2º DOMINGO COMUM – Ano C – 19 de Janeiro

2º DOMINGO COMUM – Ano C – 19 de Janeiro

Jesus, o vinho novo para nós reservado

A Igreja utiliza tradicionalmente três celebrações, após a Solenidade do Natal, para enfatizar a manifestação da divindade de Jesus. Primeiramente, na Festa da Epifania, o Menino Jesus é reconhecido como Deus pelos três Reis Magos. Em seguida, como vimos no último Domingo, no momento do Seu baptismo, realizado por João Baptista, uma voz do céu revela que Jesus é o Filho amado do Pai e nesse momento, uma pomba, símbolo do Espírito Santo, desce sobre Ele. Esta trilogia encerra-se na celebração de hoje com o Evangelho das Bodas de Caná, onde Jesus, numa festa de casamento, a pedido da Sua mãe, transforma a água em vinho e inicia os Seus sinais messiânicos que seriam completados com o sinal do amor maior através da Sua entrega na cruz.

Jesus inicia os seus milagres, sinais para o evangelista João, numa festa de casamento. O casamento na Sagrada Escritura pode ser visto como uma metáfora da Aliança de Deus com o povo, onde Deus é o esposo e o Povo a esposa (cf. Cant, Ef., 5, 21-16). Esta aliança tem um momento crucial quando Deus revela os Dez Mandamentos a Moisés no monte Sinai e lhe pede para dar a conhecer ao povo, através das Tábuas da Lei (cf. Ex., 20, 1-17), o que deveriam fazer para se manterem fiéis.

Outro dado central no Evangelho, o qual merece uma reflexão teológica, é a falta de vinho. O vinho é sinal da alegria, de festa (cf. Sir., 40, 20; Co., 10, 19) e do amor que unia o esposo e a esposa (cf. Cant 1, 2; 7, 10; 8, 2). Na relação de Deus com o seu povo faltou vinho em certo momento. O povo não permaneceu fiel a Deus, deixando de amá-lo como deveria. A maior parte do Antigo Testamento apresenta esta infidelidade e distanciamento. Apesar das claras leis do Código da Aliança, visíveis em celebrações rituais e inúmeras leis de comportamento que deveriam ser seguidas, este povo vivia mergulhado na tristeza e tinha o sentimento de que faltava algo, faltava alegria. O relacionamento com Deus tinha-se tornado algo extremamente formal, ritualista, que não tocava a vida quotidiana concretamente. Era preciso alegria, ou seja, estava a faltar vinho neste casamento (Aliança) entre Deus e o Povo.

Quando Jesus transforma a água em vinho Ele reaviva a alegria que já não se encontrava na Antiga Aliança. Este vinho, quando provado pelos serventes, foi classificado como melhor do que o antigo. Isso demonstra como apenas com Jesus encontramos a plenitude da revelação de Deus. Esta alegria que faltava trazida pelo Messias é perceptível na vida das pessoas que começam a ler a Sagrada Escritura.

Este ano estou a realizar a experiência de ler a Bíblia na íntegra, com um grupo de pessoas. Aquando da leitura da Bíblia, no Antigo Testamento, as pessoas começam logo por identificar as diferenças da Antiga e da Nova Aliança: antigamente não se podia tocar num leproso, mas Jesus amorosamente passou a tocá-los; a mulher adultera deveria ser apedrejada, mas Jesus diz que quem não pecou que atire a primeira pedra e pede para ela não voltar à vida de pecado. O povo no deserto alimentava-se com o maná do céu que era como um pão que saciava a fome física, mas com Jesus é dado à humanidade o próprio corpo do Senhor, em cada Eucaristia, tornando-se alimento de vida eterna. Jesus ao transformar a água em vinho mostra a Sua divindade revelando que está a iniciar um tempo novo no casamento entre Deus e a Humanidade. Quando os servos dizem que aquele era o melhor vinho, podemos ver como havia chegado o tempo esperado de maior alegria realizado com a Nova Aliança.

Recordo-me que quando tive a oportunidade de ir a Caná da Galileia e celebrei o casamento de um casal amigo na igreja do milagre realizado, uma das coisas que me chamou mais a atenção foi o tamanho das talhas utilizadas por Jesus. O guia que nos acompanhava disse-nos que cada uma daquelas talhas poderia encher cerca de cem litros de vinho. Naturalmente era muito pesado. Então perguntei ao casal de noivos quantas talhas com água Jesus havia transformado em vinho naquele dia. Eles rapidamente disseram seis. A resposta não está errada, pois na verdade é isso que está na Sagrada Escritura, mas Jesus no fundo transformou toda a água que lhe apresentaram. Apesar do simbolismo do número seis como imperfeição da Aliança Antiga antes de Jesus, Ele sempre transforma tudo o que com fé Lhe apresentamos, em algo muito melhor. A medida da providência divina depende do tamanho da nossa confiança nela (São Francisco de Sales). Sendo assim, não tenhamos medo de oferecer a nossa vida e tudo o que temos ao Senhor, pois, por intercessão de Nossa Senhora, Ele nos dará a alegria do vinho novo que tanto procuramos.

Pe. Daniel Ribeiro, SCJ

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