Frutos da conversão adornam o nosso Advento
Enquanto os enfeites natalinos já iluminam a nossa cidade, a figura severa de João Baptista no Evangelho deste Domingo (Mt., 3, 1-12) ajuda-nos a não cair na armadilha do consumismo, ao equiparar Natal a gastos: «Arrependei-vos, porque o Reino dos céus está próximo. […]Produzi, sim, frutos que mostrem vosso arrependimento!».
“Arrependimento”, que é a tradução da palavra original grega “Metanoia”, a qual significa “ir para além da nossa mente/intelecto”, ou seja, ir para além da forma como costumamos ver e percepcionar a realidade. O caminho espiritual exterior do Advento (oração, retiros de silêncio, meditação da Palavra, novenas, sacramento da reconciliação) deve idealmente levar-nos a uma renovação interior que, por sua vez, pode ajudar a nossa vida a estar mais alinhada com os valores da vinda do “Reino dos céus”.
Nos últimos dias, tive duas pequenas, mas significativas, experiências de conversão, no sentido “metanoia”. A primeira foi entender o quão errado foi o meu julgamento sobre uma determinada pessoa, depois de ouvir o que essa pessoa me revelou sobre a sua própria vida. A outra, foi ver, claramente, o meu orgulho a se desmoronar depois de cometer um erro e assim viver uma sensação de fracasso. Estas experiências humilhantes expuseram tanto a minha estupidez quanto a minha arrogância: um sentimento desconfortável que explica por que resistimos tão ferozmente à conversão.
Eventos que desencadeiam “metanoia” geralmente “acontecem” connosco, ao invés de os irmos procurar! Mas a inquietação inicial abriu caminho para uma maior clareza interior, para uma forma mais saudável de lidar comigo mesmo e com os outros; uma forma concreta de sentir o reino de Deus concretamente a “chegar” ao meu coração.
Temos experiências semelhantes durante todo o ano, mas o Advento é o tempo litúrgico especial em que aprendemos o “método” através do qual podemos discernir os caminhos de Deus para “fazer-se carne” nos eventos históricos da nossa complexa história humana. Quando nos colocamos a nós mesmos e os nossos sentimentos no centro de tudo, e agimos apenas para defendermos o nosso sentido de segurança, não deixamos espaço para a vinda de Deus. Podemos parecer pessoas muito religiosas, mas, como os fariseus e saduceus repreendidos por João, não aceitamos a intervenção de Deus nas nossas vidas.
«Eu, em verdade, vos baptizo com água, para arrependimento; mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele vos baptizará com o Espírito Santo e com fogo» (Mt., 3, 11).
Ao contrário, do alto do seu ascetismo monolítico e da sua integridade moral, surpreendentemente, João revelou uma abertura humilde que será decisiva para que Jesus inicie o Seu ministério e Se revele como o Messias, embora com um estilo bem diferente do de João.
Da mesma forma, no Evangelho da Solenidade da Imaculada Conceição (Lc., 1, 26-38) leremos sobre a vontade de Maria de rever as suas escolhas de vida à luz do convite de Deus para se tornar a Mãe de Jesus. Ela, que estava sem a mancha do pecado original, não precisava de “conversão” no sentido de arrependimento do pecado. Contudo, precisava de passar pelo processo de fé de adaptar a sua mente e o seu coração a um plano que ia para além de sua compreensão.
Uma atitude de escuta no silêncio das nossas almas, longe do ruído do nosso quotidiano, capaz de abrir mão da própria segurança para fazer escolhas que ultrapassem o nosso próprio interesse; a fé em Deus diante das incertezas… são os frutos das conversões que devem adornar o nosso Advento em preparação para o Natal.
Originalmente, as bolas e as luzes nas árvores de Natal simbolizavam a esperança de que a natureza venceria o frio e a escuridão do Inverno e produziria novamente frutas e colheitas para a nossa alimentação. Que esses frutos de conversão também tragam esperança e luz a um mundo que ainda vive um profundo inverno moral.
Pe. Paolo Consonni, MCCJ