TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (202)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (202)

Como lidar com a tentação

No início do Seu ministério, Jesus foi tentado pelo diabo (Mateus 4, 1-11; Marcos 1, 12-13; Lucas 4, 1-13). O próprio Mestre foi tentado. Assim também como os seus seguidores.

O Catecismo da Igreja Católica, no ponto 2847, diferencia as provações das tentações: “O Espírito Santo permite-nos discernir entre a provação, necessária ao crescimento do homem interior” (cf. Lc., 8, 13-15; At., 14, 22; Rm., 5, 3-5; II Tm., 3, 12), e a tentação que conduz ao pecado e à morte (cf. Tiago 1, 14-15). Segundo o mesmo ponto, “devemos também distinguir entre ‘ser tentado’ e ‘consentir’ na tentação”. Ou seja, ser tentado não é pecaminoso, mas consentir com a tentação, é!

Continua o ponto 2847: “Finalmente, o discernimento desmascara a mentira da tentação: aparentemente, o seu objecto é ‘bom, agradável à vista, desejável’ (Gén., 3, 6), quando, na realidade, o seu fruto é a morte”. A tentação é sempre destinada a ser atraente. O diabo não nos pode tentar se o virmos como ele é. Tem pois que se disfarçar por forma a parecer bom e desejável. Lembram-se da Eva? «A mulher observou que a árvore realmente parecia agradável ao paladar, muito atraente aos olhos e, além de tudo, desejável para dela se obter sagacidade» (Génesis 3:6).

São Pedro explica por que razão passamos por provações: «Nesta verdade, exultais! Mesmo considerando que agora, e por algum tempo ainda, tenhais de ser afligidos por toda espécie de provação. Assim acontecerá para que a sinceridade da vossa fé seja atestada, muito mais preciosa que o ouro que se corrompe, ainda que refinado pelo fogo, resultando em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado» (I Pedro 1:6-7).

São Tiago também nos diz na sua Carta (1, 2-4): «Meus amados irmãos, considerai motivo de júbilo o facto de passardes por diversas provações. Porquanto sabeis que a prova da vossa fé produz ainda mais perseverança. E a perseverança deve ter plena acção, a fim de que sejais aperfeiçoados e completos, sem que vos falte virtude alguma».

Deus permite que sejamos tentados a fim de testar a nossa virtude e dar-nos uma oportunidade de crescermos e ganharmos mérito. Não obstante, Ele leva em conta a nossa capacidade e os nos supre com a Sua graça. Diz São Paulo, I Coríntios 10, 13: «Não vos sobreveio tentação que não fosse comum aos seres humanos. Mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além do que podeis resistir. Pelo contrário, juntamente com a tentação, proverá um livramento para que a possais suportar».

A tentação é impulso, é convite ao pecado. É um convite que pode aparecer de várias fontes:

(1) do mundo: os homens e a sociedade em geral, quando não trabalham com Deus em mente;

(2) da carne (a nossa natureza ferida), manifestada, segundo São João (I João 2, 16). (2a) da concupiscência da carne (mau uso do poder de procriação e outros prazeres sensíveis); (2b) da concupiscência dos olhos (abuso do poder de domínio sobre toda a criação material, o que, ironicamente, traz uma escravidão às coisas materiais); (2c) da soberba da vida (autonomia de Deus, abuso da liberdade, que vem do intelecto e da vontade do homem – cf. BST 197).

(3) do diabo, a quem São Pedro descreve como «um leão que ruge, procurando alguém para devorar» (I Pedro 5, 8). Como dissemos, é importante notar a diferença entre ser tentado (tal não é pecaminoso) e consentir na tentação (isso, sim, é pecaminoso). Além disso, mesmo que soframos a tentação, não nos devemos expor. “Uma pessoa brinca com as tentações, põe-se em perigo, brinca com a visão e com a imaginação, conversa sobre… estupidez. E então fica ansioso que dúvidas, escrúpulos, confusão, tristeza e desânimo possam assaltá-lo. – Deves admitir que não és muito coerente” (São Josemaría, Caminho, 132).

As tentações, por si mesmas, não nos levam a pecar. É a vontade que consente que causa o pecado.

Que coisas boas podem advir de uma vitória sobre a tentação? Jordan Aumann, OP, escreve em “Spiritual Theology” (Manila: University of Santo Tomas, 1982, pp 157-158): “A vitória sobre a tentação humilha Satanás, faz resplandecer a glória de Deus, purifica a nossa alma, enche-nos de humildade, arrependimento e confiança na assistência divina. Ele lembra-nos para estarmos sempre vigilantes e alertas, a desconfiarmos de nós mesmos, a esperarmos todas as coisas de Deus, a mortificarmos os nossos gostos pessoais. Leva-nos à oração, ajuda-nos a crescer em experiência e torna-nos prudentes e cautelosos na luta contra o nosso inimigo”.

Pe. José Mario Mandía

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *