Redescobrir o Natal é motivo de esperança

TEMPOS DE INCERTEZA

Redescobrir o Natal é motivo de esperança

Estamo-nos a preparar para celebrar um milagre no dia de Natal – o milagre da Encarnação, Deus que se torna homem. Um evento que ocorreu há cerca de dois mil anos, mas que a cada ano esperamos celebrá-lo da forma mais incrível na nossa Igreja Católica. Durante as missas do Advento, ouvimos belas leituras das Escrituras nas quais vale a pena meditar, pois profetizam a vinda de Jesus. O Presépio é por estes dias montado nos principais parques, jardins e praças de Macau, de modo a nos lembrar este acontecimento. Nas nossas paróquias e em algumas das nossas casas, expomos a Coroa do Advento, na qual acendemos uma vela em cada uma das quatro semanas do Advento, como se de uma contagem decrescente se tratasse. Portanto, mesmo durante estes anos difíceis de pandemia, as crianças andaram animadas com a chegada do Natal e tenho certeza de que – mesmo nestes tempos, ainda hoje difíceis – faremos todos os preparativos para voltar a torná-lo um momento especial para as crianças.

Com efeito, o Advento é tempo de espera, expectativa e esperança. Este ano, estamos todos à espera e a torcer pelo fim da pandemia de Covid-19. Aguardamos e esperamos que o período obrigatório de quarentena se torne mais curto para quem chega a Macau. Aguardamos com esperança o retorno à vida normal, para não termos que nos preocupar se ou quando vamos ficar novamente confinados. Queremos, pois, voltar a poder viajar livremente. Aguardamos com alegria a chegada da vida normal que costumávamos ter. Estamos ansiosos por poder sair de casa, tomar uma refeição e fazer compras sem os protocolos de saúde que nos são actualmente exigidos e sem a preocupação de contrairmos o vírus. Estamos ansiosos por participar em eventos desportivos, desfrutando de estádios cheios. Esperamos continuar com as aulas presenciais nas nossas escolas, sem nos preocuparmos em ter que recorrer a aulas virtuais. Por último, mas não menos importante, esperamos que os estrangeiros possam visitar os entes queridos nos seus países de origem.

Até ao momento, de acordo com o “Our World in Data”, 68,2 por cento da população mundial recebeu, pelo menos, uma dose de uma das vacinas contra o Covid-19, e perto de 13 mil milhões de doses foram já administradas em todo o mundo. Acreditamos que esta vacina irá ajudar-nos a manter as comunidades seguras e a recuperarmos a economia, para além de possibilitar a reabertura das escolas em todo o mundo, concedendo toda a liberdade às crianças para brincarem sem restrições. Claro está que quando a vida voltar ao normal, não será o fim das doenças e do sofrimento. Não será o fim da solidão e do isolamento, que tantas vidas afectam. As tristezas da vida não vão desaparecer.

Não será a produção de uma vacina – sempre uma conquista incrível da Ciência, pela qual esperamos e rezamos – que nos trará paz ao mundo. Por mais maravilhosa que seja, uma vacina não vai erradicar as doenças do espírito que fazem parte da nossa vida neste vale de lágrimas. Não erradicará o pecado e a injustiça. Uma vacina não trará a vida eterna. Não nos vacinará contra o pecado e a morte.No fundo, ainda continuaremos a sentir um desejo de algo maior, um desejo de felicidade sem fim, um desejo de alegria, paz e amor. Em uma palavra, ansiamos pela salvação, ansiamos por Deus. Sem Ele, não temos a esperança final e não encontraremos alegria e paz. Sem Ele, passamos pela vida como se esta fosse apenas uma jornada para a morte. Com Ele, percorremos a vida como o caminho rumo à plenitude da vida.

Na igreja de São Lourenço podemos encontrar a seguinte inscrição: “Sim, em Macau, ainda estamos limitados no que podemos fazer. Pode até sentir como se tivesse perdido o controlo. Essa é uma reacção muito natural nestes tempos sem precedentes. Recentemente, temos muito tempo para descansar, mas o descanso não é bom apenas para a nossa saúde física. É bom para a nossa saúde espiritual e emocional também” (tradução do Inglês para Português).

No Advento, encontramos descanso e espera. É um tempo que nos chama a intensificar a nossa oração, de modo a acolhermos o Senhor nas nossas vidas, em toda a plenitude. Devemos estar vigilantes, em oração, para a vinda do Senhor, ao mesmo tempo que nos preparamos para O receber; ele que vem para nos mostrar a Sua misericórdia e nos conceder a Sua salvação. Ao nos prepararmos para comemorar a vinda de Cristo no Natal, e enquanto aguardamos o Seu glorioso retorno, reconhecemos que Ele vem… agora! Quando Jesus ascendeu ao céu, não nos deixou aqui sozinhos. Ele vem até nós com a graça dos Sacramentos. Como afirmou um nosso fiel, pessoa assídua nas missas da Sé Catedral: «Não sei se chegaremos ao fim desta pandemia de Covid e continuaremos com a nossa fé “inabalável”. No entanto, a minha oração faz com que sejamos sempre consolados pela nossa fé, mesmo enquanto sofremos. Isto torna a época do Advento realmente significativa; aprendemos a esperar na esperança de que o Deus da promessa virá».

Jesus, que um dia veio para o meio de nós no Natal, e que voltará glorioso no fim dos tempos, ainda assim retorna constantemente a nós, por meio dos acontecimentos das nossas vidas. Ele está sempre perto de nós. Ele acompanha-nos em todas as situações: nas alegrias e nas tristezas, na saúde e na doença. Ele está sempre perto de nós. E Ele nos deu a Sua Mãe para também nos acompanhar. No Advento, celebramos a sua Imaculada Conceição. Nesta época de esperança, a Ela recorramos, nossa Mãe da Esperança, a fim de nos guiar. No seu coração e no seu ventre deu à luz o Filho de Deus Encarnado. Ela a Ele nos conduz. Maria, nossa Mãe, encoraja-nos e ampara-nos com o seu amor e as suas orações, enquanto esperamos a vinda do seu Filho. Sim, o Advento pode ser um tempo longo – miserável até, se não tivermos esperança. Mas com esperança podemos vivê-lo, aceitando que sofremos, pois temos a certeza da concretização de uma promessa: a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. A Sua vinda é suficiente para justificar a nossa ansiedade, a nossa esperança e a nossa perseverança em tempos difíceis.

Pe. Leonard Dollentas

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