TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (197)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (197)

Onde estão as raízes dos nossos pecados?

Os pecados capitais ou vícios capitais são como que a fonte ou raiz de outros pecados e vícios. São Tomás prefere denominá-los de “vícios”, porque não são actos, como são os pecados, mas sim hábitos – maus hábitos!

Por isso, estes opõem-se às virtudes, que são bons hábitos! Seguindo São João Cassiano e São Gregório Magno, tornou-se costume classificá-los da seguinte forma (cf. Catecismo da Igreja Católica nº 1866): (1) orgulho ou vanglória; (2) avareza ou ganância; (3) luxúria; (4) inveja; (5) gula; (6) raiva ou ódio; (7) preguiça ou assédio.

São Tomás, no entanto, exclui o orgulho da lista porque diz ele que o orgulho é a raiz de todo o pecado. Neste contexto, cita Sirá (Eclesiástico 10, 15): «O orgulho é o começo de todo pecado». Deste modo, São Tomás lista a vanglória como o primeiro dos sete pecados.

Se os examinarmos, descobriremos que estão relacionados com as três concupiscências de que fala São João: «a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida» (I João 2, 16). A concupiscência da carne dá origem à luxúria e à gula; a concupiscência dos olhos à avareza e à preguiça; a soberba da vida à vanglória, à inveja e à ira.

O orgulho, nos termos de São Tomás, é um desejo desordenado pela excelência. Significa que existe algo que é desejo ordenado pela excelência. Na verdade, Deus quer que sejamos santos, que sejamos como Ele, e este é um desejo muito adentro da ordem que Deus planejou. Torna-se desordenado quando desejamos excelência sem Deus. No entanto, tudo o que temos vem de Deus, logo, no final, um homem orgulhoso acaba no vazio. Recorda-nos as palavras de São Paulo aos Coríntios: «O que tens que não tenhas recebido? E, se o recebeste, então qual o motivo do teu orgulho, como se não o tiveras ganho?» (I Coríntios 4, 7).

Há um óptimo livrinho, que costumo ler uma vez por ano: “Os Sete Pecados Capitais”. Explica esta obra que “o orgulho é o maior dos pecados porque é o ápice do amor próprio e se opõe directamente à submissão a Deus. É, portanto, o pecado mais odiado por Deus e aquele que Ele pune com mais severidade. O orgulho também é o maior pecado porque é a fonte do amor-próprio no qual todos os outros pecados se enraízam: «O orgulho é a origem de todo o mal» (Tobias 4, 14)”.

É o orgulho que nos faz desejar sermos notados pelos outros, sermos apreciados e elogiados. O orgulho deixa-nos sensíveis, leva-nos à vaidade. O orgulho torna-nos intolerantes para com as opiniões dos outros, arrogantes, críticos, imprudentes e agressivos. Deixa-nos ressentidos ou desconfiados dos outros, amplia as mágoas que recebemos e nutre os rancores que temos contra os outros. O orgulho faz-nos querer controlar todas as situações e faz-nos insistir para que tudo seja feito conforme a nossa vontade. O orgulho pode tornar um homem demasiado escrupuloso em relação a matérias minuciosas, enquanto muito negligente quanto a assuntos de facto mais importantes. Nomeie o leitor um qualquer pecado e verá que nele encontrará orgulho.

O que fazer? Antes de tudo, devemos rezar ao Espírito Santo e pedir que nos ilumine com a sua luz. Peçamos-lhe que nos mostre a verdade. Uma vez perguntaram a São Josemaría Escrivá: «– Como sei que por meio da minha oração falo com Deus?». Respondeu: «– Se vós virdes as sombras em vossa vida». Quando estamos diante de Deus, que é Verdade e Luz, imediatamente vemos o que há de errado connosco e a nossa própria justiça derrete-se sob o Seu olhar. Santa Teresa de Ávila ensinou que a humildade é simplesmente a verdade – conhecendo-nos a nós mesmos, conhecemos Deus. Por isso, Santo Agostinho rezava: “Noverim me, noverim te” – “deixa-me conhecer-me, deixa-me conhecer-Te”.

Em segundo lugar, meditemos no exemplo de Jesus Cristo, manso e humilde de coração. Em Belém, no Calvário, no Santíssimo Sacramento, as Suas acções só falam de humildade e amor. Sem queixas, sem desejos de vingança, apenas perdão.

Terceiro, aproveitemos as humilhações, porque elas são o caminho para a humildade. Podemos ser humilhados por certas situações ou eventos, ou por pessoas. Deus fala connosco por meio desses eventos.

Quarto, frequentemente procuramos o perdão de Jesus, especialmente através do Sacramento da Reconciliação. Ajoelharmo-nos e pedirmos perdão é um acto de humildade, e a humildade atrai a graça.

Concluamos com a oração escrita pelo cardeal D. Rafael Merry del Val (1865-1930), Secretário de Estado do Papa São Pio X:

“Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me.

Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus.

Do desejo de ser amado, livrai-me, ó Jesus.

Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus.

Do desejo de ser honrado, livrai-me, ó Jesus.

Do desejo de ser louvado, livrai-me, ó Jesus.

Do desejo de ser preferido, livrai-me, ó Jesus.

Do desejo de ser consultado, livrai-me, ó Jesus.

Do desejo de ser aprovado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser esquecido, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser ridicularizado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser difamado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser objecto de suspeita, livrai-me, ó Jesus.

Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus,

dai-me a graça de desejá-lo.

Que os outros sejam estimados mais do que eu,

Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo,

e que eu possa ser diminuído,

Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado,

Que os outros possam ser louvados e eu desprezado,

Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas,

Que os outros possam ser mais santos do que eu,

embora me torne o mais santo quanto me for possível,

Jesus, dai-me a graça de desejá-lo”.

Pe. José Mario Mandía

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