2º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B – 10 de Dezembro

2º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B – 10 de Dezembro

Caminhando rectos no labirinto da vida

No passado, para além das palavras cruzadas, muitos jornais e revistas publicavam labirintos para entreter leitores como eu. Um labirinto é um quebra-cabeça com voltas e reviravoltas, onde se tenta encontrar um caminho desde a entrada até à saída, sem esbarrar em becos sem saída. O objectivo de um labirinto é passar por ele, e tal significa, muitas vezes, seguir o caminho errado, refazer os passos dados e ter que escolher outros caminhos.

Labirintos são uma metáfora para a vida. As suas reviravoltas podem ser encaradas como reflexo dos desafios e obstáculos que enfrentamos diariamente. Quantas vezes nos perdemos na vida profissional e no trato com quem nos relacionamos? Será que tomamos, propositadamente, o caminho errado apenas com o intuito do nosso esforço terminar num beco sem saída e, assim, termos de refazer os nossos passos? A nossa experiência comum ensina-nos que a jornada para alcançar os nossos objectivos nunca será directa, ou seja, nunca será realizada de forma directa. Tentativas e erros são a única maneira que temos para chegar ao fim, sendo que o risco de nos perdermos está sempre presente.

O apelo de João Baptista, que fez eco no profeta Isaías, «Preparai o caminho do SENHOR, endireitai as suas veredas», ressoará no Evangelho deste segundo Domingo do Advento (Mc., 1, 1-8). Mas como podemos “endireitar” os caminhos de Deus, se a vida é um labirinto tão intrigante e complexo? A luta diária para fazermos as escolhas certas está a tornar-se cada vez mais difícil e muitas vezes leva, inevitavelmente, a becos sem saída.

O conceito de labirinto pode vir em nosso auxílio, ao invés de ser um obstáculo. Na Idade Média foram desenhados diferentes tipos de labirintos, alguns dos quais ainda são visíveis nas paredes ou no chão de antigas igrejas e mosteiros, que eram completados, respectivamente, com os dedos das mãos e ou andando por cima deles. Nos jardins das mesmas igrejas e mosteiros era frequente serem construídos centros de espiritualidade, nos quais se podiam encontrar estes labirintos (ver imagem); simbolizavam a jornada espiritual em direcção ao centro da alma, o lugar sagrado onde encontramos Deus. Já a jornada em direcção ao exterior do labirinto representava o esforço de transpormos para a vida diária o que vivenciámos ao nível espiritual.

A diferença entre o labirinto medieval e os quebra-cabeças é simples: o labirinto, embora dê voltas e mais voltas, só tem uma saída. Não é, pois, como os quebra-cabeças, que requerem raciocínio analítico para se desvendar a fórmula que liga a entrada e a saída. É que no caso do labirinto basta ter paciência; é escolher um dado caminho e ir circulando até encontra a saída; isto quando a entrada não é ao mesmo tempo a saída, como acontece muitas vezes. Há alguns labirintos que nem sequer têm becos sem saída. “Confie na jornada”, parece ser a mensagem que nos querem transmitir.

A dificuldade deste tipo de labirinto é justamente pensarmos que estamos a chegar ao objectivo e o caminho levar-nos numa direcção diferente. No entanto, também acontece estarmos prestes a desistir e darmos com o ponto de chegada.

O povo de Israel teve este tipo de experiência durante o Êxodo – a jornada entre a terra da escravidão e a liberdade. Recorde-se que levou quarenta anos para chegar ao seu destino. Não importaram as dificuldades; a única coisa que se exigiu foi que simplesmente se confiasse em Deus e se tivesse paciência. A duração da viagem deveu-se mais à sua falta de vontade de ter fé, do que aos obstáculos e objectivos que tiveram de transpor.

“É a confiança, nada mais que a confiança, que nos conduz ao Amor”, exclamou certa vez Santa Teresinha do Menino Jesus. No passado mês de Outubro, escreveu o Papa Francisco, na Exortação Apostólica dedicada à espiritualidade desta grande santa: “Com a confiança, a fonte da graça transborda na nossa vida, o Evangelho faz-se carne em nós e transforma-nos em canais de misericórdia para os irmãos”.

A vida de Santa Teresinha não foi simples. Perdeu a mãe ainda jovem e depois sofreu, repetidamente, o trauma do abandono. Adoeceu e morreu apenas com 24 anos de idade. Mesmo assim, com todos os altos e baixos da sua vida, manteve o seu “Pequeno Caminho” (ou “Pequena Via”) de confiança e amor, também conhecido como caminho da infância espiritual. Todos podem seguir este caminho, independentemente da idade ou da fase da vida que atravessam. Segundo ela, “Jesus não nos exige grandes acções, mas simplesmente entrega e gratidão”.

Podemos aprender a “endireitar o caminho do Senhor” com o “pequeno caminho da confiança” que Santa Teresinha nos ensinou. Por mais complicada que seja a nossa vida, durante este Advento podemos, passo a passo, caminhar em direção a Deus com profunda e ilimitada confiança na Sua misericórdia, sabendo que, no labirinto da vida, é Ele quem vem em nossa direcção, dia-após-dia.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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