Subiu ao Céu incorrupta
A Igreja em Macau junta-se à Igreja universal na próxima segunda-feira, 15 de Agosto, na celebração da Assunção de Nossa Senhora. Pelas 19:00 horas há Missa Solene, na igreja da Sé Catedral, presidida pelo bispo D. Stephen Lee.
A Assunção de Nossa Senhora, Assunção de Maria ou Assunção da Virgem é a crença, de acordo com a Tradição e Doutrina da Igreja Católica e das Igrejas Ortodoxas, bem como de algumas denominações protestantes, como a Anglicana, de que a Virgem Maria, a Mãe de Jesus, cumprido o curso da sua vida terrena, foi levada em corpo e alma para o Céu pouco depois da sua morte. Não se deve confundir com a Ascensão, que se refere a Jesus Cristo.
Esta transferência denomina-se, entre os católicos, como Assumptio Beatae Mariae Virginis(Assunção da Virgem Maria). A sua doutrina foi definida como Dogma de Fé pelo Papa Pio XII (1939-1958), a 1 de Novembro de 1950. A Igreja Católica celebra esta Festa em homenagem a Maria no Oriente e em Roma desde o Século VI.
A primeira referência oficial à Assunção é encontrada na liturgia oriental. Assim, já no Século IV se celebrava a Festa da “Lembrança (Memória) de Maria”, na qual se comemorava a entrada da Virgem Maria no Céu. Esta Festa, no Século VI, era designada de Dormitio(κοάμησις, “koimesis”), ou Dormição de Maria, em que se celebrava o fim da vida terrena e a subida de Maria para o Céu. No século VII, a Dormição de Maria passou a denominar-se “Assunção”. A literatura apócrifa sobre o Trânsito de Maria (Transitus Mariae) é abundante, a partir dos Séculos IV e V. Além dos textos Liber Requiei Mariae, “Apócrifo da Dormição”, De Obitu S. Dominae, destaca-se o livro De Transitu Virginis, atribuído a São Mellitus (Militão) de Sardis, o tratado mais importante sobre o tema.
A ASSUNÇÃO NA IGREJA CATÓLICA
A origem da devoção é oriental, mas ganhou forte expressão no Ocidente. Além dos referidos apócrifos, outros mais foram considerados como portadores de um fundo teológico importante e com histórias que teriam grande influência na tradição do Trânsito da Virgem Maria. De acordo com São João Damasceno, no Concílio de Calcedónia, em 451, o imperador romano Marciano (450-457) solicitou o corpo de Maria, Mãe de Deus. São Juvenal, que era bispo de Jerusalém, respondeu que “Maria morreu na presença de todos os apóstolos, mas que o seu túmulo, quando foi aberto a pedido de São Tomé, foi encontrado vazio; de onde os apóstolos concluíram que o corpo foi levado ao céu”. No Século VIII, durante o papado de Adriano I (772-795), a Igreja começou a alterar a terminologia, renomeando a Festa de “Memorial de Maria” para “Assunção de Maria”.
Devido a factores políticos e questões de ordem linguística, uma vez que as relações com o Oriente eram tensas e o Grego (no Oriente) perdia prevalência para o Latim no Ocidente, a doutrina da Assunção de Maria só foi desenvolvida a partir do Século XII. Com destaque a partir da divulgação do tratado Ad Interrogata, atribuído a Santo Agostinho de Hipona, no qual se aceitava a ascensão corporal de Maria. São Tomás de Aquino e outros grandes teólogos declarar-se-iam a favor dessa tese. O Papa Pio V (1566-1572), na reforma do Breviário católico, retirou as citações do “Pseudo-Jerónimo” e substituiu-as por outras que defendiam a ascensão corporal. O Pseudo-Jerónimo, esclareça-se, questionava se Maria subiu ao Céu com ou sem corpo (embora mantendo a crença na incorruptibilidade), o que levantou a questão se a assunção corporal deveria ser incluída na celebração da Festa. A influência deste texto foi sempre grande, recorde-se. O Papa Bento XIV (1740-1758) apontaria mesmo a doutrina da Assunção como piedosa e provável, mas sem a considerar como dogma.
Em 1849 surgiram as primeiras petições à Santa Sé para que a Assunção fosse declarada como uma doutrina de fé, pedidos de bispos como de sacerdotes e leigos, clamor que se foi avolumando. Em 1946 o Papa Pio XII consultou o episcopado (carta Deiparae Virginis Mariae): houve uma quase unanimidade na resposta, de que a Assunção da Virgem deveria ser dogma. Assim, a 1 de Novembro de 1950, pela Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, o Papa, baseado na Tradição da Igreja Católica, nos testemunhos da liturgia, na crença dos fiéis, nos escritos dos Padres e Doutores da Igreja, e com o consenso dos bispos do mundo, declarava como um dogma de fé a Assunção da Virgem Maria.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa
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