar irrelevantes e despercebidos, se sustentados pela graça de Deus, podem dar conforto, direcção e esperança aos nossos irmãos e irmãs que – tal como eu – muitas vezes estão perdidos e cansados. Lembrem-se, não se trata de nos vangloriarmos da nossa bondade; trata-se apenas de compartilhar a bondade, o perdão e a misericórdia de Deus que recebemos diariamente.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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