Um problema atrás do outro

Esta foi a semana do desespero com o frigorífico e com o novo bote. Dias depois de termos regressado de Carriacou e de nos termos instalado em St. George, o nosso frigorífico deixou de funcionar.

A princípio pensava que fosse a caixa controladora que tivesse queimado, à semelhança do que já tinha acontecido no início desta aventura, na República Dominicana, e que se resolveu trocando por uma nova que custou algumas centenas de patacas. Depois de chamar um técnico a bordo, descobrimos que o problema era o compressor que tinha deixado de funcionar.

Contas feitas, preferimos comprar o conjunto completo do compressor, caixa controladora e unidade de frio, pois o preço do compressor, só por si, é mais de metade do preço de um conjunto completo. Sendo que tínhamos uma máquina já com uns anitos, foi mais sensato adquirir uma nova, mantendo a antiga para peças ou para, mais tarde, a instalar com um novo compressor e um novo evaporador dentro da nossa arca frigorífica. Esta tem uma capacidade de 320 litros e precisa de muito frio. Equipá-la com duas unidades de frio será o ideal especialmente em climas quentes.

Foram-nos colocadas várias opções, mas a contenção de custos fez-nos optar, inicialmente, por uma unidade mais barata e com a mesma potência. Acontece que devido a um problema técnico com o novo conjunto (estava a verter óleo) fomos obrigados a adquirir um modelo um pouco mais forte, por um preço também mais elevado.

O ideal seria o problema ficar resolvido mas, como tem sido apanágio nesta viagem, um problema nunca vem só! Quando chegou o momento de instalar a unidade deparámos que as válvulas de ligação não eram compatíveis, sendo diferentes das originais. Como decidimos manter o evaporador (o mecanismo de frio) tivemos de cortar os tubos de cobre e proceder à sua soldadura. As novas válvulas iriam demorar mais de duas semanas a chegar, havendo sempre a necessidade de proceder a trabalhos de soldadura. Como o frigorífico é de extrema importância – ainda para mais quando há crianças a bordo – optámos por ligar directamente os tubos de cobre por onde circula o gás.

Correu tudo bem até que surgiu um novo problema: a ligação do tubo de gás ao evaporador (no nosso caso é uma caixa de aço inox com capacidade para quatro litros de líquido refrigerante) quebrou. Foi tudo desmontado, soldado e colocado no local, rezando para que estivesse a funcionar. Após dois dias de intenso trabalho, o sistema ficou a trabalhar, aparentemente sem fugas ou outro tipo de problemas. Depois de vários dias sem frio e a funcionar sob calor abrasador de dia e de noite, a caixa frigorífica está com uma temperatura elevadíssima. Levá-la a valores de refrigeração e de congelação vai demorar alguns dias, ou mesmo semanas. O sistema no barco é, na essência, igual ao de uma casa, mas com ligeiras diferenças, a começar pelo facto de funcionar a 12 volts, o que o torna mais lento e mais susceptível a variações.

Como já aqui tínhamos referido num artigo anterior, antes de termos rumado a Carriacou para retirar o veleiro da água, procedemos à encomenda de um pequeno bote rígido. Fizemos o pagamento de metade do montante, para que a encomenda fosse feita, ficando acordado que pagaríamos o remanescente assim que o bote chegasse, em finais de Agosto. Para minha surpresa, fui informado que o bote não tinha chegado no contentor de Agosto (recebem mensalmente da casa-mãe em St. Martin). Para agravar o desespero nem se dignaram a oferecer qualquer solução. «– Não veio, não veio, assunto arrumado!», foi esta a resposta.

Dado que a pessoa que recebeu a encomenda, a gerente-assistente, se encontrava de férias, decidi não insistir mais e regressar quando ela voltasse ao serviço. Espero que se resolva mais este problema porque precisamos realmente do bote. O nosso insuflável está em muito mau estado e não me apetece gastar mais dinheiro a remendá-lo. Para terem uma ideia da gravidade do problema, o ar não se mantém por mais de duas horas. Temos de estar constantemente a bombeá-lo sempre que o colocamos na água. Este é nosso meio de transporte para nos deslocarmos de um lado para o outro. Com um bote rígido acabam os problemas com a perda de ar, para além de que oferece a vantagem de ser utilizado a remos e à vela. Aliás, irá servir como escola de vela para a Maria.

Nos próximos dias, se não surgir mais algum imprevisto, iremos proceder à preparação do Dee. Não há muito a fazer mas queremos estar prontos para sair a qualquer momento.

Uma pequena reparação que tinha de ser feita na vela do enrolador já foi executada por mim. Agora quero substituir um dos cabos que temos no mastro, que utilizamos, principalmente, para ajudar a içar o bote para o convés, mas que pode ser usado para levantar outra vela ou para substituir o cabo que segura a vela do enrolador. Depois disso e de colocarmos tudo o que se encontra no poço e no convés no seu devido local, estaremos prontos para levantar âncora.

JOÃO SANTOS GOMES

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