TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (218)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (218)

Como o Oitavo Mandamento se aplica à media e à arte?

Vimos que o Oitavo Mandamento não exige apenas que vivamos pela verdade, mas também pela caridade. Porquê? Porque a caridade é o maior dos Mandamentos. «Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo» (Efésios 4, 15). Ouvimos um exemplo comovente da verdade e do amor do Senhor enquanto estava pendurado na cruz: «Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem» (Lucas 23, 34). Sim, Jesus declara que eles pecaram. Deus é justo. Mas o Amor de Deus é maior.

Este Mandamento é especialmente relevante nos nossos tempos, não apenas para quem trabalha nos Meios de Comunicação Social, mas para quem usa as redes sociais. Todos nós, que usamos as redes sociais, devemos reflectir sobre o que diz o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC), no ponto 525: “A informação mediática deve estar ao serviço do bem comum, ser sempre verdadeira no conteúdo e, salva a justiça e a caridade, deve ser também íntegra. Além disso deve expressar-se em modo honesto e conveniente, respeitando escrupulosamente as leis morais, os direitos legítimos e a dignidade da pessoa”.

Na Mensagem do Papa Francisco para o 57.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, é-nos recordado como podemos agir com justiça e caridade: “Jesus chama-nos a atenção de que cada árvore se conhece pelo seu fruto (cf. Lc., 6, 44). De igual modo «o homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro, tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração» (6, 45). Por conseguinte, para se poder comunicar testemunhando a verdade no amor, é preciso purificar o próprio coração”.

Há mais um aspecto da vida humana que o Oitavo Mandamento abrange: a Beleza e a Arte Sacra.

Vimos nos textos 30 e 31 de FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ que “ser”, “verdade”, “bem” e “beleza” são um só ou a mesma coisa (embora para a nossa mente – conceitualmente falando – não seja a mesma coisa). Tudo o que existe é verdadeiro, bom e belo. Se temos o dever moral de buscar a verdade e o bem, também temos o dever moral de buscar o belo.

“A verdade é bela por si mesma. Ela comporta o esplendor da beleza espiritual. Além da palavra, existem numerosas formas de expressão da verdade, em especial as obras artísticas. São o fruto do talento dado por Deus e do esforço do homem. A arte sacra, para ser verdadeira e bela, deve evocar e glorificar o Mistério de Deus revelado em Cristo e conduzir à adoração e ao amor de Deus Criador e Salvador, Beleza excelsa de Verdade e de Amor” (CCIC nº 526).

Esta busca pela beleza é um desafio para o nosso tempo, que se denomina de “era da pós-verdade” (ver FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ nº 56 – “A verdade ainda importa?”). A mentalidade pós-verdade e pós-beleza infiltrou-se em algumas “artes sagradas modernas”. Encontramos imagens do Senhor ou dos santos que estão mutiladas, para além de alguma música tocada nas igrejas ser mais adequada para uma festa dançante.

O então cardeal D. Joseph Ratzinger (mais tarde, Papa Bento XVI) explicou na mensagem que proferiu no tradicional encontro de Comunhão e Libertação, realizado em Rimini, entre 24 e 30 de Agosto de 2002: “Assim é que hoje a arte cristã está presa entre dois fogos (talvez sempre tenha estado): deve opor-se ao culto do feio, que diz que tudo que é belo é um engano e só a representação do que é bruto, baixo e vulgar é a verdade, a verdadeira iluminação do conhecimento. Ou tem que contrariar a beleza enganadora que faz o ser humano parecer diminuído em vez de o tornar grande, e por isso é falsa”.

Segundo ele, “existe alguém que não conheça a frase, frequentemente citada de Dostoiévski: ‘O Belo nos salvará’? No entanto, as pessoas costumam esquecer que Dostoiévski se refere à beleza redentora de Cristo. Devemos aprender a vê-Lo. Se o conhecermos, não apenas em palavras, mas se formos atingidos pela flecha da sua beleza paradoxal, então o conheceremos verdadeiramente, e o conheceremos não apenas porque dele ouvimos outros falarem. Então teremos encontrado a beleza da Verdade, da Verdade que redime. Nada pode aproximar-nos da beleza do próprio Cristo senão o mundo de beleza criado pela fé e a luz que resplandece no rosto dos santos, através dos quais se torna visível a sua própria luz”.

Pe. José Mario Mandía

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