24 horas de Adoração, na Sé Catedral
A Igreja Católica celebra hoje, 25 de Março, a Solenidade da Anunciação do Senhor. A diocese de Macau, em conjunto com o PEAM (Perpetual Eucharistic Adoration Movement), organiza mais uma maratona de “24 horas de Adoração Eucarística”, na igreja da Sé Catedral. A vigília tem início às 8:00 horas, terminando amanhã, às 7:00 horas. Os interessados deverão inscrever-se através do número de telefone 28 373 643. As missas diárias serão celebradas nos horários habituais.
Acerca da festividade litúrgica que hoje se celebra, os Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) referem que a Solenidade da Anunciação do Senhor é a celebração do grande mistério cristão da Encarnação do Verbo de Deus. A 25 de Março cumprem-se exactamente nove meses do Nascimento de Jesus. Daí que a Catequese sempre tenha feito coincidir a Anunciação e a Encarnação. Estes mistérios começaram a ser liturgicamente celebrados, muito provavelmente, depois da edificação da basílica constantiniana sobre a casa de Maria, em Nazaré, no Século IV. Segundo os dehonianos, “a celebração no Oriente e no Ocidente data do século VII. Durante séculos, esta solenidade teve sobretudo carácter mariano; mas Paulo VI devolveu-lhe o título de ‘Anunciação do Senhor’, repondo o seu carácter predominantemente cristológico”.
SÃO LUCAS: O “EVANGELISTA DE MARIA”
Lucas, cujo nome significa “portador de luz”, no primeiro capítulo do seu Evangelho fala-nos sobre a Anunciação pelo anjo Gabriel a Maria Santíssima. O professor Curtis Mitch, do Centro de Teologia Bíblica Saint Paul, ao reflectir sobre esta passagem das Sagradas Escrituras, explica ser este o momento em que Deus revela a Maria a sua vocação, ou seja, a missão especial que desempenhará na História da Salvação: ser a mãe do Messias há muito profetizado e esperado. Mitch, realça que a Bem-aventurada Virgem Maria não é uma mãe comum, mas única – será, pois, a mãe-virgem do Messias, dado que a concepção do menino é resultado de um milagre, de uma acção sobrenatural.
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) lembra que o nome “Jesus” significa em Hebraico “Deus salva”. “Quando da Anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio o nome de Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a sua identidade e a sua missão. Uma vez que ‘só Deus pode perdoar os pecados’ (Marcos 2:7), será Ele quem, em Jesus, seu Filho eterno feito homem, ‘salvará o seu povo dos seus pecados’ (Mateus 1:21). Em Jesus, Deus recapitula, assim, toda a sua história de salvação em favor dos homens”. Mais: “com o Credo Niceno-Constantinopolitano, respondemos confessando: ‘Por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus; e encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria e Se fez homem’” (CIC n.os430 a 456).
O Catecismo da Igreja Católica ensina também sobre a grandeza de Nossa Senhora, que apesar da sua imensa humildade, pelo seu “sim” ao Senhor, torna-se inconfundivelmente a Mãe de Deus Encarnado: “Chamada nos evangelhos ‘a Mãe de Jesus’ (João 2:1; 19:25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito Santo e desde antes do nascimento do seu Filho, como ‘a Mãe do meu Senhor’ (Lucas 1:43). Com efeito, Aquele que Ela concebeu como homem por obra do Espírito Santo, e que Se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é, verdadeiramente, Mãe de Deus (Theotokos)” (CIC, 495).
CONTEMPLAR O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO
Por ocasião da viagem apostólica do Papa Bento XVI ao México e a Cuba, realizada entre os dias 23 e 29 de Março de 2012, o Santo Padre falou do grande mistério da Encarnação, precisamente no dia da Solenidade da Anunciação do Senhor. A homilia, proferida em Santiago de Cuba, na Praça Antonio Maceo, centrou-se nos 400 anos da descoberta da imagem da “Virgem da caridade do Cobre”, Padroeira de Cuba.
Bento XVI realçou que a Encarnação do Filho de Deus é o mistério central da fé cristã e, nele, Maria ocupa um lugar de primária grandeza. O Pontífice colocou duas questões, relacionadas com o mistério da Encarnação: «– Mas qual o significado deste mistério? E qual a importância que tem para a nossa vida concreta?».
Vejamos primeiro o que significa o conceito de “Encarnação”. No Evangelho de São Lucas “ouvimos” as palavras do anjo a Maria: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus» (Lucas 1:35). Em Maria, o Filho de Deus faz-Se homem, cumprindo-se assim a profecia de Isaías: «A virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será “Emanuel”, porque Deus está connosco» (Isaías 7:14).
Bento XVI ilumina a profecia – dada cerca de setecentos anos antes da Anunciação –, citando o apóstolo João, que afirma: «O Verbo fez-Se carne e habitou no meio de nós» (João 1:14).
O Papa enalteceu ainda o exemplo da entrega confiante a Deus por parte de Nossa Senhora, com o seu “sim” dado sem reservas: «Por isso, quando contemplamos o mistério da Encarnação, não podemos deixar de voltar os nossos olhos para Ela, enchendo-nos de admiração, gratidão e amor ao ver como o nosso Deus, para entrar no mundo, quis contar com o consentimento livre duma criatura sua».
Deus esperou o “sim” da Virgem Maria e só a partir do momento em que a Virgem respondeu ao anjo – «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lucas 1:38) – é que o Verbo eterno do Pai começou a sua existência humana no tempo. «É comovente ver como Deus não só respeita a liberdade humana, mas parece ter necessidade dela. E vemos também como o início da existência terrena do Filho de Deus está marcado por um duplo “sim” à vontade salvífica do Pai: o de Cristo e o de Maria», vincou Ratzinger.
A terminar, o hoje Papa-emérito sublinhou que é esta obediência a Deus que abre as portas do mundo à verdade, à salvação. Pois, de facto, Deus criou-nos como fruto do Seu amor infinito. Daí que «viver segundo a Sua vontade é o caminho para encontrar a nossa verdadeira identidade, a verdade do nosso ser, enquanto que o distanciamento de Deus nos afasta de nós mesmos e precipita-nos no vazio».
A obediência na fé é a verdadeira liberdade, a autêntica redenção, que permite unirmo-nos ao amor de Jesus no Seu esforço por Se conformar com a vontade do Pai: «A redenção é sempre esse processo de levar a vontade humana à plena comunhão com a vontade divina», concluiu Bento XVI.
Miguel Augusto
LEGENDA:Capela de Adoração Eucarística, na igreja da Sé Catedral
FOTO:Miguel Augusto