Quão graves são as obrigações enunciadas no Decálogo?
O Decálogo enuncia alguns (1) deveres graves e também (2) algumas obrigações que são leves por natureza, mas que também podem ser graves, dependendo da intenção ou motivo do executante e das circunstâncias (cf. TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ 178-180). Estes pontos são explicados no Catecismo da Igreja Católica (CIC).
“Uma vez que exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, os Dez Mandamentos revelam, no seu conteúdo primordial, obrigações graves. São basicamente imutáveis e a sua obrigação impõe-se sempre e em toda a parte. Ninguém pode dispensar-se dela. Os Dez Mandamentos foram gravados por Deus no coração do ser humano” (CIC nº 2072).
“Mas a obediência aos mandamentos também implica obrigações cuja matéria, em si mesma, é leve. Assim, a injúria por palavras é proibida pelo quinto mandamento, mas só poderá ser falta grave em razão das circunstâncias ou da intenção de quem a profere” (CIC nº 2073).
PECADOS QUE BRADAM AO CÉU –Refere o Catecismo da Igreja Católica, no ponto 1867, que “a tradição catequética lembra também a existência de «pecados que bradam ao céu». Bradam ao céu: o sangue de Abel (1); o pecado dos sodomitas (2); o clamor do povo oprimido no Egipto (3); o lamento do estrangeiro, da viúva e do órfão, e a injustiça para com o assalariado (4)”.
(1) O “sangue de Abel” refere-se ao assassinato de vidas inocentes, por meio de homicídio, infanticídio (incluindo o aborto), fratricídio, parricídio e de matricídio (cf. CIC nº 2268). «Exclamou o SENHOR: “Que fizeste? Ouve! Da terra, o sangue do teu irmão clama a mim”» (Génesis 4, 10).
(2) O “pecado dos sodomitas” (cf. Génesis 18, 20-21) refere-se a actos sexuais não procriativos (sodomia). A Carta de Judas lembra que «de maneira semelhante a estes, Sodoma e Gomorra e as cidades circunvizinhas entregaram-se à imoralidade e a todo tipo de depravação sexual. Estando sob o castigo do fogo eterno, essas cidades nos servem de exemplo» (Judas 1:7).
(3) O “clamor do povo oprimido no Egipto” refere-se à opressão dos pobres. «Não maltratareis nem oprimireis nenhum estrangeiro, pois vós mesmos fostes estrangeiros nas terras do Egipto. Não prejudicareis as viúvas nem os órfãos; porquanto se assim procederdes, e eles clamarem a mim, Eu certamente atenderei ao seu clamor. Minha ira se acenderá e vos farei perecer por espada: vossas mulheres se tornarão viúvas e vossos filhos, órfãos» (Êxodo 22:21-24).
(4) O “lamento do estrangeiro, da viúva e do órfão, e a injustiça para com o assalariado” refere-se à passagem da Bíblia, em Deuteronómio 24, 14-15; e Tiago 5, 4, estando em foco a exploração dos trabalhadores, uma realidade, infelizmente, ainda tão actual: «Não oprimas um assalariado pobre, necessitado, seja ele um dos teus irmãos ou um estrangeiro que mora em tua terra, em tua cidade. Tu lhe pagarás o salário a cada dia, antes que o sol se ponha, porque ele é pobre e disso depende sua vida. Desse modo, ele não clamará a Yahweh contra ti, e em ti não haverá pecado» (Deuteronómio 24, 14-15); «Eis que clama o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, que retiveste com fraude; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor dos Exércitos» (Tiago 5, 4).
TAREFA HUMANAMENTE IMPOSSÍVEL –O objectivo da vida cristã está muito para além do alcance da nossa natureza ferida. As exigências são extremas. Isto porque o amor com que Deus nos amou é extravagante; e é extremo. Portanto, a resposta teria que ser igualmente extrema. Do ponto de vista humano, é um sonho impossível. É por isso que Jesus Cristo nos ensina que devemos contar com Ele e com a Sua graça. «Sem mim não podeis realizar obra alguma» (João 15:5). «Para o homem isso é impossível; todavia, não para o Senhor. Pois para Deus tudo é possível!» (Marcos 10:27).
Os nossos recursos são limitados. O próprio Deus vem em nosso socorro e emprestamos os mesmos recursos de que precisamos. Onde podemos encontrar esses recursos? Nos Sacramentos e na oração. Se quisermos ser fiéis aos Mandamentos do Senhor, precisamos recebê-los com frequência na Sagrada Comunhão e pedir o Seu perdão e a graça com frequência na Confissão. Também precisamos de implorar constantemente pela Sua ajuda na oração. É por isso que Santo Agostinho diz que somos “mendigos diários, devedores diários” (“cotidie petitores, cotidie debitores”).
Pe. José Mario Mandía