Em defesa do Matrimónio e da Família
Por decisão decretada pelo Papa Leão XIV, durante a celebração do seu primeiro Consistório Ordinário Público, o mártir Peter To Rot, natural da Papua-Nova Guiné, será canonizado no dia 19 de Outubro do corrente ano, precisamente no Domingo em que se assinala o 99.º Dia Mundial das Missões. Nessa mesma manhã serão inscritos no Livro dos Santos os beatos Ignatius Choukrallah Maloyan, Vincenza Maria Poloni, María del Monte Carmelo Rendiles Martínez, Maria Troncatti, José Gregorio Hernández Cisneros e Bartolo Longo. Um mês e meio antes, a 7 de Setembro, terão sido também canonizados os beatos italianos Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis.
Mas quem foi Peter To Rot? Tão só um simples catequista. Durante a invasão japonesa da Papua-Nova Guiné, em plena Segunda Guerra Mundial, os ocupantes, procurando ganhar o apoio e até a amizade da população local, legalizaram a poligamia, que tinha sido proibida pelos missionários católicos. Consequentemente, um grande número de homens começou a pôr em prática de novo esse costume há muito enraizado entre a população local. Porém, houve quem se opusesse a tal medida. Foi o caso do catequista Peter To Rot – na altura com apenas trinta anos de idade. Com todas as suas forças, não se cansou de sublinhar “a unidade e a indissolubilidade do matrimónio”, enfatizando-as como “típicas características de um matrimónio desejado por Deus”. O certo é que o audacioso catequista convenceu inúmeras jovens – “adicionadas como ‘segundas esposas’” – a escapar ao “harém” de homens casados e a renegarem tal condição subalterna. Isto, compreensivelmente, trouxe a Peter To Rot incontáveis inimigos, entre eles homens muitíssimo poderosos. Que o conseguiram encarcerar e, por fim, assassinar, silenciando definitivamente “a sua voz profética” com uma injecção de veneno letal. “O ‘rapaz da Missão’, estava muito doente e morreu”. Foi desta forma irónica que o agente policial To Metapa se expressou quando se foi certificar que Peter To Rot estava mesmo morto. Pouco antes, o médico do estabelecimento prisional tinha-lhe injectado um suposto medicamento e dado um xarope para o curar de uma constipação. A administração dessas substâncias fez o catequista vomitar, e o clínico que o “assistia”, em vez de o deixar expelir, tapou-lhe a boca…
O que diz a vida de Peter To Rot à Igreja universal de hoje? O que nos pode ensinar a sua história de vida? Quando o Papa Francisco ouviu falar do beato Peter To Rot pela primeira vez, disse: «Este é o santo de que a Igreja precisa nestes tempos». Mera verdade: To Rot era um leigo, casado, pai de três filhos, que morreu aos 33 anos em defesa do matrimónio e da família. Nestes tempos, em que o matrimónio e a família são tão atacados e sofrem todo o tipo de distorções, a figura deste santo é uma bússola a que se pode recorrer, para recordar mais uma vez o plano original de Deus para a família e o matrimónio.
No caso da canonização de Peter To Rot, foi pedida uma dispensa por milagre. Numa entrevista concedida à agência noticiosa FIDES, o padre Tomas Ravaioli, missionário do Instituto do Verbo Encarnado (IVE) e vice-postulador da Causa, explica as muitas dificuldades encontradas para certificar o milagre e por que razão foi pedida a dispensa.
Há duas coisas importantes a dizer a esse respeito. Em primeiro lugar, «um número impressionante de sinais e graças são atribuídos à intercessão de Peter To Rot». O missionário transalpino prefere chamar-lhes “sinais”, porque os milagres exigem aprovação eclesiástica. Na Papua-Nova Guiné, as pessoas têm vindo a receber todo o tipo de sinais através da intercessão do ainda beato catequista mártir. Em segundo lugar, neste país, não existem hospitais, médicos ou profissionais que possam testemunhar ou comprovar esses sinais, nem existem registos escritos ou documentados. Isto porque as pessoas nas aldeias são muito simples e seguem uma cultura oral. Esta falta de recursos torna muito difícil “demonstrar” ou “provar” um milagre. Por esse motivo, “foi pedida ao Papa Francisco uma dispensa da exigência de milagres, pois ela teria sido quase impossível de cumprir”.
O pedido de dispensa do milagre foi feito no início de 2024, com a esperança de que a canonização ocorresse durante a Viagem Apostólica do Papa Francisco. Embora a resposta favorável à dispensa tenha chegado poucas semanas depois, “ainda havia muito trabalho a fazer na preparação da Positio e noutros assuntos”. Durante a visita papal, em Setembro de 2024, o padre Tomas Ravaioli teve a oportunidade de conversar com o Santo Padre, aproveitando para lhe agradecer a ajuda na Causa, e este disse-lhe: «Quero canonizá-lo eu próprio».
A canonização de To Rot é um grande encorajamento para que todos os católicos da Papua-Nova Guiné continuem a esforçar-se no caminho da santidade pessoal. «Ela recorda-nos que a santidade não é um luxo, mas uma necessidade, e que se Peter To Rot conseguiu alcançá-la, nós também podemos», diz o missionário. Além disso, o testemunho de To Rot proclama alto e bom som ao mundo inteiro que «o plano de Deus para a família e o matrimónio é um homem e uma mulher para toda a vida, até que a morte os separe». A unidade e a indissolubilidade do matrimónio são constantemente atacadas, deturpadas e ridicularizadas pelo mundo moderno.
Peter To Rot, tendo derramado o seu sangue em defesa destas verdades, recorda-nos que é mais importante obedecer a Deus do que aos homens.
Joaquim Magalhães de Castro