TEMPO DO ADVENTO – IV

TEMPO DO ADVENTO – IV

Reconciliação com Deus e os homens

Iniciado nas vésperas do Domingo mais próximo ao 30 de Novembro, o Advento de 2024 começou no dia 1 de Dezembro e terminará antes das vésperas do Natal. Estamos prestes ao IV Domingo (22 Dezembro), o Natal está quase aí. Os dias 16 a 24 de Dezembro são a Novena de Natal, período para preparar as Festas natalícias. Como já vimos, o Advento pode ser dividido em dois períodos. O primeiro decorre entre o Primeiro Domingo do Advento e o dia 16 de Dezembro. Predomina a dimensão escatológica, a espera da vinda gloriosa de Cristo. No segundo período, que vai de 17 até 24 de Dezembro, inclusive, orienta-se mais directamente para a preparação do Natal.

Depois, vem o Tempo do Natal. Este vai da véspera do Natal até ao Domingo (13 de Janeiro), após a Festa da Epifania (6 de Janeiro), em que se comemora o Baptismo de Jesus. No ciclo do Natal são celebradas as Festas da Sagrada Família, de Maria, Mãe de Jesus, da Epifania do Senhor e do Baptismo de Jesus.

Regressando ao Advento, nesta terceira semana de prenúncio da alegria messiânica, pois já está cada vez mais próximo o dia da vinda do Senhor, eis que finalmente chegaremos à quarta semana, do advento do Filho de Deus ao mundo. Maria é figura central, sendo que a sua espera é modelo e estímulo da nossa espera. Com efeito, o IV Domingo é, assim, o do anúncio do nascimento de Jesus feito a José e a Maria. As leituras e a pregação centram-se na Virgem Maria, diante do anúncio do nascimento do seu Filho, convidando os fiéis a “aprender com Maria e a aceitar a Cristo como a Luz do Mundo”. A proximidade do Natal é tempo de reconciliação com Deus e os homens, ficando-se à espera da grande Festa, em harmonia, família, fraternidade e alegria. Esses são os princípios da vivência da Festa do Natal. Acende-se então a quarta vela, roxa, da Coroa do Advento. Esta última vela acesa no último Domingo do Advento, aquele que antecede o Natal, representa os ensinamentos dos profetas que anunciaram um Reino de paz e de justiça. A vela pode ser branca (esta cor é mais comum na “quinta vela”, acesa no dia de Natal), porque é o símbolo da paz e justiça de Jesus., conforme anunciaram os profetas, com a vinda do Messias, com o Seu reino de paz, verdade, justiça, liberdade, amor e santidade.

Temos, pois, no IV Domingo do Advento, toda uma liturgia orientada para o nascimento do Senhor, que vem simples, humilde, despojado e pobre, mas Rei e Senhor.

Nas muitas tradições do Advento destacam-se, para além dos já referidos Calendário e Coroa do Advento, o Presépio e a Novena do Menino. A coroa (ou guirlanda) tem forma circular (o círculo simboliza a eterna aliança de Deus com a humanidade), com ramos verdes (a esperança) e uma fita vermelha (o testemunho de fé e o amor de Deus). A tradição remonta a 1839, tendo surgido numa igreja protestante de Hamburgo, sendo muito usual na Alemanha e nos Países Nórdicos. O pastor evangélico luterano Johann Heinrich Wichern (1808-1881), que construíra uma casa para abrigar crianças pobres, resolveu recolher vinte velas pequenas, uma por dia, e quatro grandes, uma para cada Domingo que antecede o Natal, fazendo assim com que as crianças soubessem quanto tempo faltava. Actualmente, só se usam quatro velas e a coroa é feita, por regra, de ramos de pinheiro e decorada com fitas e luzes. Estas velas são geralmente roxas, podendo a terceira ser cor-de-rosa. A primeira é a vela da esperança, a segunda a da paz, a terceira a da alegria e a quarta a do amor. Algumas tradições acrescentam uma quinta vela, branca, que se acende em dia de Natal. São colocadas num lugar bem visível, junto do Presépio ou do ambão.

Depois temos o Presépio, que é uma das mais significativas e antigas tradições do Advento. Há quem o faça no Primeiro Domingo e há quem espere pelo dia 8 de Dezembro. Muitos acham que a sua montagem deva suceder de forma gradual, para que o Menino Jesus apenas seja colocado na Noite de Natal. O Presépio mantém-se até ao dia de Reis (6 de Janeiro) e, em algumas tradições, até à Apresentação do Senhor no Templo (2 de Fevereiro).

Também antiga e comum é a “Novena do Menino”, uma forma de renovar a esperança, de aumentar a proximidade com Deus e de fortalecer o espírito para viver o Natal. A Novena do Menino Jesus era composta por Invitatório, Invocação ao Divino Espírito Santo, Ladainha de Nossa Senhora, Antífona, e Jaculatórias ao Menino Jesus, num esquema muito idêntico ao seguido pelas Missas do Parto, desde pelo menos o Século XVIII.

Nas ilhas da Madeira e Porto Santo são famosas as mesmas Missas do Parto, uma devoção mariana que comemora a gravidez da Virgem Maria, na figura de Nossa Senhora do Ó, ou Virgem do Parto. Celebradas de madrugada, contam com grande afluxo de fiéis, porque além da dimensão religiosa apresentam um lado lúdico e recreativo. No fim da Missa, todos se reúnem no adro da Igreja, partilhando comida e bebida, cantando e tocando instrumentos tradicionais. Têm uma antiguidade que remonta aos primeiros tempos de ocupação humana das ilhas da Madeira e de Porto Santo (segunda metade do Século XV). Celebram-se nove dias antes do Natal, dado que as celebrações recordam os nove meses de gravidez de Maria. A associação destas Missas do Parto com a devoção de Nossa Senhora da Expectação, ou do Ó, é notória. Relembre-se que as antífonas do Ó são cantadas entre os dias 17 e 23 de Dezembro, antes do cântico evangélico do Magnificat nas vésperas. A tradição das Missas do Parto foi introduzida pelos frades franciscanos que chegaram com os primeiros povoadores, a partir de meados do Século XV, numa espiritualidade popular e afectiva própria daquela ordem mendicante.

Entretanto, uma nova tradição, antiga e frequente na Europa do Norte e Central, começa a tornar-se comum em Portugal: o Mercado de Natal. É como que uma feira ou evento cultural, celebrativo, com gastronomia, artesanato natalício e diversões para os mais novos (carrosséis, pistas de gelo, circo). Todavia, são muitas vezes mais uma das formas consumistas que tomaram conta do Natal, de promoção turística e comercial, com animação, de facto, mas mais profanos e mundanos do que cristãos. Um Feliz e Santo Natal!

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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