3º DOMINGO DO ADVENTO – Ano C – 15 de Dezembro

3º DOMINGO DO ADVENTO – Ano C – 15 de Dezembro

O segredo do poder de atracção de João Baptista

A temática central do Evangelho deste Domingo continua a ser a conversão. Após um significativo tempo no deserto, a pregação de João Baptista foi ouvida e admirada por um grupo cada vez maior de diferentes tipos de pessoas. O texto mostra que ele possuía um poder natural de atracção, as suas palavras eram ouvidas com atenção pelas pessoas que também aceitavam o baptismo por ele proposto. Tudo isso acontecia por uma razão especial: ele vivia aquilo que pregava.

O Evangelho de hoje destaca três destes grupos, que além de ouvi-lo vinham aconselhar-se com João Baptista. O primeiro grupo foi o da multidão em geral. Tal como os outros grupos, perguntavam como deveriam proceder, ao que ele sugeria para não esquecerem a caridade na partilha, quer seja da túnica como dos alimentos. São Basílio Magno afirma que aqui “somos ensinados que, de tudo aquilo que excede a necessidade da nossa própria vida, estamos obrigados a doar àquele que não tem, por causa de Deus, qual nos concede generosamente tudo quanto possuímos”.

Os publicanos também se aconselhavam com o precursor sobre como deveriam fazer. Ele respondia que não deveriam exigir mais do que estava prescrito. Numa sociedade onde os cobradores de impostos costumavam explorar os conterrâneos a cometerem actos de injustiça, o profeta não ataca os impostos em si, mas critica o roubo e exploração injustos. Assim, clarificava que o enriquecimento imoral é contrário à lei divina.

Os soldados também se aproximavam de João Baptista e perguntavam como deveriam agir. Com sabedoria, João dizia que não deviam usar a violência e nem abusar da força para não cometerem injustiças. Noutras palavras, aqui vemos a condenação do uso abusivo do poder e de actos violentos que propagam a desumanização. Interessante que as respostas do precursor são simples e práticas, sempre voltadas para a realidade concreta de cada grupo de pessoas. Os seus conselhos são baseados nas virtudes naturais que todos possuímos e podemos vivê-las.

Ao reflectir sobre a capacidade de atracção de São João Baptista, recordei que certa vez li um autor secular que falava sobre liderança e mencionava a diferença entre poder e autoridade. Afirmava que o poder é algo que recebemos externamente em função de um cargo ou título que exercemos. Uma pessoa que tem poder será respeitada pela sua força visível. Com a autoridade é diferente. Esta não é baseada em títulos e cargos na sociedade, mas no respeito que alguém adquire pela sua coerência de vida. Um funcionário pode obedecer ao seu chefe porque este tem o poder de o despedir, mas pode obedecer também pela admiração que possui por ele, fruto de uma autoridade moral baseada na sua coerência de vida. Sendo assim, podemos dizer que Zacarias, pai de João Baptista, possuía poder, fruto das suas funções religiosas exercidas no templo, mas quem tinha autoridade moral e era ouvido com o coração era o seu filho. Num mundo com tanta busca pelo poder, devemos seguir o exemplo da intimidade com Deus e coerência de São João Baptista, para sermos ouvidos pelo nosso testemunho. Isto é de grande importância para os padres que formam os seus paroquianos; para os pais e seus filhos; para os professores e seus alunos.

Neste período que antecede o Natal devemos reflectir sobre como nos podemos converter, por forma a sermos mais fiéis na nossa vocação, no trabalho e nos relacionamentos sociais. Poderíamos começar a questionar como é que João Baptista começou a sua missão de precursor do Salvador. A resposta é simples: antes de preparar os caminhos do Senhor, ele ficou com o Senhor e cuidou da sua própria conversão. Mesmo sendo filho de Zacarias, um sacerdote com funções no templo, ele não se apegou a esse título e escolheu assumir a sua missão com discrição, simplicidade e no silêncio do deserto. Este exemplo é valiosíssimo e merece a nossa atenção, pois foi o que aconteceu exactamente com Jesus. Depois de trinta anos de anonimato, todos esperavam que Jesus, após ter sido baptizado por João Baptista, iniciaria a sua vida apostólica com incansáveis pregações e milagres, contudo, o Espírito de Deus o conduziu ao deserto, onde acabou por passar quarenta dias. Deus mostra-nos que toda a missão para ser frutuosa deve começar com o silêncio profundo de nós próprios, sem distracções externas, num local onde podemos escutar o que Deus deseja falar-nos e podemos entender apenas em silêncio. Outro exemplo do valor da preparação interior no silêncio é São Paulo. Depois da sua conversão e antes de ser chamado por Barnabé para ser missionário, passou três anos na Arábia e ainda cerca de dez anos no anonimato em Tarso. Além dos grandes exemplos dos Padres do Deserto, no Século XVI o cavalheiro Inácio de Loyola, depois de se sentir tocado por Deus para uma missão especial, antes de pregar e propor regras de discernimento e fundar a Companhia de Jesus, sentiu a necessidade de passar por um período de silêncio para meditar e ficar a sós com Deus.

A autoridade moral e a interiorização como base para qualquer vida missionária frutuosa pode ser vista repetidamente na vida dos grandes missionários, durante toda a História do Cristianismo. Connosco não deve ser diferente. Além de coerência de vida, antes de falarmos de Deus é preciso recolhermo-nos no silêncio da contemplação, como verdadeiros discípulos do Senhor. E é isto que o Tempo do Advento – pedagogicamente – nos ensina; que antes da Festa do Natal precisamos silenciar e converter o nosso coração, de modo a que possamos transbordar o fruto da nossa intimidade com Deus, tal como aconteceu com João Baptista, que conseguia atrair tanta gente com as suas palavras, pois eram coerentes com a sua maneira de ser e reflectiam o seu estilo de vida. Vamos deixar que Deus nasça e cresça cada vez mais dentro de nós, para podermos deixá-Lo brilhar para o mundo.

Pe. Daniel Ribeiro, SCJ

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