Papa apela à aceleração da transição ecológica
O Papa apelou, no passado sábado, à “aceleração da transição energética”, num discurso lido aos participantes na 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP 28), que decorre no Dubai.
“Temos necessidade de relançar o caminho. Precisamos de dar um sinal concreto de esperança. Que esta COP seja um ponto de viragem: manifeste uma vontade política clara e palpável que leve a uma decidida aceleração da transição ecológica através de formas que tenham três caraterísticas: sejam eficientes, vinculantes e facilmente monitoráveis”, refere o texto, que foi lido pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal D. Pietro Parolin.
Francisco tinha previsto marcar presença, pessoalmente, nos Emirados Árabes Unidos, mas foi aconselhado pelos médicos que o acompanham a evitar a viagem, devido a problemas pulmonares que o afectam desde a última semana.
O discurso do Papa, preparado para esta ocasião, aponta quatro campos prioritários para a COP 28: “a eficiência energética, as fontes renováveis, a eliminação dos combustíveis fósseis, a educação para estilos de vida menos dependentes destes últimos”.
Francisco fala numa “urgência” global, sublinhando que “agora mais do que nunca, o futuro de todos depende do presente”.
O texto do Papa alerta para o impacto da actividade humana sobre o ambiente, indicando que a mesma se tornou “insustentável para o ecossistema”.
“Pensemos nas populações indígenas, na desflorestação, no drama da fome, na insegurança hídrica e alimentar, nos fluxos migratórios induzidos”, indica.
Francisco lamenta que, perante este cenário, existam “posições rígidas, senão mesmo inflexíveis”, que dão prioridade “aos lucros pessoais e das próprias empresas”, com “tentativas de descarregar as responsabilidades sobre a multidão dos pobres e o índice dos nascimentos”.
O discurso defende soluções baseadas no “multilateralismo”, tanto para as questões ambientais como para os conflitos armados.
“São as questões mais urgentes e estão interligadas. Quantas energias está desperdiçando a humanidade nas várias guerras em curso, como sucede em Israel e na Palestina, na Ucrânia e em muitas regiões da terra”, precisa o Santo Padre.
A intervenção reforça uma proposta lançada na Encíclica Fratelli Tutti, de 2020, para a constituição de um fundo mundial, com o dinheiro usado em armas e noutras despesas militares, destinado a “acabar de vez com a fome e realizar actividades que promovam o desenvolvimento sustentável dos países mais pobres, combatendo as mudanças climáticas”.
As alterações climáticas, que geram debate “entre catastrofistas e indiferentes, entre ambientalistas radicais e negacionistas climáticos”, devem levar a uma “mudança política”, sustenta o Papa.
O texto recorda os oitocentos anos da composição do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis, “inspirado por um sentido de fraternidade”, desejando que este seja um “bom auspício” para que o ano de 2024 possa “marcar um ponto de viragem”.
“Também eu, que trago o nome de Francisco, gostaria de vos dizer com o tom veemente duma oração: deixemos para trás as divisões e unamos forças! E, com a ajuda de Deus, saiamos da noite das guerras e das devastações ambientais para transformar o futuro comum numa alvorada de luz”, conclui o Papa.
INAUGURADO
PAVILHÃO DA FÉ
A inauguração do Pavilhão da Fé, que representa a Santa Sé na Expo City do Dubai, contou com a presença de D. Pietro Parolin, que leu mais um discurso previamente preparado para o Papa e marcou a assinatura da declaração conjunta desta iniciativa.
Na missiva, Francisco apela aos responsáveis religiosos presentes no Dubai que trabalhem juntos pela paz e pelo ambiente.
“Urge que as religiões, sem cair na armadilha do sincretismo, dêem o bom exemplo de trabalharem juntas, não para os próprios interesses nem para os interesses duma parte, mas para os interesses do mundo. Entre estes, os mais importantes são a paz e o clima”, refere, em mensagem vídeo divulgada pelo Vaticano.
O Papa fala num “testemunho” do desejo de trabalhar em conjunto: “Quero dizer-vos obrigado. Obrigado porque realizastes, pela primeira vez, um pavilhão religioso no âmbito duma COP”.
Francisco defende a criação de alianças “a favor de todos”, sem excluir ninguém, apelando ao exemplo dos representantes religiosos, para “manifestar que é possível uma mudança, para testemunhar estilos de vida respeitosos e sustentáveis”.
“Peçamos encarecidamente aos responsáveis das nações que seja preservada a casa comum”, prossegue.
A mensagem evoca, em particular, “os pequenos e os pobres, cujas orações chegam ao trono do Altíssimo”.
“Pelo futuro, deles e de todos, salvaguardemos a criação e protejamos a casa comum, vivamos em paz e promovamos a paz”, conclui.
In ECCLESIA – texto editado