TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO – Ano A – 11 de Dezembro

TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO – Ano A – 11 de Dezembro

A Sua presença entre nós faz a vida valer o esforço

Há momentos na vida em que gostaríamos de ter respostas e certezas, principalmente quando estamos no meio de situações graves em que tudo está em jogo, em que enfrentamos dificuldades e dores, porque é nesses momentos que as dúvidas nos assolam com mais força.

No Evangelho deste Terceiro Domingo do Advento (Mt., 11, 2-11) encontramos João Baptista na prisão, à espera do seu destino. Ele ajudou o povo de Israel a preparar-se para a vinda do Messias, mas “meteu-se” em problemas ao denunciar as injustiças e a corrupção das instituições políticas e religiosas.

Na última parte da sua vida, João investiu tudo em Jesus, apesar das diferenças nos seus estilos de vida e no conteúdo das suas proclamações. João vivia no deserto; Jesus misturava-se com as pessoas; João sublinhou a penitência; Jesus falou de misericórdia e compaixão. Diante da execução, João sentiu necessidade de encontrar algumas respostas.

«És tu aquele que há de vir, ou devemos procurar outro?». A pergunta de João a Jesus não foi feita apenas para esclarecer uma crença religiosa. A questão foi muito mais pessoal: “Valeu a pena toda a minha vida de sacrifício e labuta? Fiz a escolha certa para coloca-Lo à frente de tudo o resto? Os sofrimentos passados fizeram sentido ou falhei na minha missão?”.

A resposta de Jesus é mais sobre a realidade do que sobre as ideias: «Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres têm a boa nova que lhes foi proclamada». As palavras e acções de Jesus, a Sua própria presença, trouxeram nova vida e esperança onde todos viam apenas angústia e desespero.

A nossa fé desperta quando o coração sente a ligação entre a auto-revelação de Deus e a nossa realidade concreta. O Mistério da Encarnação permite-nos ver esta ligação, possível em todas as circunstâncias da vida humana, mesmo na morte. Não há outra maneira de descrever esta conexão que não seja um “relacionamento”, um “alguém” cuja presença torna tudo significativo. Uma presença que une todos os eventos dispersos da nossa vida – até mesmo as nossas falhas e pecados – numa história unificada pela Graça. Aqueles que encontraram Jesus com o coração aberto sentiram que o próprio Deus havia entrado na sua vida, especialmente na sua parte mais escura.

Às vezes podemos ter dúvidas sobre a importância da Sua presença, como João também teve. Às vezes podemos até negar o nosso relacionamento com Ele, como Pedro fez. Mas o nosso coração sabe bem, por experiência, que sem Ele nada faz sentido.

O Advento é um convite para ver o poder da Sua presença em acção, aqui e agora, especialmente através do exemplo amoroso da Sua testemunha, a Igreja. João foi o primeiro a confirmar, com o seu sangue, o que o seu coração sempre soube desde o seio de sua mãe: Jesus é o Emanuel, Deus entre nós. No coração de João a realidade objectiva (os sinais) e a convicção interior coincidiram no final, e isso deu-lhe a força para oferecer alegremente a sua vida a Jesus, em jeito de gratidão.

Mas precisamos estar cientes de que os sinais realizados por Jesus, embora objectivos, não são provas em si mesmos: somente quem tem fé pode lê-los. De facto, Jesus conclui, afirmando: «Bem-aventurado aquele que não se ofender comigo». Aqueles que esperam que Jesus seja um Messias, que venha resolver todos os nossos problemas ou fazer-nos escapar dos desafios da vida, ficarão totalmente desapontados, “ofendidos” com Jesus. O Catecismo da Igreja Católica explica, claramente, que os milagres não se destinam a satisfazer a curiosidade das pessoas ou o desejo de magia. Apesar dos Seus evidentes milagres, algumas pessoas ainda rejeitaram Jesus; ele foi até acusado de agir pelo poder dos demónios (cf. CIC nº 548). Ao libertar alguns indivíduos dos males terrenos da fome, injustiça, doença e morte, Jesus realizou sinais messiânicos. No entanto, Ele não veio para abolir todos os males aqui em baixo, mas para libertar os homens da mais grave escravidão, o pecado, que os frustra na sua vocação de filhos de Deus e causa todas as formas de servidão humana (cf. CIC nº 549).

Este é o salto de fé que nós, juntamente com João, somos convidados a dar durante o Advento: acreditar que o Plano de Salvação de Deus não é impedido pelas forças do mal, que muitas vezes vemos ao nosso redor e até dentro de nós. Quando, em união com Jesus, oferecemos as nossas acções quotidianas, para que também a nossa vida faça parte deste Plano, então tudo adquire um significado mais profundo, um significado de amor. Quer estejamos numa cela de prisão ou num quarto de hospital, numa sala de aula ou num escritório, o que nossos corações mais desejam é a certeza de que não somos deixados sozinhos a enfrentar os desafios da vida e que a Sua presença faz com que essa oferta valha o esforço – um motivo de alegria, neste Domingo “Gaudete”!

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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