Fátima cria serviço de apoio a alunos com necessidades educativas especiais
A ideia não é propriamente nova, mas só agora ganha relevo institucional. A paróquia de Nossa Senhora de Fátima, situada a pouco mais de trezentos metros do novo Posto Fronteiriço de Qingmao, vai oficializar a criação de um Centro de Actividades para alunos com Necessidades Educativas Especiais. A informação foi avançada a’O CLARIMpelo padre Michael Cheung.
O padre Michael Cheung, pároco da igreja de Nossa Senhora de Fátima, revelou estar a tentar obter o licenciamento adequado junto das autoridades de Macau para que o centro de actividades que a Paróquia proporciona em horário pós-escolar possa vir a receber um maior número de crianças e jovens com necessidades educativas especiais. «Disponibilizamos um serviço em horário pós-escolar dirigido a crianças com necessidades educativas especiais. O objectivo é ajudar a tomar conta de crianças que necessitam de ajuda. É algo que constitui um grande contributo para as famílias. É este tipo de serviços que ajudam a construir a comunidade», defendeu o sacerdote.
Com o nome de “Os Três Pastorinhos”, o referido centro tem as suas raízes no trabalho de voluntariado desenvolvido durante vários anos por uma religiosa do Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria. Confrontados com um número cada vez maior de alunos com necessidades especiais, os responsáveis pela paróquia de Nossa Senhora de Fátima querem profissionalizar os serviços oferecidos e estender a mão a um maior número de crianças e jovens. «Mesmo antes de ter vindo para a paróquia de Nossa Senhora de Fátima, já havia uma religiosa das Franciscanas Missionárias de Maria que se voluntariava para vir até cá depois das aulas, para responder às necessidades destes estudantes. Esta religiosa reformou-se há pouco mais de um ano e aquilo que a Paróquia quer fazer é dar continuidade a esse trabalho», explicou o padre Michael Cheung. «Os procedimentos são feitos agora em circunstâncias diferentes, mas a ideia é a de colocar uma maior ênfase nas Necessidades Educativas Especiais. Também sou o capelão do polo 5 do Colégio Diocesano de São José, ao lado da igreja de Nossa Senhora de Fátima, e são inúmeros os alunos com necessidades educativas especiais. (…)Há alguns anos, os Serviços de Educação e Juventude pediram às escolas para assegurarem apoio a estes alunos, mas as suas necessidades são tão grandes que as escolas ainda não conseguiram dar resposta a tudo», acrescentou o missionário do Instituto do Verbo Encarnado.
O objectivo do Centro de Actividades “Os Três Pastorinhos” é ajudar os estabelecimentos de ensino da Zona Norte de Macau a dar resposta a um problema cada vez mais evidente. Actualmente a operar de forma informal, o organismo presta apoio a doze alunos, mas no futuro quer cuidar de muitas mais crianças e jovens. «Em termos legais, estamos ainda a tentar obter a licença. É um processo que não é propriamente simples, mas o nosso objectivo é obter uma licença de capacitação, para podermos fazer as coisas da forma mais estruturada possível», clarificou o pároco. «Agora estamos a operar de acordo com as limitações existentes. Estamos a funcionar dentro da legalidade, mas de acordo com os números definidos pelo Governo. Não podemos receber muitas crianças. Estamos limitados a doze estudantes. Como temos dois espaços e dois professores, cada um é responsável por tomar conta de seis alunos. Mas, assim que obtivermos a licença, vamos abrir à comunidade e vamos aceitar oficialmente estudantes que tenham necessidade deste tipo de serviços».
A iniciativa constituiu um esforço mais para fazer frente ao que o padre Michael diz ser uma «nova forma de pobreza». O sacerdote lamenta a sorte de dezenas de famílias que foram apanhadas em circunstâncias contra as quais pouco ou nada podem fazer: «As pessoas dizem-me que não há pobreza em Macau. Todos têm o que comer, um local onde viver, o que vestir. Mas temos muitas famílias disfuncionais. Estas famílias vivem na China e têm a sua vida aqui. Temos pais que têm que cruzar a fronteiras várias vezes ao dia. Vivem em Zhuhai e, para poder tomar conta dos filhos, têm de vir a Macau várias vezes ao dia». A terminar, referiu: «Conheço o caso de uma pessoa que tem quatro crianças pequenas e elas saem da escola em alturas diferentes. Esta pessoa tem de cruzar a fronteira seis vezes por dia. Acho que ninguém consegue imaginar o quão disruptivo é tudo isto. Estas pessoas necessitam de muita ajuda. Num certo sentido elas são muito, muito pobres. Não podem viver a sua vida de forma normal».
Marco Carvalho