A imagem de Deus gravada em vós
Um dia, os fariseus, acompanhados de partidários de Herodes, fizeram-Lhe, a Jesus, uma pergunta complicada: «É contra a Lei pagar impostos a [Tibério]César, ou não?».
Esta questão está formulada de forma a tornar impossível qualquer lacuna: se alguém for contra o pagamento de impostos, poderá ser denunciado às autoridades romanas como subversivo. (De facto, segundo Lucas 23, 2, diante de Pilatos acusaram-nO de incitar o povo a não pagar impostos a César). Se for a favor, atrai a antipatia das pessoas que odeiam os ocupantes romanos.
Cada moeda romana tinha uma imagem do imperador. Imagens esculpidas equivalem a idolatria e eram proibidas pelas Regras do Templo. Usar dinheiro com o perfil de Tibério significava igualmente idolatria. Jesus está ciente da armadilha que Lhe colocaram. Ele não evita a pergunta. Como costuma fazer, conduz habilmente os interlocutores à raiz do problema.
Quer que primeiro Lhe mostrem o dinheiro. Então, ingenuamente, estendem a mão por baixo da túnica, onde costumam esconder o dinheiro, e mostram-Lhe. Eles não percebem que Jesus também lhes prega uma rasteira: primeiro, Ele pede o dinheiro. Significa, pois, que se o pede, é porque não possui qualquer dinheiro – «pois nem pedra tem para reclinar a cabeça» (Mt., 8, 20) –, e ao Lhe mostrarem o dinheiro estão a admitir que o usam sem qualquer problema. Eles recebem pelos seus serviços, e com esse dinheiro compram produtos no mercado. Este episódio passa-se no recinto do Templo (Mt., 21, 23), num lugar santo e sagrado, mas os Seus inquiridores não se preocupam pelo facto de o profanarem ao mostrarem a Jesus o dinheiro que guardam consigo. Estes só revelam ter escrúpulos no momento de pagar impostos.
Depois de olhar para o dinheiro, Jesus pergunta: «De quem é esta imagem?». «De César», respondem-Lhe. E conclui: «Dai a César o que é de César, e dai a Deus o que é de Deus» (versículo 21).
A primeira mensagem que retiramos é o dever moral e cívico de contribuirmos para o bem-comum por meio de impostos. Não há razão que justifique a evasão fiscal ou o roubo de bens do Estado. Qualquer que seja a escolha política e económica de um Governo, o discípulo de Cristo (o cidadão) é chamado a ser honesto e exemplar. Os cidadãos devem estar activamente comprometidos na construção de uma sociedade justa. Devem fazer escolhas políticas que favoreçam os mais fracos, e não aquelas que salvaguardem os seus próprios interesses. A resposta de Jesus, porém, não se limita a afirmar que todos devemos contribuir para o bem-comum com o pagamento de impostos. Jesus acrescenta: «Dai a Deus o que é de Deus».
Na realidade, o verbo que Jesus utiliza é “devolver”. Mas devolver o quê? O que pertence a Deus? Já em 200 d.C, Tertuliano percebeu que Jesus foi devolvido a Deus. Na verdade, aquando da Criação, Deus disse: «Faça-se o homem à nossa imagem» (Gén., 1, 26).
Posto isto, se a moeda tivesse que ser “devolvida” a César, porque nela estava estampada a face do seu senhor, logo a pessoa humana deveria ser “devolvida” a Deus. A pessoa humana é a única criatura na qual está impresso o rosto de Deus. Somos um bem sagrado de Deus e ninguém nos pode tomar como seu. Aqueles que tomam outros como seus e os escravizam, oprimem, exploram, dominam, usando-os como meros objectos, devem devolvê-los imediatamente ao Senhor.
Pe. Jijo Kandamkulathy, CMF