A presença de Cristo na Santa Eucaristia
«Mestre, onde vós morais?». Pois que Ele vive também na Santa Eucaristia: no Pão e no Vinho Eucarísticos. Jesus proclama: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida dentro de vós» (Jo., 6, 53).
A Eucaristia sempre foi importante na vida do cristão. A Eucaristia é “a fonte e o ápice de toda a vida cristã” (Concílio Vaticano II, Lumen gentium nº 11); “os outros sacramentos, assim como todo o ministério da Igreja e toda a obra do apostolado, estão ligados à Sagrada Eucaristia e a ela se dirigem” (Vaticano II, Optatam totius nº 5). “A Eucaristia é o maior dom do Sagrado Coração de Jesus” (São Paulo VI). É “o dom mais precioso que a Igreja pode ter na sua peregrinação pela história” (São João Paulo II). No Sacramento da Eucaristia, “Jesus continua a amar-nos ‘até ao fim’, até à oferta do seu corpo e do seu sangue” (Bento XVI).
Na Santa Eucaristia celebramos o mistério pascal, a morte e ressurreição de Cristo. “Este é o mistério (o sacramento) da fé”, proclama o sacerdote após a consagração do pão e do vinho. É um encontro com o Ressuscitado, com Jesus que vive.
A Eucaristia é comunhão de amor, a comunhão com o Senhor implica a comunhão com os irmãos porque todos participamos do mesmo pão: «Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão» (I Cor., 10, 16-17). A Eucaristia também é denominada de Sacramento da Caridade (São Tomás): amar a Deus, amar a todos os próximos, especialmente os pobres e oprimidos. A Eucaristia é também, como sublinha Bento XVI, o Sacramento da Paz.
Como comunhão de amor pacífico, misericordioso e alegre, a Sagrada Eucaristia é um apelo à unidade (cf. I Cor., 10, 16-17): “um só Pão que nos ajuda a comportar-nos como um só Corpo, como um só Povo”. A celebração eucarística reúne os cristãos como comunidades de discípulos e membros da Igreja de Cristo. Além disso, a Eucaristia é um chamamento à missão: testemunhar o incrível amor de Jesus, compartilhando a nossa vida ao serviço dos outros, partilhando o nosso pão com quem não tem pão.
A Eucaristia tem uma dimensão escatológica: «Quem come deste pão viverá para sempre» (Jo., 6, 51). Não nos introduz imediatamente no céu, mas, como diz São Tomás, dá-nos a força para lá chegar. A Eucaristia reaviva a nossa esperança no refúgio.
Dos relatos evangélicos e de São Paulo (I Cor., 11, 23-26), quatro realidades sobressaem muito claramente. Em primeiro lugar, a Eucaristia é a presença real de Cristo: Ele dá o Seu Corpo a comer e o Seu Sangue a beber. Em segundo lugar, a Eucaristia é o Sacramento: graça e amor são concedidos ao Homem. Terceiro, a Eucaristia é o Sacrifício. E quarto, a Eucaristia é o memorial vivo da paixão, morte e ressurreição de Cristo.
SEM A EUCARISTIA NÃO PODEMOS VIVER
(1) A Eucaristia é Presença Real – A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV, no ano 1264, que solicitou a São Tomás de Aquino que escrevesse todo o Ofício divino e textos para a Missa desta nova Festa. O objectivo era o de proclamar a fé na presença real de Cristo na Eucaristia, no Santíssimo Sacramento.
Desta presença real nasceu a devoção ao Santíssimo Sacramento. Nós o adoramos no Santíssimo Sacramento. Nós o visitamos em tantas igrejas e capelas. São Manuel González, bispo (1877-1940), canonizado em 2016 pelo Papa Francisco, era um grande devoto da Eucaristia, e ficou conhecido como o “Bispo do Sacrário” (el Obispo del Sagrario). Difundiu a devoção à Eucaristia e incentivou a sua recepção frequente. Defendeu pelo exemplo visitas a “Sagrarios abandonados” (“Sacrários abandonados”).
(2) A Eucaristia é o Sacramento dos Sacramentos – “O maior de todos os milagres”, diz São Tomás. É um acto de adoração para honrar a Deus, um acto de reparação pelos nossos pecados e um acto de petição pela graça e glória divinas. É, além disso, um acto de acção de graças (este é o significado da “Eucaristia”).
(3) A Eucaristia é o Santo Sacrifício – É uma reapresentação, uma reactualização do mesmo, único e irrepetível sacrifício da Cruz: Cristo morreu uma só vez. No Calvário e no altar, após a consagração, temos o mesmo sumo sacerdote Jesus, e a mesma Hóstia – Jesus, sacrificado agora de maneira não sangrenta.
(4) A Eucaristia é o memorial vivo (ao mesmo tempo que é comemorado, é revivido!) do sacrifício da cruz – «Fazei isto em memória de mim», disse Jesus. Significa principalmente “que quebrem os vossos corpos e derramem o vosso sangue em memória de mim” (Francis Moloney).
Com efeito, a Eucaristia é o coração da liturgia, do culto cristão. Os primeiros cristãos entenderam-no muito bem; e, portanto, não precisavam ser obrigados a ir à Missa. Estavam bem cientes do que lemos num importante documento antigo: “Quem não celebra o Domingo diminui a Igreja e priva o Corpo de Cristo de um membro” (Didaschalia Apostolorum).
Não é à toa que o Domingo era tão essencial na vida dos cristãos dos primeiros séculos! Todos iam à Missa – para “a fracção do Pão” -, ainda que lhes fosse proibido pelos Governos “pagãos”. Quando os cristãos foram apanhados a celebrar Missa clandestinamente, as autoridades civis detiveram os “infractores”, sendo que muitos foram enviados para a prisão; e não raras as vezes, enviados para o martírio. Um juiz perguntou-lhes: «– Por que celebram clandestinamente os vossos rituais ao Domingo, quando sabem que se forem apanhados, vão parar à cadeia?». Responderam os cristãos em uníssono: «– Somos cristãos e é-nos impossível viver sem a Eucaristia». Incrível o que depois os incrédulos disseram deles: «– Vejam como se amam».
Pergunto ao leitor: podemos viver sem a Eucaristia, especialmente a Eucaristia dominical?
Fausto Gomes, OP