«A missão das escolas católicas é o desenvolvimento integral da pessoa humana»
O padre Lawrence The Reh, OP, procurou entender a forma como são encaradas as escolas católicas de Macau, por pais, alunos e professores. Em meados deste mês, o sacerdote dominicano apresentou as suas conclusões perante os responsáveis dos cinco estabelecimentos de Ensino com que trabalhou para a sua tese de doutoramento. As perspectivas são optimistas, mas há margem para melhorias.
São um dos elementos mais visíveis da presença da Igreja Católica em Macau, tiveram e continuam a ter um papel preponderante na formação integral de gerações de residentes do território, mas há aspectos da missão que desenvolvem que podem ser melhorados. A forma como a identidade e a ética das escolas de matriz católica locais é entendida por pais, alunos e professores, deu o mote ao estudo de doutoramento que o padre Lawrence The Reh, OP, conduziu ao longo dos últimos anos.
O sacerdote dominicano defendeu com sucesso a sua tese de doutoramento no início de Julho e regressou em meados do corrente mês à Universidade de São José (USJ), para transmitir e explicar as suas conclusões aos responsáveis pelos cinco estabelecimentos de Ensino nos quais fundamentou a investigação.
Capelão na Escola São Paulo, o padre Reh, concluiu – tendo por base as entrevistas que conduziu junto da comunidade educativa das cinco escolas – que os valores, a ética e a missão que fundamentam o trabalho desenvolvido pelas escolas católicas em Macau é encarado de modo favorável pelos intervenientes no processo educativo. O autor do estudo traçou um quadro geral positivo – e optimista – da forma como são percepcionados os métodos e a ética destes estabelecimentos de Ensino, ainda que o seu papel seja mais valorizado pelos pais e professores, do que propriamente pelos alunos.
«Este estudo não procurou propriamente diferenciar as escolas católicas das demais escolas de Macau. A investigação procurou definir aquilo a que nos referimos quando falamos de identidade católica das escolas católicas; constatar os seus aspectos-chave e compreender o que está na base da ética dos estabelecimentos de Ensino católicos. Tendo este conhecimento como ponto de partida, o estudo investiga a percepção que os diferentes participantes do processo educativo têm da identidade e da ética das escolas católicas», esclareceu. «De um modo geral, a comunidade educativa – os professores, os pais e os alunos – têm uma percepção positiva da identidade e da ética das escolas católicas às quais estão ligados. Numa escala de zero a dez, registei muito poucas avaliações negativas, abaixo de cinco. Pelo contrário, as notas atribuídas pelos entrevistados foram bastante altas. Em termos gerais, os professores foram os que manifestaram uma percepção mais positiva sobre a identidade e a ética das escolas católicas, seguidos pelos pais e, finalmente, pelos estudantes. Os pontos de vista dos pais e dos professores são muitas vezes similares e são bastantes diferentes das posições veiculadas pelos alunos», explicou.
Mas que características moldam a identidade e a ética dos estabelecimentos de Ensino de matriz católica e de que modo se reflectem esses pressupostos em Macau? Nascido em Myanmar, o padre Reh teve como ponto de partida a definição feita pelo arcebispo D. John Michael Miller, em 2006. O presbítero canadiano, que foi até 2009 Secretário da Congregação para a Educação Católica, defende que a identidade católica das escolas tem por base princípios educativos fundamentados em cinco características essenciais. Estas têm como missão transmitir preceitos educativos inspirados por uma visão sobrenatural, alicerçados numa percepção cristã do Homem, imbuídos por uma mundividência católica e orientados pelos ideais de comunhão e de comunidade, num processo que tem nos professores os principais artífices e testemunhas.
Na sua tese de doutoramento, o padre Reh procurou aferir como é que as cinco características delineadas pelo actual arcebispo de Vancouver se manifestam nos estabelecimentos de Ensino católicos da RAEM. Segundo ele, há particularidades específicas de Macau na forma como as escolas operam e conduzem o seu trabalho, mas tais especificidades não ofuscam o carácter universal dos valores nos quais se fundamenta este tipo de educação à volta do mundo: «As escolas católicas devem manter e promover a identidade e a ética que as caracterizam, até porque são escolas católicas. As escolas têm uma missão específica, que é partilhada pela Igreja. Os pais ou os alunos que não sejam católicos não perdem nada quando uma escola assume como missão transmitir valores católicos, que estão alinhados com os ensinamentos da Igreja no que toca à identidade das escolas católicas. Há universalidade nos ensinamentos da Igreja Católica no que respeita à educação católica e resume-se à transmissão de valores humanos essenciais. A missão das escolas católicas é o desenvolvimento integral da pessoa humana».
Apesar da percepção dos pais, alunos e professores sobre a identidade das cinco escolas analisadas serem positivas e indiciarem uma visão optimista do papel que os estabelecimentos desempenham na formação moral e cívica dos jovens, há aspectos em que há margem para melhorias. O sacerdote identifica o reforço do diálogo com a comunidade educativa como um dos domínios em que há algo a melhor e em que a identidade católica dos estabelecimentos pode ser exponenciada. «Os testemunhos dos intervenientes no processo educativo apontam para a necessidade de uma melhora efectiva na comunicação entre as escolas e as diferentes partes interessadas. É necessário que as escolas ponham em prática os princípios éticos pelos quais se devem reger, que sejam inclusivas e aceitem estudantes de diferentes origens sociais. Por outro lado, é fundamental que promovam uma cultura de diálogo e alimentem o espírito de pertença e de comunidade», rematou.
Marco Carvalho