32º DOMINGO COMUM – Ano B – 10 de Novembro

32º DOMINGO COMUM – Ano B – 10 de Novembro

O Coração Contemplativo de Jesus

As leituras deste Domingo apresentam-nos o exemplo de duas pobres viúvas. Jesus elogiou-as pelos seus corações generosos e pela sua notável confiança na providência de Deus.

Quando Jesus visitou pela primeira vez a sua cidade natal, Nazaré, não foi bem acolhido pelos seus. Citou o exemplo da viúva de Sarepta, uma cidade fora de Israel, que acolheu o profeta Elias durante uma grave seca (Lc., 4, 16-30).

Oferecer “um copo de água para beber” a um viajante é um gesto de hospitalidade (cf. Jo., 4, 7), que a viúva de Sarepta estendeu a Elias. Mas ele desafiou-a ainda mais, pedindo-lhe “um pouco de pão”. A pobre viúva abriu o seu coração ao profeta e partilhou a sua situação desesperada: estava a apanhar lenha para cozinhar a última refeição para si e para o seu único filho. Mesmo naquela situação crítica, manteve-se aberta a oferecer hospitalidade ao profeta.

Na sua última Encíclica, “Dilexit nos”, o Papa Francisco convida-nos a cultivar a nossa vida interior, a mergulhar nas profundezas do nosso coração através da oração e, a partir daí, a estabelecer relações profundas: “Porque é o coração que origina a proximidade; é pelo coração que me encontro junto dos outros e os outros estão igualmente junto de mim. Só o coração pode acolher, dar refúgio. A interioridade é o acto e esfera do coração”. (Dilexit nos 12). A viúva de Sarepta abriu o seu coração ao profeta e ofereceu-lhe tudo o que tinha.

Tudo o que tinha era um punhado de farinha e um pouco de azeite no seu cântaro. Sendo uma viúva pobre, muito provavelmente tinha de mendigar comida para sobreviver. Agora é desafiada por Elias a confiar na palavra do Senhor e a oferecer tudo.

A providência de Deus é maior e mais profunda do que os nossos planos míopes! Esta viúva ensina-nos a confiar tudo a Deus. Por mais pobres que sejamos, temos sempre algo para Lhe oferecer, para que Ele possa continuar a alimentar-nos dia-após-dia, dando-nos vida e força.

O Senhor ensinou-me esta mesma lição no dia do meu aniversário sacerdotal. Uma viúva idosa, que vejo todos os dias na igreja e que tinha acabado de ser submetida a uma operação difícil, veio à nossa casa comunitária para me oferecer um presente. Estava tão fraca que não conseguia subir as escadas do nosso apartamento, por isso ligou-me para o telemóvel e eu desci a correr para a receber. Quando ela me entregou um envelope vermelho, disse-lhe que não precisava de me dar nada. Com um grande sorriso, ela respondeu: “Precisamos mesmo de ti, Padre! Estou muito grata pelo vosso serviço!”. As suas palavras e o seu gesto foram o melhor presente que recebi no meu aniversário sacerdotal.

Na leitura do Evangelho, ouvimos que “Jesus foi sentar-se em frente ao local onde eram depositadas as contribuições financeiras e observava a multidão a colocar o dinheiro nas caixas de colecta de oferta”. Jesus contempla. O seu coração contemplativo percebe o nosso interior; vê, para além das aparências, o nosso coração, as nossas verdadeiras intenções e segredos. Duas pequenas moedas de cobre têm mais valor do que grandes somas de dinheiro! Deus tem outros padrões para medir as nossas acções: não a quantidade, mas o amor que investimos no nosso serviço, não a nossa exibição egoísta, mas a sinceridade das nossas intenções, não a nossa necessidade exagerada de sermos afirmados pelos outros, mas a recompensa da alegria de Deus nos nossos corações.

A simplicidade e a generosidade daquela pobre viúva reflectem o coração de Jesus, humilde e manso (cf. Mt., 11, 29). Na segunda leitura de hoje, vemos que, cumprindo o projecto do Pai, Jesus, o verdadeiro Sumo Sacerdote, deu o que Lhe era mais precioso: a sua própria vida. Através do seu sacrifício, mostrou-nos a dádiva perfeita que Deus quer e espera de cada um dos seus filhos: a entrega de nós próprios para que o seu plano de amor para nós e para o mundo inteiro possa ser cumprido.

Podemos imaginar-nos como aquela pobre viúva diante do tesouro do templo. Podemos experimentar o Seu olhar amoroso sobre nós. Quando rezamos no silêncio do nosso coração, não podemos esconder o nosso verdadeiro eu, nem fingir ser quem não somos. Na sua Encíclica sobre o Sagrado Coração de Jesus, o Papa Francisco observa como o cardeal Newman chegou “…a reconhecer que o lugar do encontro mais profundo consigo mesmo e com o Senhor vinha… do seu diálogo orante, de coração a coração, com Cristo vivo e presente” (DN 26).

Poderei eu também apresentar-me diante do Senhor com a atitude daquela viúva? O que é que eu dou a Deus? Apenas uma parte de mim e do meu tempo? Ou, como estas viúvas, estou disposto a oferecer-lhe toda a minha vida para fazer a sua vontade?

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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