TRABALHO MISSIONÁRIO ENTRE OS PIGMEUS BAYAKA

TRABALHO MISSIONÁRIO ENTRE OS PIGMEUS BAYAKA

Jornada Mundial da Juventude distante ainda… 

Tão só um ano em contacto próximo com os pigmeus Bayaka residentes na missão de Monasao, na diocese católica de Berbérati extremo sudoeste da República Centro-Africana, o padre Michele Farina, sacerdote Fidei Donum da diocese de Savona, sente-se já na pele dos seus fiéis; testemunha privilegiada dos “lados claros e obscuros” da vida local. “Os Bayaka conhecem bem todas as estações e em todas as épocas do ano sabem o que a floresta lhes pode dar”, confidencia ele ao repórter da agência noticiosa FIDES a propósito do fim da estação seca, “a época ideal para a caça”. Além da caça – obtida com recurso a redes, armadilhas e lanças afiadas –, a floresta oferece ainda nessa época “suculentas” térmitas, preparadas num molho especial e acompanhadas com mandioca e coco. 

Após oito anos de actividade pastoral em Cuba, o padre Farina, apercebendo-se do risco de “perda de identidade” vivido por esta tribo de pigmeus repartida geograficamente por diversos países africanos, decidiu juntar esforços com os padres da Sociedade das Missões Africanas (SMA). “Os Bayaka constituem uma realidade étnica numericamente pequena, mas muito importante. Não só para este país, mas também para toda esta região central de África”, alerta o sacerdote transalpino. 

Apenas há vinte anos, e graças à preciosa ajuda dos missionários locais, conseguiram os pigmeus Bayaka o seu legítimo direito ao voto; e, ao depositar o boletim nas urnas, “fizeram-se ouvir pela primeira vez junto das mais altas instâncias do seu país”. Mas, como é óbvio, o desafio de ajudar a preservar a identidade e a cultura dos pigmeus não se consegue com declarações abstractas e lutas teóricas, antes se manifesta nas obras e nos gestos que caracterizam e preenchem o quotidiano missionário. Em Monasao, por exemplo, são levadas a cabo inúmeras actividades paroquiais com grupos de oração, sobretudo entres os jovens e as crianças, que assim se vão preparando para os Sacramentos. De fundamental importância, a presença dos catequistas: referência da comunidade e complemento ao trabalho dos sacerdotes, “que nem sempre podem estar presentes”. A missão dos religiosos da SMA nessa região estende-se, além de Monasao – onde o padre Farina trabalha na companhia do confrade Davide Camorani –, a outras quatro paróquias. 

Iniciada há 48 anos, graças aos esforços do missionário francês René Ripoche, a “missão Bayaka” deve-se à decisão de um grupo de pigmeus de fazerem a transição de uma existência seminómada, na floresta, para uma existência mais sedentária, na aldeia, sendo Monasao o local escolhido por ali existir uma nascente de água. Com o tempo, tanto a aldeia quanto a missão foram crescendo e novos missionários foram chegando. Hoje, Monasao conta com seis mil habitantes, metade deles pigmeus Bayaka. O trabalho apostólico dos missionários traduz-se também em projectos sociais para benefício de todos. Os padres gerem uma escola para crianças pigmeus, “de seis a oito anos de idade”, que serve principalmente para facilitar a sua integração futura na escola pública. Trabalham aí quatro professores e quatro cozinheiros, “todos eles pigmeus”. Outro dos projectos é um centro de saúde onde dezenas de pessoas de diferentes aldeias vão diariamente para serem tratadas ou vacinadas. 

A coexistência de pigmeus e outras etnias centro-africanas, apesar de não ser conflituosa, está longe de ser cordial. Habituados a viver na pobreza, os pigmeus mantêm-se bastante humildes e submissos, “pouco habituados a viver em sociedade e a obedecer às suas dinâmicas próprias”. Por isso, e infelizmente, muitas vezes são ludibriados, abusados e tratados como mão-de-obra barata. 

A propósito da Jornada Mundial da Juventude de Agosto próximo, lamenta o padre Michele Farina ter sido até agora impossível levar esta iniciativa aos jovens da sua missão. “Viajar para o estrangeiro é algo que infelizmente continua longe das possibilidades financeiras da esmagadora maioria dos centro-africanos; e no caso dos pigmeus essa é uma realidade ainda mais pungente”. Durante uma recente deslocação à Itália, o padre Farina conversou sobre o assunto com os responsáveis da sua diocese em Savona. É seu objectivo agora levar jovens pigmeus a futuras Jornadas Mundiais da Juventude, “para que alguns deles possam fazer esta experiência e trazê-la de volta às suas paróquias”. Mas que para que isso aconteça terá de haver uma melhoria substancial na situação política, social e económica da República Centro-Africana. Os nefastos efeitos da actual turbulência e instabilidade estão à vista: falta de empregos e de escolas com condições adequadas ao ensino. 

Junto à fronteira com os Camarões e o Congo, longe das vias de comunicação, o dia-a-dia em Monasao é relativamente pacífico. Longe se mantêm, por enquanto, os confrontos entre os grupos rebeldes e os mercenários do grupo Wagner presentes na África Central, que contam com o apoio do actual presidente, Faustin-Archange Touadéra. 

Os pigmeus, predominantemente católicos, mantêm ainda tradições rituais tribais ligados ao quotidiano e caracterizados por um forte vínculo com a floresta, que por sua vez se expressa nas suas danças e cantos. 

Joaquim Magalhães de Castro 

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