Qual a importância do momento presente?
QUARTA PETIÇÃO: DÁ-NOS HOJE O NOSSO PÃO DE CADA DIA
“HOJE” –Na oração que Ele nos ensinou, Jesus especifica que devemos pedir ao nosso Pai que nos dê «hoje o pão nosso de cada dia». “Hoje”, não esta semana ou no próximo mês. A frase lembra-nos as instruções de Deus a Moisés sobre o maná que Ele deu aos israelitas para comerem no deserto, conforme narrado no Capítulo 16 do Livro do Êxodo: «a comunidade israelita começou a murmurar contra Moisés e Arão em pleno deserto» (versículo 2), então «Jesus disse a Moisés: “Eis que farei descer pão do céu! Sairá o povo e colherá a porção de cada dia, a fim de que Eu o ponha à prova para ver se anda ou não na minha lei. Porém, no sexto dia, trarão para serem preparados dois tantos do que recolheram nos outros dias!”» (versículos 4 e 5).
Os israelitas foram abençoados com um novo tipo de pão a que chamaram «maná» (v. 31), com a instrução de «ninguém guardar o que colheu para a manhã seguinte! Mas eles não deram ouvidos a Moisés, e alguns guardaram para o dia seguinte certa provisão; porém, aquele alimento criou bichos e começou a cheirar muito mal. E, por isso, Moisés se indignou contra eles» (vv. 19 e 20).
«No sexto dia colheram pão em dobro» e o que sobrou «guardaram até a manhã seguinte, como Moisés ordenara; e não cheirou mal, nem criou qualquer bicho» (vv. 22 e 24). Mas alguns deles não seguiram as instruções e «saíram alguns do povo para colhê-lo, porém, de facto, não o acharam» (v. 27), ofendendo assim a Deus que disse a Moisés: «“Até quando recusareis obedecer aos meus mandamentos e minhas leis? Vêde que o Eterno vos deu o shabbãth, sábado, e que por isso vos dará ao sexto dia pão por dois dias. Cada pessoa fique onde está, ninguém deve sair de sua habitação no sétimo dia!”» (vv. 28 e 29).
O pão pelo qual rezamos não se refere apenas à nossa nutrição corporal. Também se aplica às nossas necessidades sobrenaturais. Deus dá-nos um suplemento diário de maná espiritual: a graça. A graça que recebemos todos os dias é a graça para aquele dia, não para o próximo. Isto é o que muitos santos e escritores espirituais chamam de “graça do momento presente”. E Deus quer que usemos essa graça para cumprir os nossos deveres naquele dia. «Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo» (Mateus 6, 34).
Por isso escreveu São Josemaría Escrivá: “Não esperes pelo Ano Novo para tomar resoluções: todos os dias são bons para as decisões boas. ‘Hodie, nunc!’ – Hoje, agora!” (Forja, 163).
A Irmã Faustina rezou assim:
“Ó Meu Deus
Quando olho para o futuro, o medo me inunda,
mas por que aprofundar-me no futuro?
Para mim, é precioso apenas o momento presente,
pois o futuro talvez não venha à minha alma.
O tempo que passou não está em meu poder!
Algo mudar, consertar ou acrescentar,
não o conseguiu nem o sábio, nem os profetas,
portanto, fique com Deus o que o passado em si encerrou.
Ó momento presente, tu me pertences por inteiro,
desejo-te usar o quanto estiver em meu alcance,
e, embora seja fraca e pequena,
Vós me dais a graça da Vossa omnipotência.
Por isso, confiando em Vossa misericórdia
caminho pela vida como uma criança,
e faço-Vos, diariamente, o ofertório do meu coração
inflamado de amor pela Vossa maior glória.”
(A Misericórdia Divina na Minha Alma, Caderno 1, 1)
A hora de responder à graça não é amanhã, mas agora. Porque se não usarmos a graça de hoje, ela desaparecerá amanhã.
“NOSSO” –O Papa Bento XVI explica: “[Rezamos] pelo nosso pão – e isso significa que também rezamos pelo pão dos outros. Quem tem pão em abundância é chamado a partilhar. Na exposição da Primeira Carta aos Coríntios – do escândalo que os cristãos causavam em Corinto –, São João Crisóstomo sublinha que «cada pedaço de pão, de uma forma ou de outra, é um bocado do pão que é de todos» (…) Ao expressar esta petição na primeira pessoa do plural, o Senhor está-nos a dizer: «Dê-lhes vocês mesmos de comer» (Marcos 6, 37)” (Jesus de Nazaré. Baptismo na Transfiguração, págs. 151 e 152).
“PÃO DE CADA DIA” –O adjectivo “diário” é uma tradução do Grego, “epiousios”. É uma palavra rara e incomum, como aponta o Papa Bento XVI (ver pág. 153 do seu livro citado acima). Em Latim, é traduzido como “supersubstantialis” – supersubstancial. O pão que pedimos não é apenas a necessidade material diária, mas algo que vai além dela, algo que alimenta também a nossa alma e se torna penhor de vida eterna – a Sagrada Eucaristia.
Assim, esta petição tem um sentido especificamente cristão. O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 593 refere: “Porque «o homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt., 4, 4), este pedido refere-se igualmente à fome da Palavra de Deus e à do Corpo de Cristo recebido na Eucaristia, bem como à fome do Espírito Santo. Pedimo-Lo, com uma confiança absoluta, para hoje, o hoje de Deus, o qual nos é dado sobretudo na Eucaristia que antecipa o banquete do reino que há-de vir”.
Pe. José Mario Mandía