STEPHEN CHAN, DIRECTOR DA COMISSÃO DIOCESANA DA EDUCAÇÃO CATÓLICA

STEPHEN CHAN, DIRECTOR DA COMISSÃO DIOCESANA DA EDUCAÇÃO CATÓLICA

Transmissão dos valores cristãos é o que nos distingue

As 26 escolas católicas de Macau são cada vez mais procuradas pelos alunos do território. Quem o diz é Stephen Chan, que em entrevista a’O CLARIMfala de um crescimento sustentado, ao longo dos últimos anos, do número de alunos matriculados nos estabelecimentos de Ensino de matriz católica. Uma realidade que segundo o director da Comissão Diocesana da Educação Católica está relacionada com os valores e a missão deste tipo de Ensino, havendo sempre desafios a superar.

O CLARIM– As escolas católicas são, inegavelmente, uma parte importante da paisagem educativa de Macau. O que diferencia as escolas católicas dos outros estabelecimentos de Ensino?

STEPHEN CHAN –A maior diferença entre as nossas escolas e as escolas não-católicas é que o trabalho que desenvolvemos foi projectado para permitir que os alunos testemunhem a presença de Deus, em particular no que toca à questão da transmissão de valores. Nós desenvolvemos os nossos alunos tendo por base a fé de Cristo, ajudando-os a compreender e a desenvolver os valores e virtudes da fé católica, e oferecendo-lhes a possibilidade de adoptar estas atitudes nas interacções com os outros.

CL– Ainda assim, apenas uma fracção dos alunos professa o Catolicismo. Como é que se transmitem valores e atitudes católicas a crianças e a jovens com pouco ou nenhum conhecimento da fé de Cristo?

S.C. – Na qualidade de professores e de educadores nas escolas católicas, depositamos a nossa fé nos desígnios de Deus, mesmo quando os desafios se manifestam. Ele confiou-nos estes alunos porque acreditamos que temos a capacidade para os ajudar a conhecer Deus. A maior parte das escolas católicas oferece uma educação abrangente, que abarca a educação Pré-escolar, o Ensino Primário e o Ensino Secundário. Começamos desde cedo a ajudar os estudantes a enveredar por uma vida de oração, a participar na Missa e a transmitir ensinamentos religiosos através de métodos adequados à idade. Na prática, não há dificuldades muito significativas porque estes aspectos estão integrados na própria vivência quotidiana que a escola lhes oferece. Além disso, a vida escolar é diferente das estratégias de fomento da fé desenvolvidas pelas paróquias. Ao fim de vários anos de estudo, os alunos, em regra geral, alcançam uma boa compreensão dos valores centrais da fé católica.

CL– Numa sociedade cada vez mais competitiva, qual diria que é a principal missão das escolas católicas?

S.C. – A nossa principal missão é ajudar os alunos a compreender que a benevolência é o aspecto que deve fundamentar as suas decisões nas interacções que mantêm e vão manter com os outros ao longo da vida. Nós acreditamos que se a maior parte da sociedade abraçar este modo de procedimento estarão reunidas as condições para um desenvolvimento social continuado. A benevolência serve de salvaguarda contra o mal.

CL– Quantos alunos estão inscritos nas escolas católicas no ano lectivo que arrancou no início do mês? Este número tem vindo a aumentar ou a diminuir ao longo dos últimos anos?

S.C. – Apesar de ainda não termos os números relativos ao ano lectivo de 2023/2024, a tendência ao longo dos últimos anos sugere um crescimento sustentado no número de estudantes inscritos. Em termos específicos, as 41 secções e instalações das 26 escolas católicas registadas junto da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude têm demonstrado consistentemente uma trajectória ascendente. No ano lectivo de 2022/2023, as escolas católicas contavam com 31 mil e quatro alunos inscritos, de um total de 87 mil 184 estudantes que frequentavam o Ensino não terciário em Macau. A cifra representa um aumento de 1,98 por cento face aos 30 mil 403 alunos inscritos nas escolas católicas no ano lectivo de 2021/2022. Notavelmente, esse número também aumentou em 1,90 por cento face aos 29 mil 836 inscritos em 2020/2021, valor que, por sua vez, esconde um aumento de 2,60 por cento face aos 29 mil e 79 alunos que frequentavam as escolas católicas no ano lectivo de 2019/2020.

CL– É fácil encontrar professores e outros profissionais familiarizados com os valores católicos? Ou recrutar professores com estas características constitui um desafio para as escolas?

S.C. – Acredito que na sua grande maioria os professores sejam bons profissionais, com princípios éticos bem definidos. Antes de se juntarem a nós e às nossas escolas, somos totalmente transparentes com eles, na medida em que os informamos que as nossas escolas são escolas católicas e colocam uma ênfase muito particular na transmissão dos valores católicos. Tendo em conta este procedimento, não é muito difícil contratar professores cientes do que são valores católicos. Uma eventual razão para isto pode prender-se com o facto de muitos dos nossos professores terem frequentado escolas católicas e identificarem-se com os valores-chave da nossa escola. Já no que toca ao reforço da identidade e da missão das escolas católicas, depende sobretudo se os responsáveis pelas escolas oferecem ou não aos professores oportunidades para aprofundar a compreensão da fé e dos valores católicos. Também depende da vontade dos professores em envolverem-se activamente neste processo. Ao longo dos últimos anos, temos testemunhado um aumento no número de professores interessados em aprender sobre a fé católica e a submeterem-se ao Baptismo, o que é algo de muito positivo.

CL– Numa Macau em constante mudança, quais diria que são os grandes desafios com que as escolas católicas se deparam?

S.C. – Acredito que os desafios que enfrentámos não são exclusivos das escolas católicas, mas são desafios que todo o sector educativo tem que enfrentar. Mudanças nas estruturas familiares, com a generalização das famílias de rendimento duplo ou das famílias monoparentais, pode conduzir a situações em que os alunos não recebem apoio e acompanhamento dos pais. A dimensão emocional destas crianças é algo a que as escolas devem prestar uma maior atenção. No entanto, a vivência da fé nas escolas católicas pode ser uma vantagem, porque pode ensinar os estudantes a manter a esperança ao longo da vida através do poder da fé, mesmo quando encontram dificuldades ou se deparam com ansiedade.

CL– De que forma a diocese de Macau tenciona reforçar a identidade e a missão das escolas católicas? Há reformas significativas em curso ou a ser preparadas?

S.C. –As escolas diocesanas de Macau empreenderam há alguns anos um plano de reforma, sob a égide do bispo D. Stephen Lee. Convidaram pedagogos e especialistas em educação para se juntarem ao Conselho de Administração e nós sugerimos o envolvimento de representantes dos pais e dos professores nos conselhos directivos das escolas antes mesmo do Governo tornar isso obrigatório. Durante o processo facultamos alguma preparação para que tenham noção dos valores católicos fundamentais e das características que distinguem a educação católica. Para além disso, o bispo D. Stephen Lee visitou este ano todas as escolas diocesanas, bem como várias outras escolas católicas, onde proferiu a palestra “A Resposta do Vaticano à Teoria de Género: Homem e Mulher, Ele os Criou”, tendo oferecido a perspectiva da Igreja Católica sobre as questões de género. Planeamos organizar no futuro palestras anuais destinadas aos professores. Tudo para reforçar o desenvolvimento das características e da missão das escolas católicas.

Marco Carvalho

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