O ambiente político em Portugal entrou em cadência eleitoral, por força de circunstâncias que muitos dos seus promotores gostariam de ter evitado.
Denominada campanha pré-eleitoral, embora seja de facto uma verdadeira campanha eleitoral, os políticos portugueses, entre os quais se enquadra o próprio Presidente da República, não evitam declarações, acusações, “silêncios” de compromisso, ou mesmo a ausência de mais medidas de austeridade por parte do Governo, requeridas pela Comissão europeia, denunciam que o País já está em período eleitoral, muito antes do tempo oficial. E, desta vez, em consequência da proximidade das eleições legislativas e presidenciais, que o Presidente não quis evitar, os portugueses vão defrontar-se com uma dupla “salada” eleitoral, partidarizando ainda mais a escolha presidencial, num registo tão condenado no papel exercido por Cavaco Silva.
Se as escolhas a fazer pelos eleitores nas próximas legislativas ficassem circunscritas ao contexto nacional e ao papel desempenhado pelos partidos da coligação governamental, tenho muitas dúvidas que os eleitores voltassem a confiar o seu voto aos partidos que, tendo invertido o sentido das suas anteriores promessas eleitorais e apesar de todos os sacrifícios impostos aos cidadãos, deixaram o País num lamentável estado.
Hoje o índice Bloomberg classifica Portugal no 10° lugar das economias mais miseráveis entre 51 países (pior que a Indonésia, a Eslováquia, etc.); o número de portugueses com salário mínimo triplicou desde o início da crise; as desigualdades sociais aumentaram exponencialmente; o desemprego em 2014 atingiu os 13,9% mas, se contabilizarmos as pessoas que querem trabalhar mas desistiram de procurar emprego, e os que trabalham a meio tempo porque não conseguem a tempo inteiro, essa taxa passa para cerca de 20,5%; aproximadamente 350 mil portugueses saíram de Portugal entre 2011 e 2013 (cerca de 8% da população activa); e o Sistema de Saúde pública rebenta pelas costuras e a Educação está sem meios nem rumo.
No entanto, e no que respeita a escolhas, o eleitorado vai ter que se preocupar muito mais com as opções partidárias da oposição nacional. Agora, com esta “embrulhada” União Europeia – a braços com os “desviantes” gregos, com a grave situação entre a Rússia e a Ucrânia, com as consequências da já próxima reacção eleitoral dos espanhóis, face ao fenómeno “Podemos”, e a insatisfação geral muitas vezes reprimida pelos Governos nacionais, devido à falta de resultados das suas políticas económicas – os cidadãos portugueses, conscientes das suas actuais limitações nacionais, face ao poder exercido por Bruxelas e às propostas das suas organizações políticas, vão estar perante uma encruzilhada de decisões que vão desde a aceitação da actual política nacional e europeia, até à sua completa rejeição, passando por aquelas que sugerem algumas alterações na forma, sem rejeitar os actuais conteúdos.
Nesta dependência nacional em que vivemos e ao ritmo a que os fenómenos políticos europeus se desenvolvem, os eleitores, para além da diversidade de escolhas a que vão estar sujeitos e ao descrédito em que têm caído muitos dos homens e mulheres que fazem parte da nossa comunidade política, vão necessariamente hesitar, senão abster-se. E, se tomarem esta última decisão, não será porque querem abdicar da democracia e voltar ao “antigo regime” de má memória. No entanto, aumentar ainda mais o nível das abstenções que se têm verificado nos últimos actos eleitorais terá graves consequências na legitimação dos poderes políticos que se vierem a constituir.
Na verdade, os portugueses querem sair da situação desgraçada em que têm vivido e daquela que os espera, se continuarmos nesta direcção, mas não o querem a qualquer preço. Querem igualmente pessoas, à frente dos destinos da nação, que lhes inspirem confiança pela sua capacidade, honestidade, humanidade, sinceridade, criatividade e vontade, para conduzir o povo ao respeito que merece, no contexto dos restantes povos europeus, mesmo que isso signifique mais um período de sacrifícios para manter a sua dignidade e não ajoelhar perante a arrogância dos impositores.
Se os nossos políticos aproveitarem estas eleições para nos convencerem destes propósitos, o povo saberá recompensá-los com o seu voto. Se pensarem que o actual “modelo” de actuação é eterno e suficiente, serão eles a encontrar-se brevemente numa verdadeira encruzilhada!
Luis Barreira