A semana que passou entre duas crónicas tinha todas as características para vir a ser uma semana calma para os portugueses e o seu Governo.
Segundo um jornal económico nacional, a economia portuguesa tem todas as condições para crescer este ano 2,5%, contra os 1,5% esperados pelo Governo, e a dívida pública baixar ainda mais do que antes foi previsto pelo Executivo. Excelente (dizemos todos).
Pena é que tais sinais positivos para o nosso desenvolvimento económico nada tenham a ver com a nossa política governativa, mas sim com o preço do barril de petróleo que se mantém em 60 dólares e que, no Orçamento de Estado para este ano, estava previsto em cerca de 96,7 dólares…
A semana decorria calma e fria, mas como “não há bela sem senão”, e habituados que estamos aos “tropeções” do Governo, ficámos à espera de mais um “deslize” deste elenco governativo. E ele veio a acontecer onde menos se esperava.
Na Assembleia da República, durante uma sessão que contava com a presença do ministro da Saúde, os portugueses assistiram em directo a um episódio inédito. Um doente infectado com Hepatite C irrompeu pela sala aos gritos, suplicando ao ministro que não o deixasse morrer, permitindo que lhe fosse prestado um tratamento curativo que já existe mas que, devido ao seu elevado preço, o Ministério da Saúde não autorizava a sua compra.
Em sua defesa estavam várias centenas de doentes que contraíram esta doença e que aguardam, há mais de um ano, que o ministro acabe as negociações com o laboratório farmacêutico que detém esse medicamento, tornando-o acessível aos doentes, alguns dos quais já entretanto faleceram.
A atitude daquele homem, que ocasionou um silêncio de morte naquela sessão parlamentar, deu resultados imediatos. Um dia depois, o Governo tinha finalizado a negociação com o tal laboratório e, ao que parece, em condições de preço excelentes, e o medicamento passou a fazer parte do sistema de saúde pública, evitando a morte certa de todos aqueles que, no País, sofrem desta doença.
Pergunto: será que é preciso gritar para pôr este Governo a trabalhar como deve ser?
A gritar não, mas a dar música ao ministro da Educação estão os professores de música do País, que decidiram protestar frente ao Ministério contra o facto de estarem com salários em atraso há mais de seis meses. A afectar milhares de alunos, professores e responsáveis pelos estabelecimentos de ensino desta disciplina, que faz parte do sistema curricular, a falta de pagamentos levou-os para um concerto improvisado na rua, às portas do Ministério.
Não sei se o ministro ouviu, se é surdo ou se não gostou da música. Talvez despachasse mais depressa a burocracia que emperra os pagamentos se a “música” fosse outra.
A dar-nos “música” está igualmente o Primeiro-Ministro.
Já nos habituámos ao ar sério e concludente com que o nosso PM faz as suas afirmações, mesmo quando elas são contraditórias com o que antes afirmou. O que é de espantar é que tal se passe com um intervalo de poucos dias. Senão vejamos:
A propósito das propostas do novo Governo Grego, afirmou (sem algum respeito de Estado para com o colega) que se tratava de uma “brincadeira de crianças”. Passados uns dias, os gregos afirmaram que tudo aquilo de positivo que conseguissem negociar com a Europa deveria ser aplicado a todos os países, inclusivamente a Portugal, ao que Passos Coelho respondeu ser um “abuso”. Mais tarde, interrogado pelos jornalistas, considerou que tudo o que for aprovado para a Grécia nós também queremos.
Tínhamos a noção de que o Governo Português, para além da austeridade decretada pela “frau” Merkel, não tinha outra estratégia para o País, mas a funcionar como um permanente “cata-ventos” ele é, verdadeiramente, arrebatador.
Mais um escândalo financeiro acaba de rebentar, desta vez o do banco HSBC da Suíça.
À hora que escrevo estas linhas ainda não se sabem os nomes, mas já foi divulgado que cerca de 220 portugueses, com contas que ascendem a muitos milhões de euros, estão envolvidos num esquema fraudulento de evasão fiscal proporcionado por esse banco. Ainda não digerimos os nossos BPPs, BPNs, BES e restantes más companhias e eis que mais uma “poça suja” financeira vem à luz do dia.
Perante tudo a que temos assistido apetece-me repetir uma frase popular: “feliz foi Ali-Babá, que não viveu em Portugal e só conheceu 40 ladrões”.
Luis Barreira