A vela principal já está metida no mastro e na retranca, depois de ter sido remendada e reforçada em algumas zonas. Levou-se quase uma semana de trabalho, mas valeu a pena. Poupámos umas centenas de dólares que podem ser usados para resolver outros assuntos.
Depois da vela, como programado, concentrei-me no motor, mais propriamente na bomba que puxa o gasóleo do tanque para o motor. Entre a bomba e o tanque (este apenas fica acessível se se desmontar metade do barco) não existe qualquer filtro, pelo que toda a sujidade que se encontra acumulada na parte inferior do tanque passa pela bomba. Quando a abri havia mais borra e detritos do que combustível. Para tentar evitar que tanta sujidade chegue aos filtros que estão entre a bomba e o motor, terei de proceder à limpeza do tanque. Espero que possa contribuir para poupar um pouco a bomba e assim diminuir a utilização dos filtros. Já tinha pensado em proceder à limpeza do tanque, mas está instalado num local mais baixo do que o motor e o armário da cozinha encontra-se por cima. Vou ter de retirar metade do armário e desmontar o gerador, tarefa que não é fácil. O nosso amigo José, do veleiro Joly Breeze, está aqui no ancoradouro e ofereceu ajuda. Demos guarida à sua mulher durante alguns dias, enquanto ele velejava a solo de Grenada para Curaçao.
Entretanto, quando este artigo for publicado já devo ter regressado de Caracas com a Maria, esperando que o passaporte seja renovado. Durante a ida à Venezuela vou tentar convencer os nossos diplomatas a enviarem o documento por correio rápido, para o nosso endereço em Curaçao. Caso não cooperem terei de voltar à capital venezuelana para o levantar, o que significa mais uma despesa extra. O facto de Portugal não proceder à renovação dos passaportes por correio tem sido um dos grandes entraves da nossa viagem. Há dois anos fomos obrigados a ir a Nova Iorque, agora foi a vez de Caracas. Quando formos para o Pacífico a escassez de representações diplomáticas ainda será maior… Sinceramente não se entende porque insistem na presença do cidadão para a recolha dos dados biométricos quando em outros países europeus permitem o processamento por correio.
No último encontro que tive com o cônsul honorário de Portugal em Curaçao ficou combinado que irá ser organizado um convívio com a comunidade portuguesa num dos restaurantes portugueses aqui da ilha. Ainda não sabemos qual será a data nem o local, mas estamos ansiosos por conhecer mais pessoas da comunidade e poder falar da nossa viagem e da celebração dos 500 Anos da Chegada dos Portugueses à China, à semelhança do que fizemos quando estivemos nos Estados Unidos.
No passado fim-de-semana tivemos a oportunidade de visitar uma das praias da ilha e por lá ficámos o dia todo, tendo a Maria feito amizade com uma menina holandesa da sua idade. Foi com prazer que tanto nós como os pais da menina, que estavam de férias, vimos as duas pequenas a brincar. Passaram grande parte do dia na água, enquanto os adultos se iam revezando entre a praia e a vigilância das crianças. Eu, em permeio, ainda tive a sorte de ver o jogo de Portugal frente à Croácia.
A praia em si é muito diferente do que estamos habituados em Macau, na Ásia, ou mesmo na Europa. Devido ao facto de toda a costa de Curaçao, nesta zona, ser fustigada pelos ventos alísios, as praias estão protegidas por um quebra-mar, o que faz com que o mar fique parecido com uma piscina de água salgada. Sinceramente, não ficámos convencidos, pois gostamos de praias com ondulação, mas a verdade é que para as crianças é o paraíso. Com água quente, sem ondulação e uma extensão razoável de água baixa, podem passar horas e horas a brincar sem grande preocupação para os pais. A Maria e a amiga Zoe quase que tiveram de ser arrastadas para fora da água quando chegou a hora de ir embora.
Nesta praia pouco convencional há também uma enorme zona comercial com bares, restaurantes e diversos hotéis. É uma espécie de centro comercial com praia que, surpreendentemente, faz as delícias dos holandeses e também dos sul-americanos, especialmente dos venezuelanos endinheirados que para aqui vêm aos milhares.
Foi a nossa primeira experiência de praia em Curaçao e pelo que nos apercebemos parece que são todas semelhantes neste lado da costa. Se houver oportunidade nas próximas semanas iremos ver se encontramos forma de ir à outra costa de transporte público, para saber como são as praias. Outra das curiosidades que descobrimos foi que em todas, ou quase todas, é necessário pagar entrada ou, quando não se tem de pagar ingresso, pagar pela cadeira de praia. Não é permitido simplesmente estender a toalha na areia!
A ilha de Curaçao não é um local caro em termos de custo de vida, mas se quisermos desfrutar dos tempos livres é preciso abrir os cordões à bolsa. Sendo eu natural de uma vila com praia de livre acesso em Portugal, e a NaE de um país onde as praias paradisíacas abundam, faz-nos um pouco de confusão como é que quem aqui vive, ou vem de férias, ainda tem de pagar para se deitar na areia e tomar banho na água do mar.
JOÃO SANTOS GOMES