Em Lisboa, ao encontro de todos
A igreja da Sé Catedral acolheu no passado Domingo, 9 de Julho, a cerimónia de despedida dos mais de oitenta jovens de Macau que vão marcar presença na 37.ª edição da Jornada Mundial da Juventude, certame que deverá atrair a Lisboa para cima de seiscentos mil jovens católicos, provenientes de todo o mundo, entre 1 e 6 de Agosto. O CLARIMesteve à conversa com alguns dos jovens que se vão deslocar a Portugal.
Na cerimónia, presidida pelo bispo D. Stephen Lee, participaram muitos dos jovens que vão rumar, no final deste mês, à capital portuguesa, mas também pais, catequistas e alguns dos sacerdotes que acompanharam, ao longo dos últimos meses, a preparação dos grupos que vão representar a diocese de Macau na maior peregrinação juvenil do mundo.
Nas palavras que dirigiu aos jovens, o bispo de Macau recordou as dificuldades que poderão vir a encontrar em Portugal, e também os aspectos e os desígnios que transformam a participação na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) numa experiência inesquecível. D. Stephen Lee considera que a presença no maior evento dinamizado pela Igreja Católica constitui uma oportunidade para aprender e partilhar, bem como para se poder conhecer a verdadeira face da Igreja. «Vão participar nesta Jornada Mundial da Juventude para partilhar o que aprenderam, para partilhar a vossa fé e para contarem aos outros sobre a vossa experiência de fé. Mas vão também para ouvir os outros, para que possam aprender com a experiência de fé deles. Comunicação e comunhão. É esse o propósito da Jornada Mundial da Juventude. Estar em comunhão com os outros», defendeu o prelado, perante os jovens peregrinos. «É também uma oportunidade para ver a verdadeira face da Igreja. A Igreja não é apenas a que reza em Chinês, Português e Inglês, ou em qualquer outra língua. A Igreja somos todos nós, juntos», acrescentou.
Os quatro grupos que participaram na cerimónia do passado Domingo vão convergir em Lisboa durante os dias em que a cidade acolhe a JMJ propriamente dita. Contudo, a deslocação à Europa comporta experiências e itinerários muito distintos, consoante a dimensão de cada uma das comitivas ou a orientação espiritual dos participantes. O maior dos grupos, o dos jovens católicos de língua chinesa, coordenado pela Comissão Diocesana da Juventude, vai dividir a estadia em Portugal entre a Maia, na região do Porto, e Lisboa, com uma jornada – incontornável – de peregrinação a Fátima. É, de resto, na região da Cova da Iria que vão ficar inicialmente alojados os 31 representantes da comunidade católica de língua portuguesa que irão marcar presença na JMJ. O grupo, liderado pelo padre Daniel Ribeiro, SCJ, vai viver os eventos da Semana Missionária em Alqueidão da Serra, a treze quilómetros d’“O Altar do Mundo”.
O sacerdote brasileiro – prepara-se para participar pela terceira vez numa Jornada Mundial da Juventude, depois de ter estado em Madrid, em 2011, e no Rio de Janeiro, dois anos depois – fez eco das palavras de D. Stephen Lee e lembrou a natureza universal da Igreja. «Em Lisboa não seremos católicos de língua portuguesa, de língua chinesa ou de língua inglesa. Seremos parte de uma Igreja una e universal, em Cristo e com Cristo», defendeu o vigário paroquial da Sé Catedral para a comunidade de língua portuguesa, na breve intervenção que proferiu durante a cerimónia.
COMUNICAÇÃO E COMUNHÃO
Para Manuel e Carolina Figueiredo, o regresso a Portugal tem este ano um sabor especial. Os dois jovens, de catorze e dezasseis anos de idade, partem ao encontro de avós, primos e amigos, mas também de outros jovens, provenientes dos quatro cantos do mundo, com os quais partilham o dom da fé. A exemplo do que sucede com a maior parte dos integrantes dos diferentes grupos que representam Macau na JMJ, Manuel e Carolina participam pela primeira vez no evento. O facto de se realizar no país onde têm as raízes familiares é para os dois jovens uma vantagem, embora o grande atractivo da peregrinação, defende Carolina, é mesmo a possibilidade de interagir com jovens católicos de todo o mundo. «É uma oportunidade muito especial. Há a questão da língua, que torna esta presença na Jornada mais fácil e mais conveniente para nós. A Jornada Mundial da Juventude decorre sempre em locais diferentes e desta vez decorre em Portugal. É muito bom para nós poder marcar presença», disse e reforçou: «É uma oportunidade formidável para que possamos aprofundar a nossa fé, para que possamos conhecer pessoas novas, com quem partilhamos a religião. No fundo, como foi dito, somos todos católicos, mas somos provenientes de diferentes partes do mundo. Na minha perspectiva, vai ser divertido interagir com essas pessoas, que não conhecemos, mas com as quais partilhamos uma religião em comum».
Para Moses, quase a fazer dezassete anos de idade, a perspectiva de partir ao encontro do outro é também o aspecto mais entusiasmante da participação na Jornada. O jovem, que integra a comitiva coordenada pela Comissão Diocesana da Juventude, leva na bagagem para Lisboa uma grande dose de curiosidade sobre a forma como os jovens de outros quadrantes vivem a sua fé, não esquecendo os fundamentos históricos que unem Macau e Portugal há quase cinco séculos. «É a minha primeira participação na Jornada Mundial da Juventude e gostava de poder explorar a ideia de diversidade associada a este evento. Gostava de aprender mais sobre a cultura dos outros e a forma como vivem a sua fé. Quero conhecer pessoas de todo o mundo, para além de ver o Papa e de aprender mais», assumiu. «Quero também aprender mais sobre a ligação entre Macau e Portugal e a história por detrás desta. Talvez possa aprender um pouco mais sobre esta ligação especial, compreender, por exemplo, de que forma se desenvolveu a gastronomia macaense e perceber o quão diferente é da gastronomia portuguesa e da gastronomia chinesa».
Se a perspectiva de partilhar ideias e expectativas com outros jovens, de diferentes línguas e latitudes, é para muitos dos participantes o maior dos atractivos da Jornada, para Manuel Figueiredo nada se compara à possibilidade de estar frente-a-frente com o Papa Francisco. O jovem, de catorze anos, diz estar pronto «para uma experiência única»: «É um orgulho o Papa ir a Portugal. Acho que vai ser muito giro interagir com pessoas de diferentes culturas e de diferentes países, mas estar na presença do Papa acho que vai ser muito interessante. Vai ser uma experiência única».
Dado que a deslocação se prolonga por cerca de duas semanas, a experiência de fé que espera os jovens da RAEM em Portugal não se esgota na JMJ. A deslocação a Fátima é, pois, encarada por muitos como um dos pontos altos da viagem. «A estadia em Fátima é uma boa escolha, pela ligação que tem a Nossa Senhora. É um dos locais que melhor representam a dimensão católica de Portugal e dos portugueses. Estou convencido que vai correr tudo bem», afirmou Joel Sousa, de quinze anos.
Sandra afina pelo mesmo diapasão. Com idade superior à da maior parte dos outros elementos que rumam a Portugal, a jovem integrou a equipa da Comissão Diocesana da Juventude que preparou a deslocação a Lisboa. Sandra já esteve em Portugal por mais do que uma ocasião, mas prepara-se para visitar Fátima pela primeira vez. «Tenho alguns amigos e colegas de Portugal e esta não é a minha primeira vez no País, mas será a primeira em Fátima. Sempre os ouvi a falar de Fátima com muita devoção e estou muito entusiasmada por finalmente lá poder ir», explicou a jovem, de trinta anos de idade.
A cerimónia de Domingo terminou com uma fotografia de grupo, um registo para mais tarde recordar (ver primeira página desta edição).
Marco Carvalho