Quais são as características da Fé?
Com o que já foi explicado anteriormente, podemos realçar as características da Fé.
1– A fé é um presente (uma dádiva). Quando Pedro afirmou que Jesus era o Messias, Jesus disse-lhe que soube isso sem ser através do raciocínio humano: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu (Mateus 16:17)».
“Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento e dá ‘a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade’” (Dei Verbum, nº 5).
2– É uma acção humana que não é contra a liberdade humana. Todas as acções humanas necessitam que a pessoa conheça e deseje o que está a fazer. Como a fé é uma forma de conhecimento, é necessário que pessoa aceite, apesar de não compreender totalmente o que lhe é revelado. Conhecer significa aceitar. E para se aceitar é necessário desejar aceitar, o que precisa do consentimento da vontade.
E o que é a Liberdade? O Catecismo da Igreja Católica nº 1731 refere: “A liberdade é o poder, radicado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, praticando assim, por si mesmo, acções deliberadas”.
Porque a fé é um acto humano, envolve o intelecto e a vontade, sendo uma acção que necessita de liberdade.
3– A fé necessita de conhecimento (exercício da razão), e por isso não pode ser contrária à razão. Não pode haver oposição entre a Fé e a Ciência.
Aristóteles disse uma vez que para se aprender tem que se acreditar – tem que se ter fé. Muitas das coisas que aprendemos não as sabemos por experiência directa, mas através de outras pessoas – pais, professores, escritores, pessoas com conhecimento nos seus respectivos campos. Mesmo que possam errar, ou possam não dizer a verdade, apesar de tudo acreditamos neles. Mas no caso da Fé Sobrenatural estamos a falar de Deus, que nunca nos engana nem pode ser enganado.
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (nº 29) diz-nos: “Embora a fé supere a razão, não poderá nunca existir contradição entre a fé e a ciência porque ambas têm origem em Deus. É o mesmo Deus que dá ao homem seja a luz da razão seja a luz da fé”.
Nunca poderá haver uma afirmação que seja verdadeira no plano sobrenatural e errónea a nível humano. Do mesmo modo, uma verdade natural nunca se poderá opor a uma verdade sobrenatural.
O Concílio Vaticano II, no documento “Gaudium et Spes” sublinha: “A investigação metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo de um modo verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será realmente oposta à fé, já que as realidades profanas e as da fé têm origem no mesmo Deus. Antes, quem se esforça com humildade e constância por perscrutar os segredos da natureza, é, mesmo quando disso não tem consciência, como que conduzido pela mão de Deus, o qual sustenta as coisas e as faz ser o que são”.
4– A fé, no sentido objectivo ou subjectivo como nós a estudamos, é sobrenatural. Ela vem-nos de Deus.
5– A fé não é apenas um acto pessoal, mas também um acto eclesial. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (nº 30) explica: “É ao mesmo tempo um acto eclesial, que se exprime na confissão: ‘Nós cremos’. De facto, é a Igreja que crê: deste modo, ela, com a graça do Espírito Santo, precede, gera e nutre a fé do indivíduo. Por isso a Igreja é Mãe e Mestra”. Acreditar é um acto de crente como membro da igreja.
São Cipriano escreveu: “Não pode ter a Deus por Pai quem não tem a Igreja por Mãe”.
Pe. José Mario Mandía