VICARIATO APOSTÓLICO DA ARÁBIA DO SUL

VICARIATO APOSTÓLICO DA ARÁBIA DO SUL

Uma Igreja de migrantes e de diálogo

A Igreja no Vicariato Apostólico da Arábia do Sul é basicamente uma “Igreja de migrantes”, cujos membros partilham uma experiência comum: a desagradável sensação de que algo de fundamental lhes falta no dia-a-dia, seja a sua terra natal ou a presença dos entes queridos. Porém, esta percepção, aparentemente negativa, deve ser encarada antes de tudo como uma oportunidade para nos abrirmos uns aos outros e, ao mesmo tempo, fazer emergir a fonte e o dinamismo da esperança cristã, “uma esperança que não nos decepciona porque está enraizada no amor de Cristo, um amor irrevogável, um amor para sempre”, como escreve numa carta pastoral dirigida às comunidades católicas do Vicariato da Arábia do Sul – Omã, Iémen e Emirados Árabes Unidos – o bispo D. Paolo Martinelli, vigário apostólico da Arábia do Sul.

O prelado aponta os factores característicos – peregrinação e esperança – que marcam o período do Jubileu, destacando os muitos pontos comuns que partilham os migrantes e os peregrinos: “Hoje somos chamados a ser peregrinos da esperança; e um peregrino atravessa as adversidades da vida, sabendo que Deus nunca o abandona. O sermos peregrinos remete-nos à condição de migrantes. Tal como os peregrinos, também os migrantes estão sempre em movimento”.

A existência desta “Igreja de migrantes” da Península Arábica, que reúne crentes de cem diferentes nações, depende da estabilidade dos empregos que os fiéis possuem e de um vasto rol de circunstâncias que estão fora do seu controlo. “É precisamente essa situação de migrantes que nos impele a desempenhar com maior paixão o papel de sermos peregrinos da esperança”, afirma o bispo italiano, ao citar a Bula Spes non confusat, na qual o Papa pede sinais de esperança para os migrantes que deixam as suas terras para trás em busca de uma vida melhor para si e para as suas famílias. “E essas suas expectativas”, alerta o Santo Padre, “jamais devem ser frustradas por preconceitos e rejeições”.

O vigário apostólico convida todos os fiéis a encarar a “realidade de migrante” como parte de uma peregrinação pessoal, “em direcção ao Reino dos Céus”, continuamente apoiados pela esperança cristã. “Somos feitos para a felicidade eterna; não nos deixemos enganar pelos bens temporários”, adverte D. Paolo Martinelli.

No mesmo texto, evoca os mil e 700 anos do Concílio de Niceia, que deu “o Credo, que recitamos todos os Domingos” e que ainda hoje é reconhecido por todas as Igrejas e denominações do Cristianismo. “Celebrar o Credo Niceno tem um grande valor ecuménico; impulsiona-nos a trabalhar pela promoção da unidade entre todos os cristãos”, refere.

Os fiéis são convidados a viver com grande vigor o Ano Santo da esperança e encorajados a participar nos programas e eventos preparados pelo Vicariato, especialmente nas igrejas já declaradas “santuários para o Jubileu” e em alguns dos eventos internacionais previstos em Roma.

Num mundo onde a secularização avança cada vez mais, o verdadeiro diálogo inter-religioso é o único antídoto para um mundo sem Deus. Isto mesmo foi lembrado pelo cardeal D. Luis Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, num discurso proferido em Abu Dhabi durante a cerimónia de entrega do “Prémio Zayed para a Fraternidade Humana”. Este foi criado em 2019, após a assinatura do documento “Fraternidade Humana pela Paz Mundial e a convivência comum”, lavrada a 4 de Fevereiro daquele ano na capital dos Emirados Árabes Unidos pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã de Al-Azhar, Sheikh Ahmed Al-Tayeb.

Seis anos após a assinatura histórica, na “Casa da Família Abraâmica”, estrutura nascida também após a publicação do citado documento, o cardeal D. Luis Tagle, na qualidade de representante da Santa Sé, assegurou aos presentes que a Igreja Católica reconhece e defende a promoção da amizade e o respeito entre homens e mulheres de diferentes tradições religiosas, tendo salientado o quão importantes são estes elementos na actualidade, “já que, por um lado, e em certo sentido, o mundo se tornou ‘menor’, e, por outro, porque o fenómeno da migração aumentou o contacto entre pessoas e comunidades de várias tradições, culturas e religiões”.

De facto, sempre que seguimos o caminho delineado pelo “Documento sobre a Fraternidade Humana pela Paz Mundial”, tornamo-nos cada vez mais autenticamente humanos, enfatizou o pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, lembrando que nas sociedades secularizadas, onde “a religião é vista como algo inútil ou mesmo perigoso, e frequentemente se pensa que a coexistência só é possível se as pessoas relegarem sua própria filiação religiosa à esfera puramente privada ou se reunirem em espaços ‘neutros’, desprovidos de qualquer referência ao transcendente”, o diálogo é pois a única solução viável.

Joaquim Magalhães de Castro

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