Honra e glória aos portugueses da lei que não traíram a pátria e nem o rei
Não foi fácil o povo macaense aceitar o novo regime republicano de laicos e de ateus que, logo nas primeiras medidas, expulsaram de Macau os religiosos. Eles que eram os responsáveis pela instrução e educação da mocidade macaense.
O meu avô, José de Carvalho e Rego, foi o primeiro a não aderir à República, demitindo-se do cargo de juiz da Comarca de Macau e Timor, passando a advogar. Abriu escritório e passou a defender os interesses dos monárquicos que não aderiram à revolução e que estavam detidos na Fortaleza do Monte.
Os Governos de pouca duração de Álvaro de Melo Machado e de Aníbal de Sanches de Miranda nada trouxeram de positivo para o território, pois só após a chegada do novo governador José Carlos da Maia – trouxe como secretário geral Manuel Ferreira da Rocha – é que tudo se veio a recompor em Macau.
Afastando as ideias revolucionárias, Carlos da Maia iniciou uma política de reconciliação para com os monárquicos, mandando libertar aqueles que ainda se encontravam detidos na Fortaleza do Monte e oferecendo a paz ao Clero da cidade. Para isso muito contribuiu o meu pai que, sendo secretário de Manuel Ferreira da Rocha e com o apoio deste, propôs ao governador convidar para membro do Concelho do Governo o então bispo da Diocese, D. José da Costa Nunes. O bispo aceitou tão importante cargo, impondo-se a paz entre o Governo da República e o Clero de Macau.
As escolas voltaram a abrir com o regresso dos padres fugidos para Hong Kong, entrando na normalidade a vida em Macau, só perturbada com as revoluções chinesas que tiveram como resultado a fuga para Macau do primeiro Presidente da República da China, Sun Iat Sen. Este foi acolhido como amigo, obtendo asilo político dos portugueses, principalmente pela mão do governador Carlos da Maia. Aos do lado de lá o Governo de Macau achou por bem conceder asilo político e fez saber que responderia à letra contra qualquer guarnição chinesa. As tropas portuguesas de Macau foram reforçadas com a chegada do cruzador Adamastor.
A pouco e pouco foi regressando de Hong Kong a velha fidalguia macaense, entre os quais os barões de Cercal e S. José de Portalegre. Luiz Nolasco foi o primeiro colaborador da nova República, mas o comendador Basto nunca aceitou a República, tal como os proprietários da Casa Garden que nunca aceitaram hastear a bandeira verde-rubra.
Felizmente o comandante Carlos da Maia fez um grande Governo em Macau e foi no seu governo que se deu um incidente diplomático. A canhoneira “Pátria”, sob o comando do valoroso comandante Vieira de Matos, repeliu e afastou um grande submarino alemão que ameaçava as águas de Hong Kong. Num curto mas duro combate, o navio português pôs em fuga o submarino alemão, que depois veio a ser afundado por navios ingleses em águas perto de Hong Kong. Vieira de Matos veio a ser condecorado pelos ingleses.
Só um mês depois, devido ao atraso das comunicações, é que a República foi aclamada, mas com muito pouco entusiasmo.
José Maria Braga, que viria a ser recebido juntamente com o escritor inglês Edgar Prestage pelo Rei D. Manuel II, em Londres, afirmou a um jornal de Hong Kong que Winston Churchill condenou a inépcia do Governo trabalhista inglês em não ter intervindo a favor da Monarquia em Portugal. Churchill dizia que com a República as colónias portuguesas estavam em perigo. E na verdade estiveram durante a guerra de 14-18 e depois com o aparecimento do Estado Novo.
Para mim o dia 5 de Outubro é um dia como outro qualquer, para não dizer de luto. Nunca o governador Jaime Silvério Marques deu ordens para comemorar o 5 de Outubro, dizendo ele aos republicanos: «Se quiserem festejar que o façam no restaurante Solmar», mas sem perturbar a ordem publica.
José de Carvalho e Rego