Residentes de Macau ajudam a construir vinte casas na Índia

EXORTAÇÃO LAUDATE DEUM JÁ À VENDA NA LIVRARIA SÃO PAULO

Residentes de Macau ajudam a construir vinte casas na Índia

O impacto das alterações climáticas, aliado à pobreza, levou a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria a lançar um segundo projecto de construção de habitações para famílias necessitadas, depois de ao longo das últimas décadas a rede missionária claretiana ter contribuído para a edificação de mais de mil e 500 casas um pouco por toda a Índia.

Agora, os claretianos pretendem entregar uma casa por mês a agregados familiares que vivam em condições difíceis ou que tenham sido afectados por catástrofes naturais, num processo para o qual Macau também tem vindo a contribuir. «Iniciámos um novo projecto na Índia. Estamos a pedir o equivalente a cem patacas por mês a mil pessoas. Todos os meses pedimos a estas pessoas que contribuam com cem patacas, o que quer dizer que todos os meses angariamos cem mil patacas. Cem mil patacas são suficientes para construir uma casa. Todos os meses construímos e oferecemos uma casa a uma família diferente», explicou a’O CLARIM o padre Jijo Kandamkulathy, CMF.

«Cem patacas não é nada de muito relevante para quem vive numa cidade como Macau. Este projecto é um projecto em expansão, no sentido de que há muita gente que se associou a nós de forma muito calorosa, até porque o dinheiro é canalizado directamente para os beneficiários, sem intermediários pelo meio. Até ao momento, construímos cerca de sessenta casas. Para cerca de vinte destas casas, as contribuições tiveram origem em Macau e Hong Kong», sublinhou o missionário claretiano.

LAUDATE DEUM CHEGA A MACAU

A tradução para Inglês da Exortação Apostólica Laudate Deum, publicada pelo Papa Francisco a 4 de Outubro de 2023, já se encontra disponível em Macau. Trata-se de uma obra de contornos únicos, que reúne num único volume os dois documentos fundamentais que o Santo Padre dedica à defesa do ambiente, da vida humana e “ao cuidado da casa comum”.

Publicado pela subsidiária de Macau das Publicações Claretianas, a obra é constituída pelo texto integral da Laudate Deum, mas também pela Encíclica Laudato Si, uma das mais marcantes do pontificado de Jorge Bergoglio. No documento, lançado em 2015, o Papa Francisco critica o consumismo e o desenvolvimento irresponsável, e deixa um apelo à mudança de hábitos e à união global com o propósito de combater a degradação das condições ambientais e fazer face às alterações climáticas.

Oito anos depois, o Sumo Pontífice regressa ao tema, por considerar que a Humanidade não está a reagir de modo satisfatório aos desafios ecológicos com que o mundo se depara. Com pouco mais de doze páginas, divididas por seis capítulos, Laudate Deum complementa, assim, o repto feito por Francisco em Laudato Si. Contudo, no entender do padre Jijo, a exortação apostólica é bem mais do que uma mera actualização da encíclica. Para o sacerdote, a Laudate Deum constitui como que um “grito” do Papa por uma resposta definitiva à crise climática e distingue-se dos demais documentos pontifícios por contemplar uma abrangência vincadamente universalista.

«A Laudato Deum é uma sequela da Laudato Si. Há alguns documentos em que os Papas se dirigem a todo o mundo, para que se transforme e adopte um novo modo de vida. Mas a maior parte das vezes, os Pontífices, na qualidade de líderes da Igreja Católica, dirigem-se à população católica. Ainda assim, há exemplos – como a Laudato Si ou a Rerum Novarum – em que a mensagem do Papa tem uma vocação mais universalista e se dirige a todos as pessoas do mundo. É o caso da Laudate Deum. Esta exortação apostólica surgiu porque é urgente responder à crise climática», argumentou o missionário, acrescentando: «A comunidade científica já deixou claro que se ultrapassarmos o ponto crítico do aquecimento global, o que nos espera é uma catástrofe ambiental que não vamos conseguir inverter. Estaremos a resvalar para uma espiral de destruição, mais especificamente de autodestruição. Antes de atingirmos esse momento crítico, o Papa exorta-nos a controlar o nosso comportamento. Esta é a primeira mensagem que retiramos da Laudate Deum».

A abrangência universal da mensagem veiculada pelo Papa reflecte-se também no apelo global implícito no documento. Francisco exorta a comunidade das nações a usar o seu poder para refrear e reverter «os processos de degradação ambiental», num apelo que se estende ao âmago de cada um e ao qual Macau não se deve furtar, por muito exígua que possa ser a realidade territorial da RAEM. «A Laudato Si e a Laudate Deum convidam todos os países e regiões a participar neste processo, a título colectivo, mas também todos os indivíduos a adoptarem um modo de vida amigo do ambiente. Neste pequeno pedaço de terra que Macau ocupa, há limitações que a Região tem, obviamente, que ter em conta, mas isso não significa que sejamos totalmente incapazes de fazer alguma coisa», apontou o padre Jijo.

«Num local como Macau, existe já a percepção de que o ambiente necessita de ser protegido. Mas um domínio em que Macau pode fazer mais é em termos de reciclagem. Podemos continuar a produzir bens a partir de matérias-primas, mas moderar a sua dependência através da reciclagem de produtos já feitos é uma das formas como Macau pode diversificar a sua economia e acrescentar valor aos produtos produzidos localmente. Por outro lado, é imperativa a conversão às energias limpas. Macau necessita, enquanto região, de repensar a forma como pode contribuir para a produção de electricidade, através do recurso à energia solar, que é algo que está amplamente disponível. Algumas empresas do sector do jogo já adoptaram esta solução, que pode ser alargado aos complexos de habitação pública. Macau tem disponibilidade económica para adquirir electricidade cara, mas não é, de todo, uma opção amiga do ambiente», sugeriu.

Marco Carvalho

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